Para começar, vamos abordar o facto de, enquanto adolescente, estar a escrever sobre isto e a alta probabilidade de os pais que me estiverem a ler, se questionarem sobre a credibilidade desta crónica.
Mas é mesmo essa a razão, de eu ter a idade que tenho, que me leva a querer debater sobre o assunto. Muitas discussões entre pais e filhos devem-se simplesmente, a uma falta de entendimento entre os dois lados. Prometo então tentar explicar a minha perspetiva, tendo sempre o cuidado de perceber também a perspetiva dos pais, de modo a alcançar um meio-termo que nos ajude a todos a lidar com esta questão.
Espero que não estejam à espera de encontrar aqui uma resposta mágica que resolva todos os problemas que este tema vos tem trazido. Eu não vos vou entregar a fórmula perfeita, para a quantidade de liberdade por que a maior parte dos adolescentes anseia e que os pais muitas vezes se sentem relutantes em permitir. Porque a verdade é que ela não existe. A resposta vai variar tanto, quanto os diferentes tipos de adolescente que têm em casa. Cada caso é um caso. Com tantas personalidades, idades e situações diferentes a considerar, penso que encontrar uma solução única para esta questão seja uma tarefa impossível.
A verdade é que, na maior parte dos casos, os pais têm tendência a subestimar a preparação dos adolescentes para aguentar com certas responsabilidades e os filhos a sobrestimar a sua capacidade de gerir certos privilégios. Tudo isto gira à volta da noção de “Liberdade é Responsabilidade”.
Claro que existem adolescentes menos problemáticos, que não sentem tanta necessidade de independência e assim temos pais que se safam da tensão, que esta discórdia pode causar. A minha mãe, por exemplo, todos os dias, se chora do quanto queria um filho assim. Eu choro também, porque é igualmente verdade que há pais, mais descontraídos que os meus, nos limites que decidem colocar e desespero, quando ela me liga incessantemente, porque são horas de ir para casa!
Por mais liberdade que a minha mãe me conceda, tenho que admitir que está na minha natureza como adolescente querer sempre mais e puxar a corda até ao limite. Mas infelizmente, ou talvez felizmente, está na dela retrair-se para me proteger. O pior é quando eu sinto que já tenho idade e maturidade suficiente para fazer algo e levo com um teimoso “NÃO” na testa. Daqueles que se cola, e independentemente da quantidade de saliva que gasto, não se quer descolar. É frustrante ser impedida de fazer algo que quero e que sei que posso, devido a uma decisão que NÃO se compreende.
É aqui que as discussões começam. E sabem que mais? Essa é a fórmula. Porque só com a dinâmica da discussão, de puxar/retrair, é que é possível chegar-se a um consenso que agrade ambos os lados. Faz parte de um processo saudável que os adolescentes têm que viver de modo a atingirem a idade adulta com vivências e experiências suficientes para que sejam considerados realmente adultos. O trabalho dos pais é guiar-nos durante esta fase, garantindo a nossa segurança com os seus teimosos “NÃOS” e ao mesmo tempo permitindo que sejamos nós a segurar no volante de vez em quando.
Qual é a medida certa de liberdade que se deve conceder a um adolescente?
Essa pergunta deve ser colocada ao seu adolescente. Não diretamente, mas através de tentativas, experiências, e se calhar, de muitas, muitas discussões. Observe como ele lida com a liberdade que lhe dá e a responsabilidade que ele revela ter com esta. Só assim irá surgir a resposta que procura.
Agora vou ter eu que ir discutir com a minha mãe, tenho uma festa a que quero ir. E mãe, se leres isto, pensa que alguém me vai perguntar se eu acabei por ir…. Não teria piada dizer que não!
Pois, mais um pequeno aviso, os adolescentes vão fazer de tudo para o persuadir a trocar esse “Não” por um “Sim”. Mantenha-se firme!
(Menos tu, mãe.)