Apresentou-se sorridente num programa de entretenimento da TVI.
Barba aparadinha, pose suave, fala escorreita e fatiota afeiçoada aos costumes e ditames civilizacionais, sem suásticas a descoberto.
O seu currículo criminal é conhecido, da posse ilegal de armas à violência racista continuada, com requintes pidescos. Por isso, esteve vários anos preso. Mas o discurso, esse, está mais aveludado, talvez por necessidades mediáticas, prudência jurídica ou aconselhamento médico.
Mário Machado pediu na televisão “dois ou três Salazares” e propõe-se ser um deles. Pretende uma Nova Ordem Social, talvez até a criação de um partido, e inspira-se, claro, nos “ventos de mudança” que sopram dos EUA e do Brasil. Entre referências à “honestidade” do ditador de Santa Comba e elogios ao seu papel na II Guerra Mundial, o antigo líder de um grupo extremista defensor da “supremacia branca” demorou pouco mais de uma dúzia de anos a reciclar as próprias convicções e adaptá-las ao sistema mediático, reduzindo as calorias. Antigo membro da Juventude Leonina, Mário Machado foi entrevistado na cadeia para a edição de 30 de novembro de 2007 do semanário Sol. Orgulhosamente só e sem açaime, criticava então Salazar por não ter apoiado a Alemanha nazi, inspirava-se em Hitler, considerava Cavaco honesto e poupava Santana Lopes à desanca generalizada da classe política.
Na TVI, revelou outra face: a de salazarista zen. Domesticado, simpático e delicodoce, capaz até de adaptar a narrativa do “Mein Kampf” para criancinhas enquanto leva ao lume a tal Nova Ordem Social. Aguarda-se agora a biografia e a app para telemóveis. Já faltou mais.
“Arquivo Morto” é uma crónica semanal com recurso a fotografias, documentos e recortes de Imprensa que preservam a memória de acontecimentos, protagonistas e factos esquecidos, fazendo a ponte para a atualidade.