À seleção que qualificou Portugal para o torneio olímpico de futebol dos Jogos Olímpicos podíamos exigir, com justiça, uma medalha. Ao conjunto de jogadores que o selecionador Rui Jorge conseguiu reunir, após as recusas dos principais clubes em cederem os seus melhores atletas, apenas se pode pedir que cumpra o mais puro dos ideais olímpicos: “o importante é competir”.
Há muito tempo que se percebia que isto ia acabar assim. De facto, não há nada que obrigue os clubes de futebol a permitir que os seus “assalariados” interrompam as suas “obrigações contratuais” para irem participar numa competição que a FIFA apenas tolera, mas não organiza nem acarinha – e onde, ao contrário do que sucede em Europeus e Mundiais, os recintos desportivos estão “limpos” de quaisquer anúncios publicitários e nem sequer a marca das camisolas dos jogadores pode ser demasiado visível.
Mas se os clubes não estão obrigados a libertar jogadores de futebol para os Jogos Olímpicos também a verdade é que ninguém os obrigou a contratar atletas de outras modalidades para, com isso, proclamarem que têm projetos, gabinetes ou aspirações olímpicas ou que são mais ecléticos do que os outros.
Todos sabemos que, em determinadas modalidades, a única relação que alguns atletas têm com os clubes grandes é uma folha de ordenado, muitas vezes mascarada de “subsídio”, e o vestirem a sua camisola nos campeonatos nacionais. Em muitos casos, são mais bandeiras do que verdadeiros projetos.
Se tudo correr bem, daqui a umas semanas podemos estar todos a assistir a um estranho paradoxo: ver atletas da canoagem, do atletismo, do judo ou do triatlo a serem chamados ao relvado de um estádio, antes do início de um jogo de futebol, para serem homenageados pela conquista de uma medalha olímpica…. mesmo ao lado de futebolistas que o mesmo clube impediu que representassem Portugal nos Jogos do Rio de Janeiro. Mas ninguém se vai queixar, pois o importante, mesmo, é que a bola entre na baliza.
A verdade é que Portugal fez a campanha de apuramento para os Jogos Olímpicos com uma equipa onde jogavam João Mário, Bernardo Silva, William Carvalho, Raphael Guerreiro, Rafa e André Gomes, entre outros. Agora, vai competir no Rio com nomes como os de Ricardo Esgaio, Tiago Ilori, Bruno Fernandes, Sturgeon, Francisco Ramos, Carlos Mané, Nuno Santos e Salvador Agra. São todos bons jogadores, ninguém duvida. Mas é um pouco como, no judo, não levar a Telma Monteiro, ou, na canoagem, trocar o Fernando Pimenta por um júnior qualquer.
Em 1996, nos Jogos de Atlanta, Rui Jorge viveu, por dentro, a emoção dos Jogos Olímpicos, numa equipa portuguesa que chegou ao quarto lugar. Até há poucos meses, tinha aspirações realistas a conduzir a seleção até à final, no Rio de Janeiro. Mas a única coisa que, realisticamente, pode agora prometer é que os seus selecionados vão viver os Jogos ainda mais por dentro do que ele, há 20 anos, pois vão ficar alojados na Aldeia Olímpica.
Agora, o que se espera é que das escolhas de Rui Jorge para cada jogo saltem sempre 11 “Éderes” para o relvado e que os patinhos feios se transformem em cisnes. Mas, por favor, não voltem a falar depois em projetos olímpicos.