Quem vem a estas linhas encontra, ora aqui ora acolá, análise da política pública de ambiente. Mas também sabe, espero, que a convicção não se inclina com o ar dos tempos.
Ao vento, vi hoje um cartaz que tinha escrito: “Um oceano às direitas, um mundo sem plásticos.” É assim como um mundo sem metais – ou sem tempo para pensar.
No mesmo dia, dizem-me, os Verdes sugerem proibir o plástico para embalar pão e legumes e fruta. O PAN também já legislou sobre o lixo de plástico. E o Governo vai antecipar o fim dos plásticos leves que a diretiva europeia prevê.
É o que se chama “cavalgar” a má consciência que as redes sociais fizeram viral com imagens dos “países” de plástico que as nações desenvolvidas deixam no Índico e no Pacífico.
O plástico foi de ilustração do conforto ao desperdício em menos de 20 anos. Porém, o plástico não se faz e não se deita fora sozinho. O que mudou foi o nosso comportamento e, sobretudo, quantos somos. E somos mais do dobro do que éramos quando eu nasci.
Criámos um mundo de risco para a nossa própria espécie, mas não para o plástico ou os metais pesados que, se desaparecermos, farão prova eterna da nossa existência. E como somos cada vez mais, há cada vez mais plástico e cada vez mais de todos e mais cada um dos poluentes que conhecemos.
E a todos precisamos de regular o “ciclo de vida”, o que, em português mais direto, significa vigiar desde que ocorrem até que se eliminam ou se transformam noutra coisa. Mas é preciso chegar lá com rigor científico, avaliando as alternativas antes de começar a esbracejar.
Para lidar com um problema é preciso, para começar, conhecer-lhe as causas. As da visibilidade deste são simples. Acontece porque a China decidiu deixar de ser a lixeira global, e isso deu cabo do que imaginávamos ser a verdade sobre o modo e o custo da reciclagem do plástico.
A política National Sword, do Comité Central do PC Chinês, fez com que, em menos de um ano, de 2017 a 2018, os G7 deixassem de poder enviar para a China mais de metade do lixo de plástico que diziam reciclar. Um negócio de 270 milhões de toneladas de resíduos de plástico em barcos que deixaram de ir para a China para ficarem noutros países asiáticos, que permanecem com o melhor e atiram o resto ao mar.
De repente, o resto do mundo foi obrigado a perceber que andou só a passear o problema, foi forçado a um momento de verdade e o que se viu não foi bonito. Os custos só eram aceitáveis porque não eram sérios. Esse é que é o problema. Temos muitos contentores amarelos, mas acabavam quase todos longe da vista, desde que fosse o mais barato possível.
E, por isso, é agora preciso, mais do que fazer uns números para entreter as redes da vida, fundamentar uma análise séria de cada uma das alternativas sempre que damos um passo. Não tenho elementos para avaliar o efeito a antecipação da diretiva na eliminação dos plásticos leves, mas suspeito de que vai dar muito gasto de água – que nos dizem que falta – e, depois, muita água para tratar.
A iniciativa do PAN – acrescentar um sistema de depósito à parte mais valiosa dos resíduos de embalagens de plástico – é uma ideia bondosa. A concretização materializou-se abrindo a possibilidade de um grande retrocesso na concorrência na reciclagem quando, finalmente, começávamos a imitar as melhores práticas europeias com um sistema concorrencial e transparente, depois de 20 anos de um monopólio de clareza, digamos, chinesa.
Já a iniciativa dos Verdes são dez artigos de uma proibição cega, que nenhum estudo suporta, e um preâmbulo pueril que eu, do tempo em que todas as mercearias eram “a granel“, acho só hilário, porque fico à espera, nos dias ímpares, da mesma sanha contra os eucaliptos de que se farão as embalagens que tomarão o lugar das que agora querem substituir com um estalar de dedos.
Haja paciência mas, de uma vez por todas, não haverá um primo que lhes meta juízo na cabeça?…Como dizia o O’Neill, “ó Portugal, se fosses só três sílabas de plástico, que era mais barato!”