Há dias em que escrever é triste. Hoje é um deles. O João Vasconcelos partiu esta noite num ataque cardíaco filho da mãe. O João tinha 43 anos e era um tipo bom. Bem-intencionado, amigo de ajudar os outros. Fazia-o porque gostava genuinamente de ver fazer acontecer. Era idealista, adorava política, sonhava alto, tinha vistas largas e gargalhada fácil, e uma característica rara e essencial num bom líder: fazia os outros acreditar em si próprios, levando-os a ver capacidades que as pessoas não sabiam sequer que tinham. Empurrava-os para tentarem superar-se, amparava-os nos tropeços. Era afável, otimista, pragmático, um descomplicador – para ele tudo tinha solução.
Há pouco mais de um mês, celebrava o sétimo aniversário da Startup Lisboa, agradecendo aos “apoiantes, autarcas, governantes, patrocinadores, parceiros, vizinhos, colaboradores, incubados, mentores, investidores, jornalistas, anónimos e famosos que ao longo destes anos permitiram que se tornasse no principal símbolo de uma Lisboa moderna, com emprego, com oportunidades, cosmopolita, aberta ao mundo”. Esqueceu-se de agradecer a si próprio – não ficaria bem fazê-lo. Mas se há uma comunidade de empreendedores dinâmica em Portugal, se existiu um Web Summit com tudo o que trouxe de bom para o País, foi graças ao João Vasconcelos e à sua incrível energia positiva que isso aconteceu. Não tenho dúvidas que há hoje uma comunidade de fazedores de luto, que se sente um bocadinho órfã.
Quando, no verão de 2017, a Impresa me informou da intenção de vender a VISÃO, o João foi uma das primeiras pessoas com quem falei. Orientou-nos, a mim e ao Rui Tavares Guedes, deu-nos força, mexeu-se e tentou ajudar, só porque acreditava que um título como este – a newsmagazine mais lida em Portugal – não podia desaparecer dos média nacionais. Ser-lhe-ei sempre grata por isso. Foi colunista da revista, esteve no VISÃO Fest a celebrar connosco os 25 anos, e ainda ontem, depois do lançamento da VISÃO solidária cujas receitas revertem integralmente para Moçambique, falei com ele. Como sempre, disponibilizou-se para ajudar e promover.
O João nunca estava parado, era um hiperativo do bem. Depois de sair do governo desdobrou-se em dezenas de projetos, calcorreou o País em debates e eventos. Era um tipo com carisma, aquela outra característica dos grandes líderes, e talvez por isso continuavam a convidá-lo para tudo e a pedir-lhe para inaugurar coisas, como se estivesse ainda em cargos governativos. Ele divertia-se com isso. Por estes dias, estava a montar uma empresa para recolher plásticos nas praias e convertê-los em produtos reciclados.
O céu era o limite para o João. Agora é todo dele.