1 – A aprovação do Orçamento de Estado (OE) para 2018 veio desmentir mais uma previsão dos que o consideravam inviável, além de portador de uma espécie de peste para o País. Não dos mais radicais, dado que segundo estes, a conseguir formar-se, o Governo, “ilegítimo e fraudulento”, em poucos meses cairia – isolado no plano internacional, proscrito pela União Europeia, condenado pelos portugueses levados à ruína. Previsão, sim, dos menos radicais, que entendiam também caminharíamos para o precipício, mas de forma mais lenta; e fosse por isso, fosse por os partidos subscritores dos acordos se desentenderem e brigarem, em 2018, o máximo, não haveria OE. Nem OE nem, pois, aquilo a que passaram a chamar “geringonça”, designação depreciativa – visando dar essa ideia de coisa mal atamancada, presa por arames e por isso precária, de curta existência – que entrou no léxico político corrente, mostrando bem o (pre)domínio nos media do setor que a lançou.
2 – Se o lembro é apenas porque, tendo a realidade negado por completo tais sinistras previsões, seria legítimo esperar que os que as fizeram reconhecessem ou admitissem o seu erro; ou, mínimo dos mínimos, não continuassem a falar e a atuar como se tivessem razão no que disseram e fizeram. Mas continuam. E seguindo os mesmos métodos, adaptados às circunstâncias. Assim, certa manipulação das tragédias dos incêndios que assolaram o País, incluindo a utilização das vítimas para fins imediatos de “combate político”, foi imoral, muito triste, para não dizer vergonhoso. Tendo da política uma visão segundo a qual a ética é um seu valor essencial, ou primeiro, não consigo compreender, numa democracia saudável, tal tipo de comportamentos.
3 – Em matéria de desgraças, como a seca, a última foi a legionela num hospital público. E a seu propósito os partidos do anterior Governo, PSD e CDS, voltaram a falar muito das “responsabilidades do Estado”. Para, claro, o condenar – e tentar condenar este Governo. É uma enorme contradição esta imputação de responsabilidades vinda dos defensores estrénuos do Estado mínimo, que além de terem privatizado tudo que puderam tanto combateram a sua presença ou intervenção em múltiplos domínios, que fizeram tudo para o desvalorizar, até atacar, e às vezes até pareciam querer “destruí-lo”. Não haverá limites para a incoerência?
4 – O Web Summit constitui, de facto, um grande acontecimento e é ótimo para o País decorrer em Portugal. Por todas as razões, mormente pelas dezenas de milhares de pessoas, entre as quais vultos destacadíssimos, que traz até Lisboa. Por isso se impõe fazer tudo para que cá continue. O que não exige ou implica uma espécie de deslumbramento excessivo, talvez um pouco pacóvio, face a tudo que lá acontece e a certos ditos progressos tecnológicos, perante os quais há que manter o indispensável sentido crítico. Já agora, com todas as girândolas em sua homenagem e o quadro legal em vigor, não me parece que a diretora do Panteão – que nem sei quem é – se deva demitir ou ser demitida por ter autorizado o jantar que lá se realizou: deve é mudar-se a lei. E em matéria de “indignações”, creio que já chega: temos coisas muito mais importantes com que nos indignar…
(Artigo publicado na VISÃO 1289, de 16 de novembro de 2017)