A tentativa de golpe não foi um típico golpe militar. Não foi convencional nem civil. É difícil encontrar as palavras adequadas para descrever a crueldade e a traição que os golpistas demonstraram naquela noite. Ainda hoje continuamos a lutar para ultrapassar o trauma dessa ameaça existencial ao nosso país.
Os golpistas utilizaram aviões de combate para bombardear o Parlamento turco, o complexo Presidencial, a sede do Serviço de Informação Nacional, a sede das Forças Especiais e usaram armas pesadas contra civis e militares. Tentaram assassinar o Presidente e o Primeiro-Ministro. Atacaram, violentamente, os meios de comunicação independentes que, apesar das circunstâncias, nunca deixaram de apelar à defesa da democracia.
O 15 de Julho foi uma prova de força e perseverança para o Estado turco e a sua democracia. Milhares de pessoas foram para as ruas em defesa das instituições democráticas. Todos os partidos políticos, do governo como da oposição, elementos não contaminados das Forças Armadas, da Força Policial e dos media opuseram-se aos golpistas. Sobretudo, foi o povo da Turquia, de todos os contextos sociais e quadrantes políticos, que demonstrou um exemplo de solidariedade histórica, enquanto altruisticamente se mantinha à frente dos tanques e reivindicava os seus direitos democráticos. O golpe foi frustrado, este foi um momento histórico para a Turquia.
A força por detrás desse golpe, FETÖ, é um culto secreto e clandestino que foi criado por Fethullah Gülen no início de 1970. Ao longo dos anos, Gülen emergiu como uma “figura messiânica” que controla todos e cada um dos aspectos da vida dos seus seguidores. É um caso típico de radicalização através do culto de personalidade. Era sua intenção assumir o controle do Estado turco e reinstaurar o regime de acordo com sua pervertida filosofia religiosa.
No dia 15 de Julho, a democracia turca ganhou a batalha. No entanto, há ainda uma guerra a ganhar para definitivamente pôr um fim neste doloroso episódio da nossa vida. Durante décadas, os seguidores da FETÖ infiltraram-se em todos os orgãos críticos do Estado,como a polícia, a justiça e as forças armadas. Agora, após um ano de extensas investigações administrativas, criminais e judiciais, temos uma melhor compreensão do que aconteceu a 15 de julho e sobre quem está por detrás. Durante o último ano, as atividades criminosas da FETÖ foram investigadas em mais de mil processos judiciais diferentes, colocando a descoberto os mais obscuros empreendimentos da organização.
O Governo turco, legitimamente, toma medidas para suprimir e, eventualmente, derrotar esta ameaça. Durante este processo é dada a devida atenção ao respeito das nossas obrigações decorrentes das convenções internacionais dos direitos humanos. A Declaração do Estado de Emergência foi necessária para mobilizar rápida e eficazmente os órgãos do Estado. Não tem como propósito intervir na vida quotidiana dos cidadãos.
Naturalmente, ao longo deste período poderão ter ocorrido alguns erros. Enfrentar uma estrutura tão obscura, sinistra e clandestina não é fácil. Mas estamos empenhados na sua correcção. Até ao momento, mais de 300 instituições que haviam sido encerradas foram já reabertas. Através de conselhos de recurso administrativo, mais de 30 mil funcionários públicos foram reintegrados.
Estamos a reexaminar as medidas do Estado de Emergência e a ter as recomendações do Conselho da Europa em consideração.
Neste contexto, foi criada uma Comissão de Inquérito para tratar dos requerimentos contra as Medidas do Estado de Emergência, reconhecida pelo Tribunal Europeu dos Direitos do Homem como um recurso interno efectivo.
Estamos empenhados em fortalecer as nossas credenciais democráticas, porque sabemos que esta é a única maneira para combater o terrorismo sob todas as suas formas e manifestações. Aspiramos fazê-lo ao mesmo tempo que lutamos contra organizações terroristas, como o PKK e o DAESH.
É em alturas críticas como esta que precisamos do apoio e da compreensão de todos os nossos amigos.