A propósito do Dia Internacional da Mulher, que se celebra a 8 de março, acho que nunca é de mais relembrar alguns factos.
Comecemos pela Educação.
Nesta área, Portugal tem evoluído muito, embora continue em franca desvantagem quando comparado com outros países da Europa. Não sendo um exclusivo das mulheres, são elas que têm sido as maiores protagonistas deste progresso.
Vejam-se, por exemplo, as diferenças entre as percentagens de pessoas com ensino superior, em 2015, de duas gerações: 25/34 anos e 55/64 anos. Embora, em ambos os sexos, as gerações mais jovens sejam bastante mais escolarizadas que as menos jovens, no caso dos homens essa diferença equivale ao dobro e no caso das mulheres corresponde ao triplo.
As raparigas abandonam, também, muito menos a escola em idades precoces que os rapazes e as mulheres já são a maioria dos diplomados no ensino superior.
Uma história de sucesso na escola, em especial para as mulheres, mas que encerra uma relação pouco virtuosa quando relacionada com o que se passa no mercado de trabalho.
Sabemos que o conhecimento é o valor-chave da sociedade contemporânea. O saber e o mérito de cada um, e não o ser-se homem ou mulher, deveria, por isso, constituir a chave da vantagem ou desvantagem social dos indivíduos. Contudo, a prática não o comprova.
Continuando a recorrer a alguns dados disponíveis na Pordata, percebemos que as mulheres passaram a ser dominantes, em termos estatísticos, em certas profissões que, no passado, foram maioritariamente preenchidas por homens, como a medicina, a magistratura ou a advocacia. Porém, a confirmação de êxito no mercado de trabalho não acompanha, com a mesma velocidade, os seus progressos educativos.
Vejamos a questão salarial. No caso das remunerações, verifica-se que, para idênticas qualificações, as mulheres recebem, em média, menos do que os homens, em especial nas posições mais qualificadas. São diferenças que, apesar de tudo, não se têm esbatido com o tempo em Portugal. Também, embora o número de mulheres empregadas seja quase idêntico ao número de homens empregados, elas representam uma clara minoria dos empregadores: apenas 31%, em 2016.
Estes traços do retrato ficam ainda mais completos se espreitarmos a esfera doméstica, em especial as atividades entendidas, por muitos, como trabalho não pago. Aqui a balança desequilibra-se para o lado das mulheres. Por exemplo, as mulheres estão em esmagadora maioria quando se trata de viver só, com algum familiar a cargo, seja ascendente ou descendente; e é sobre as mulheres, enquanto mães, que recaem os principais deveres e obrigações no acompanhamento dos filhos pequenos.
Estes casos ilustram que Portugal, no que diz respeito a dimensões como o trabalho ou a família, ainda está longe de ser uma sociedade suficientemente atenta a cada pessoa, para lá de atributos como o sexo, apesar do que refere a Constituição Portuguesa, no seu artigo 13º: “Ninguém pode ser privilegiado, beneficiado, prejudicado, privado de qualquer direito ou isento de qualquer dever em razão de ascendência, sexo (…)”.
Hans Rosling, médico, humanista e grande porta-voz dos números sobre a sociedade em que vivemos, esteve em Lisboa em 2015 numa conferência promovida pela Fundação Francisco Manuel dos Santos. Foram momentos únicos que, após a sua morte, no passado dia 7 de fevereiro, vale sempre a pena recordar. Para além dos vários ensinamentos, sustentados em factos, que nos ajudaram a melhor compreender o mundo em que vivemos e a multiplicidade social e cultural que este contém, Rosling explicou, com o enorme sentido de humor que o caracterizava, até que ponto identificava o futuro com a cada vez maior igualdade entre sexos nas responsabilidades das esferas pública e privada, ironizando até com a falta de uma palavra na língua portuguesa, “bispa”, pois é agora uma mulher que representa o bispado de Estocolmo. E disse, sobre a igualdade de género, que se começa a respirar na Suécia: “Isto é o futuro; bem-vindos ao futuro!”
(Artigo publicado na VISÃO 1252, de 2 de março de 2017)