Esta minha última crónica vai em tom de agradecimento ao convite que a Mafalda Anjos me fez há ano e meio atrás. Não sei bem de quem foi a ideia, sei que foi a Mafalda que veio falar comigo, e sei que é preciso pensar um bocadinho fora da caixa para me convidar para escrever para uma revista como a VISÃO. Não que eu não seja um rapaz que de vez em quando até se desembaraça, mas porque desde o momento em que apareci no mundo musical/literário, em 2001 com os Toranja, que a minha relação com os media nunca foi das melhores atingindo o seu extremo quando quase processamos um jornal do meio musical por críticas contínuas e ferozes a concertos nos quais os autores dos artigos nem sequer tinham estado presentes.
Percebi desde o princípio que eu não tinha o nome certo para eles, não vinha do sítio certo, não falava como eles queriam, não os lia como eles queriam, e principalmente porque tive algum sucesso sem a sua ajuda que é coisa que irrita bastantes críticos deste meio em Portugal. Eu explico: muitas vezes, ao longo deste ano e meio, falei no “fator cool” e de como vejo as várias opiniões sobre diversos assuntos, principalmente dentro de determinados “lobbies”, serem fortemente influenciadas por este fenómeno dos pequenos grupos, que raras vezes passa para as grandes massas. Isto não é nada de novo. Por mais adultos que sejamos, todos temos uma necessidade de aceitação. Desde a política à religião, passando pelas artes, existem pelo mundo inteiro posições e comportamentos relativos ao que é mais conveniente ser ou parecer; posições, comportamentos e opiniões e gostos que estão na moda como uma saia da estação, posições que não precisam de grande fundamento para existirem a não ser por se achar que a posição oposta é inconcebível para uma pessoa inteligente. Muitas vezes ter estas posições ou pertencer a determinado grupo abre portas, muitas vezes não ter estas posições e não pertencer fecha portas. Claro que quanto mais pequeno o país for, mais este síndrome de pequenez existe e eu senti-o no meio artístico desde o princípio e talvez ainda hoje o sinta. Não pelo facto de eu ter alguma posição que fosse na inocência dos meus 21 anos; nada disso, sempre tentei pôr a minha música à frente de mim. A verdade é que desde o meu início que muitos media me marcaram como a alguém que não merecia existir no meio artístico, alguém com o perfil errado, que chegou pelo caminho errado, embora me reconhecessem talento. No fundo, querendo eles ser contra a corrente, andavam, e andam sempre eternamente à procura do “American dream” mais “clichet” de todos e à portuguesa: o artista que vem do nada e que sobe a pulso pela encosta mais áspera (se possível engraxando uns quantos críticos e jornalistas pelo caminho) até merecer ser acarinhado nos braços do mundo. Confesso que isto já me incomodou mais, mas sinto que é também por este meu percurso que fico extremamente agradecido com convites como o que a Mafalda me fez. Fica aqui então o meu muito obrigado pela oportunidade que me foi dada de me iniciar como cronista na revista VISÃO. Ao longo deste ano e meio em que tive inevitavelmente de estar mais atento ao mundo, percebi a urgência cada vez maior de uma consciência não só global, mas pessoal. A ideia de cada um de nós sair por si do caminho já delineado e se desligar destas correntes de opiniões generalizadas construídas sobre preconceitos, frases feitas e máximas inabaláveis, de se libertar desta falsa liberdade, desta propaganda subliminar de que todos somos vítimas todos os dias nas escolas, no trabalho, nos jornais, revistas, telejornais, programas de entretenimento… O mundo pede liberdade de opinião, abertura e verdade, mas com respeito, sem manipulações. O mundo pede realidade e o salto ousado para o outro lado, aceitando-o como parte válida de uma discussão, para enfim o compreender. Espero humildemente que através destas poucas crónicas tenha conseguido tocar alguém neste sentido. Um abraço, feliz 2017, e até breve.