O ano vai curto e chuvoso. Só tem 12 dias mas já houve tempo para celebrar o novo disco de David
Bowie e chorar a sua partida. O homem do espaço voltou a casa, mas não sem nos deixar uma
estrela negra a tocar tempo fora. Lá dentro, um presente para mim.
Recebi no domingo uma foto do interior da capa do disco: à direita o espaço estrelado e à esquerda
uma composição de constelações que, em vez de estrelas, tem palavras, num design que, como me
diziam por mensagem, faz lembrar a capa do meu livro. Fiquei feliz e agradeci a benção.
A notícia da sua morte, contudo, torna aquela descoberta numa coisa ainda mais estranha, a qual
sinto agora como um acenar na despedida. Aceno de volta para uma vida de génio e para a certeza
de que a sua música não parará de tocar. Eterna é a que deixou em discos, e eterna é a que fez com a
vida.
A Terra é uma canção, um coro imenso de biliões de anos que a cada nascimento ganha uma nova
voz e muda um pouco. Nela e pela eternidade ecoa cada vida. Todos os altos de compaixão e amor e
todos os baixos de ódio e agressão soam pelos tempos fora como um nome inscrito num sino.
Passamos pelo planeta como cometas, ardemos rápido, mas o que escolhemos ser e fazer vibra nele
para sempre.
Na sua passagem estelar pela Terra, a canção de Bowie fez dela um sítio melhor. Agradeço e peço
que sirva de inspiração às nossas canções individuais. Mudar o mundo é mudar o coro do mundo e
mudar o coro do mundo é mudar o tom da nossa própria voz. Cantemos alto, como as estrelas.