Terminou a época dos furacões. A época no Atlântico vai de 1 de Junho a 30 de Novembro, com o período de pico de Agosto até Outubro. Durante esses meses, quando os furacões ganham fôlego, preparamo-nos todos para as tempestades cujo percurso e impacto nunca é claro.
As Caraíbas são marcadas por grandes diferenças de língua e cultura criadas pela sua complexa história. Contudo, todas estas ilhas sempre partilharam a consciência das tempestades que as ameaçam e a incerteza sobre o futuro após a passagem dos furacões. As tempestades marcam a história e a cultura de cada ilha das Caraíbas, assim como a resiliência e capacidade de se adaptar, transformar e renovar.
Aqui, preparamo-nos e planeamos para possíveis catástrofes, procurando criar mais resiliência para o que aí vem durante esta época. Isto é particularmente importante para as ilhas localizadas no ‘corredor de furacões’, incluindo Antígua e Barbuda, Dominica, Sint Maarten, Puerto Rico, Cuba e Haiti, onde infraestruturas críticas como hospitais, aeroportos, estradas e redes de serviços públicos foram severamente danificadas. As redes de serviços públicos de eletricidade, água e telecomunicações são essenciais para ajudar as comunidades a se recuperarem mais rapidamente de desastres.
Muitas ilhas das Caraíbas estão ainda a recuperar da destruição do ano passado. Estas foram atingidas pelo furacão Irma, uma das tempestades mais poderosas já registadas no Atlântico. Duas semanas depois foram fustigadas novamente pelo furacão Maria. O resultado foi devastador. Milhões de pessoas foram afetadas e enfrentaram escassez de comida e água, edifícios e infraestruturas foram severamente danificados, redes de eletricidade e telecomunicação colapsaram. A destruição foi total na Dominica, que perdeu mais de 200% de seu PIB anual em questão de horas. Estes tempos difíceis mostraram a força das pessoas e a importância de coesão nas comunidades locais e da Região das Caraíbas para se recuperarem. Uma lição inspiradora de resiliência.
Esta época, que termina agora, foi diferente de todas as outras. Para além do elevado número de furacões, há outros aspectos que são novos e tornam este ano único. Primeiro, a temporada de furacões começou ainda antes da data oficial de início em 1º de Junho, com tempestades tropicais a afectar a região em Maio. Segundo, os percursos foram muito diferentes do previsto. Em Setembro, por exemplo, o furacão Florence situado num ponto do Atlântico que é tipicamente suficiente para a tempestade se curvar e não afetar os Estados Unidos da America. Nenhuma tempestade tropical ou furacão na história registada revelou um percurso semelhante a este. Florence desafiou as estatísticas, e rumou ao Estados Unidos num caminho agonizantemente lento, provocando inundações desastrosas. Por último, esta temporada foi marcada por novos locais afectados por Furacões. A tempestade Leslie percorreu o Atlântico por mais de duas semanas antes de finalmente se aproximar de Portugal. Leslie não atingiu o centro de Portugal como um furacão, mas espalhou chuvas e ventos fortes que provocaram destruição. Este é um novo cenário para furacões num mundo mais quente e marcado por mudanças climáticas.
Como as mudanças climáticas moldam a força ou a frequência destas tempestades permanece ainda uma questão sem resposta clara. O que sabemos é que a temperatura do Mar das Caraíbas e do Oceano Atlântico aumentou nos últimos anos e continua a subir. Para ganhar mais força, os furacões precisam destas temperaturas superficiais quentes.
Com as ameaças da mudança climática que aumenta o número e a força de eventos climáticos extremos, e a nova temporada de furacões a começar já em Junho do próximo ano, as Caraíbas estão a reconstruir-se e a reinventar-se. Contudo, é preciso ir além das Caraíbas, e reforçar o compromisso global de todos nós para atuar face às mudanças climáticas.
As Caraíbas ensinam-nos o essencial – melhorar a saúde e a vida das pessoas significa pensar e proteger o seu ambiente.
Não há dúvida de que existe uma crescente consciência global sobre como as ações humanas estão interconectadas e podem agravar ou atenuar as novas tendências climáticas.
Somos cada vez mais parecidos com as Caraíbas. Deixar de ignorar o que está a acontecer no Atlântico – e em todos os Mares e Oceanos ao nosso redor – e atuar sobre o ambiente torna-se cada vez mais urgente.