A verdade é que a minha família cresceu, com novos sobrinhos e primos, os biológicos e os por afinidade, mas uma nova família, adotiva, também surgiu e cresceu. Uma das vantagens de sair do conforto do nosso cantinho é o de termos que nos fazer “à vida”, a todos os níveis, quer em busca dos desafios profissionais, quer em busca da estabilidade emocional com a criação de laços afetivos/amizades. Por exemplo, quem é que temos por perto nos nossos aniversários ou para nos ajudar nas mudanças de casa?
Com as novas tecnologias é bastante mais fácil entrar em contacto com a família e com os amigos que ficaram noutros lugares e, oportunamente, vão sempre surgindo ocasiões/oportunidades em que a proximidade resolve essas saudades.
Em 8 anos de vida em Nova Iorque sinto-me sortudo com a minha família adoptada deste país, que com muito carinho e apreço chamo de “A outra família”. Esta metrópole que escolhi e decidi viver, é um epicentro para muitos seres como eu. Muitos que se encontram por cá, não nasceram nem foram criados aqui, e com essa característica em comum, outro tipo de raízes se formam nesta cidade. No meu círculo próximo e atual de amigos, poucos cresceram cá. Pode ser coincidência, mas muitos dos meus amigos mudaram-se para Nova Iorque na sua fase de vida adulta. Interessante de referir que alguns começam a criar raízes por cá, com filhos Nova Iorquinos, aos quais apelido de “minhas sobrinhas e meus sobrinhos”.
Estas raízes não biológicas, são recentes e resistentes, e cada vez mais fortes com os anos que passam. Quando olho para trás constato que já passei momentos importantes com a minha outra família, a de cá, a de Nova Iorque, e que estes momentos foram todos diferentes mas marcantes, seja com sorrisos, choros ou até com a famosa ressaca. Existem os momentos marcantes mais comuns como os casamentos, os divórcios, os nascimentos, as promoções, os despedimentos, mas também existem os outros que não seriam tão óbvios para mim, porque nunca os teria imaginado até começar a viver aqui, como entrega do meu diploma do MBA (desta vez sem queima das fitas, mas com outras tradições daqui), ou da primeira vez que fui ao médico e me pediram um familiar/amigo local que pudesse ser chamado em caso de emergência hospitalar. Tantos outros momentos me vêm à memória, mas fica difícil pensar nos mais significativos, chegando à conclusão que todos têm um grande significado e muita relevância para mim.
Nova Iorque mostrou-me o quão importante, valioso e imprescindível é o ter uma “outra família”, aquela que eu escolhi e para a qual fui escolhido. Nesta abundância de famílias, a biológica e a escolhida, identifico o meu suporte e os meus sucessos, porque sozinho não tem piada e bem acompanhado sabe tudo muito melhor.
VISTO DE FORA
Dias sem ir a Portugal: 60 dias
Por aqui, nas notícias fala-se muito sobre o atentado de Nova Iorque, massacre do Texas e de eleições locais.
Sabia que por cá é normal nos feriados em que muitos Americanos passam com a família, que Nova Iorquinos (de todas as nacionalidades) se juntam para festejar em família, como no 4 de Julho, no dia de acção de graças ou Natal
Um número estimado e surpreendente 3 dos 8.5 milhões de residentes Nova Iorquinos são estrangeiros.