Farto-me de dizer – vim para cá para descobrir que afinal a minha família tem imensas doenças. Sempre fomos saudáveis, aliás para mim motivo de algum orgulho e descanso. Os meus filhos raramente ficam doentes. De repente chego cá e BOOM – afinal tenho dois filhos celíacos. Olhando para trás, talvez fosse óbvio. Afinal foi muito fácil a pediatra americana deles ter chegado a essa conclusão. Bastou eu dizer-lhe que o meu filho sempre teve um estômago sensível, que vomitava com alguma facilidade e que tinha dores de cabeça uma vez por mês. Para mais, em Portugal andava a ser visto por uma endocronologista por não andar a acompanhar a sua curva de crescimento.
Eu a mim nunca me tinha passado pelo cabeça… Confesso que até já me tinha lembrado de ele ser intolerante à lactose pelas dores de cabeça, ainda por cima há vários primos na família e está na moda… Confesso que alérgico ao glúten não tinha lá chegado. Bem há que dizer que não sou formada em medicina, o que me fez perguntar – “Se isto é tão óbvio para uma pediatra na primeira consulta com o meu filho, porque que nunca ocorreu à pediatra que ele tinha desde pequeno, nem ao segundo pediatra e por último, porque que a endocronologista nunca se lembrou disto?”. A pergunta mantém-se pois ninguém me respondeu.
A alimentação mudou radicalmente em nossa casa e as contas subiram (ser glúten free não sai barato), mas a verdade é que o rapaz cresceu cerca de 20 cm em 18 meses. Será que teria ficado pequenino se não tivéssemos descoberto a sua alergia? Claro está que este é o país das alergias. Não podemos, por exemplo, mandar nozes ou amendoins para uma escola como lanche pois existem tantas crianças com alergias graves a frutos secos que é uma verdadeiro perigo. Podem entrar em choque anafilático e morrer. E não são uma ou duas por escola, são uma ou duas por classe. Isto sem falar nas outras alergias – lactose, ovo, etc. Porque será? Há muitas teorias, incluindo a de que o cuidado excessivo na introdução de alimentos ao bebé pode ter causado o corpo a desabituar-se destes alimentos.
Não sei, afinal como disse, não sou médica. Sei que agora a minha filha mais velha, muito inteligente mas com notas abaixo do esperado, está a fazer testes. Testes para saber se terá uma chamada “learning disability”. Não seria nada de muito grave ou óbvio, mas o suficiente para lhe causar as dificuldades que tem. Mais uma vez, deveria ter sido óbvio para nós e para os seus professores em Portugal, mas passou despercebido. Chamámos-lhe preguiça. Já vamos em três filhos diagnosticados. O que será que vamos encontrar nos outros?