Decidir sair do país onde nascemos e crescemos não é fácil. Há demasiados prós em ficar. O maior? A familiaridade das pessoas e das coisas.
Ainda que nos queixemos do sistema, pelo menos sabemos como funciona. Ainda que nos incomode a qualidade dos nossos círculos sociais e oportunidades profissionais, pelo menos sabemos com o que contar. E, claro, quando estamos rodeados pelo conforto da família e dos amigos de longa data, é difícil não pensar no que se poderá perder com a troca por uma ligação à distância.
Ficar é sempre mais seguro. Mas há alturas em que sair é a única opção que vem sem o medo de arrependimento futuro. É a escolha entre jogar e ficar na bancada.
Porque a verdade é que o familiar está sempre à nossa espera. As aventuras e oportunidades que um lugar novo pode proporcionar, nem sempre. A decisão não é para os mais fracos. Mas, quando vale a pena, vale mesmo. Em maneiras inesperadas e mágicas.
A minha primeira aventura fora de Portugal levou-me a Londres, durante quatro anos. E assim que cheguei, percebi que dificilmente iria regressar a Portugal (a tempo inteiro). Não porque Portugal não seja maravilhoso. Pelo contrário. Terei sempre orgulho em ser Portuguesa, e serei sempre defensora acérrima desse país magnífico. Mas a expansão pessoal que a saída me continua a permitir, é insubstituível. E esse sentimento acompanha-me há mais de uma década.
Londres abriu-me as portas da mente. De uma miúda insegura, que pensava que a vida era difícil, e que as oportunidades que valem a pena eram escassas, passei a mulher confiante, cidadã do mundo que sabe que tudo é possível. Feliz, e sem medo de novos desafios. E só uma mudança de ares e de cultura poderia ter proporcionado esta transformação.
De forma inesperada, Londres apresentou-me o amor, num pub à beira-Thames (o lugar mais improvável de se encontrar o amor de uma vida inteira), e a maior aventura da minha vida.
O amor trazia passaporte neo-zelandês. E uma relação que, a ser explorada, teria de ser à distância. E assim foi. Com viagens entre lados opostos do globo, um fuso-horário impossível, e encontros de férias em lugares paradisíacos. Até que o Kiwi convidou a Portuguesa a mudar-se de vez para o outro lado do mundo.
Como é que se decide deixar o que se conhece e arriscar uma mudança para o outro lado do mundo? Ainda por cima por amor? É(?) simples. A garantia de quem sai é o bilhete de regresso a casa. Seja ela a aventura, caso corra mal, o próximo voo recompõe as coisas. Caso corra bem, o que nos espera é muito mais do que aquilo que poderíamos alguma vez imaginar.
Valeu a pena arriscar? Por este amor arrebatador, mil vezes sim. O bónus inesperado? O paraíso.
É assim que vejo a Nova Zelândia. Uma beleza de cortar a respiração, uma cultura interessante e diversa, e todas as vantagens oferecidas por um país com poucos habitantes. Tem-se o melhor da vida numa ilha, e, ao mesmo tempo, o dinamismo de uma sociedade avançada.
Como é óbvio, a perfeição não existe. E nem tudo são rosas. Mas aqui, a minha felicidade e oportunidades pessoais e profissionais não têm conhecido limites.
O preço a pagar? Há sempre um. Neste caso, a distância física daqueles que amamos e estão no outro lado do mundo, e a partilha de momentos especiais e importantes em tempo real.
É que quando se decide sair, criamos um rasto de ligações pessoais dispersas pelo globo. Parte de nós sai, parte de nós fica. E por todos os lugares que passamos, deixamos um pouco de nós, com aqueles que partilhamos fases diferentes da vida.
O mais ingrato é que acabamos por não pertencer na totalidade a lugar nenhum. Mas é, ao mesmo tempo, essa permeabilidade que traz o tipo de magia que só está disponível aos que se atrevem a abrir as asas e deixar o ninho.
Um brinde à magia dos (re)começos.