Nos últimos dias tenho estado mais atento a conversas que privo com amigos Nova Iorquinos. Além dos temas pessoais de sempre, ultimamente existe um tema comum e recorrente, a nova presidência do Trump e a responsabilidade global do Nova Iorquino face à escolha democrática do resto do país.
Do meu círculo pessoal, social e até profissional, tem sido difícil encontrar alguém em Nova Iorque tranquilo e satisfeito com o resultado desta última eleição presidencial e questiono-me se haverá alguém contente, com este facto, em Nova Iorque? De certeza que haverá…
Participo em muitos diálogos onde registo comentários e preocupações sobre as capacidades políticas e mentais do presidente eleito, Trump. É impossível não deixar escapar piadas e ditar sarcasmos sobre este tema, afinal o contexto e o local destas conversas é ambiente descontraído “de copos” e agindo como Nova Iorquinos, já se sabe… Para mim este tipo de conversa é sempre muito produtiva, porque a brincar a brincar vão-se dizendo algumas verdades.
Também escuto preocupações sobre o futuro sócio-económico do país e do mundo e sobre a imagem que os Estados Unidos têm agora com o novo plantel político para um dos cargos mais importantes do mundo. Debates sobre se o presidente eleito nos irá “envergonhar” e sobre a responsabilidade que Nova Iorque poderá ter para amenizar as percepções das atitudes menos positivas que possam vir a surgir? Como é habitual, os nova iorquinos surpreendem-me sempre na tenacidade, no facto de “o desistir” nunca ser uma opção e da forma continua e insaciável de explorarem soluções, mesmo com o facto de se conseguir brincar com “esta perda”. É de referir que os sketches do Saturday Night Live, um programa com mais de 40 anos na TV americana, tem tido dos momentos mais brilhantes de humor, com o tema do atual contexto político.
E os apoiantes do Trump…estes foram difíceis de encontrar em qualquer dos meus “circuitos do quotidiano”. Afinal existem poucos (eleitores) em Nova Iorque, mas consegui achar! Ao trocar algumas impressões com um amigo que apoiou a candidatura de Trump, este acredita, plenamente, que a mudança e a saída das “velhas famílias políticas” é o que o país mais precisa neste contexto e neste momento, ou seja, é imperativo uma metamorfose para planear e governar este país de outra forma. Mesmo quando lhe perguntava, até num contexto um pouco provocativo, sobre se as novas opiniões da Casa Branca poderiam ter impacto no legado e no futuro da sua filha de 9 meses, a sua opinião também foi positiva sobre este mesmo resultado.
Noto que o tema “Clinton” já quase não aparece…Há umas semanas atrás, sentia uma negação do resultado presidencial e pairava no ar uma esperança que alguma mudança de última hora, de origem cósmica, legal ou política, pudesse vir a acontecer e virar o jogo, ou neste caso, mudar o Presidente. Entretanto, o interesse sobre esta possibilidade parece que “desceu”, tal como as temperaturas que se fazem sentir por cá. Em relação aos “Obamas” a minha experiência e o meu sentimento é de bastante gratidão pelo seu trabalho e pela sua terna dedicação, tanto do presidente Barack como da fantástica primeira dama Michelle.
Tenho consciência de que estou a presenciar/viver um momento histórico deste país onde resido e que vai para além fronteiras, com grande impacto no mundo inteiro.
Também estou bastante curioso com o ano de 2017 e para confirmar se o meu modo optimista de estar na vida se irá manter igual ao dos anos anteriores. Uma coisa que me motiva e que me inspira muitíssimo é a energia desta cidade. Na tribo Nova Iorquina, na qual eu me incluo com muito orgulho, presencio nativos muito preocupados, muito atentos a todos os sinais em relação ao futuro e, como sempre, a porem a mão na massa, porque parar é morrer. As opiniões do contexto actual são partilhadas em voz bem alta com o objetivo da construção de um futuro/país melhor, mais eficiente e, acima de tudo, mais inclusivo. Obrigado Nova Iorque por este exemplo de vivência com que tanto me identifico.
VISTO DE FORA
Dias sem ir a Portugal: 10 dias.
Por aqui, nas notícias fala-se da equipa do Trump para o governo e das questões com a Rússia nas eleições.
Sabia que por cá se falam mais de 800 idiomas e dialectos pela cidade, um grande exemplo da diversidade que se vive em Nova Iorque.
Um número surpreendente que foi a disparidade de votos presidenciais em Manhattan: existiram mais de 500 mil votos para a Hillary Clinton e quase 59 mil para Donald Trump.