Estamos a meio de outubro e o dia amanheceu bem quente e ensolarado. Chegou como se viesse em missão para dar tréguas ao último mês de chuva contínua que nos obrigou a despedir rapidamente do verão. Os jardins são limpos de ervas daninhas e as árvores e arbustos são cuidadosamente penteados. No chão vêem-se caídas as primeiras folhas de outono e os transeuntes já se passeiam com os famosos gorros de lã no cocuruto.
É também tempo das bóias darem lugar às abóboras. Quaisquer corredores de supermercado, lojas e restaurantes se unem pela maior promoção do mês, quiçá do ano: o Halloween! Não soubéssemos nós a origem desta época festiva e diríamos que teria nascido no Japão.
A paixão dos japoneses pelo Cosplay (a arte da fantasia, do disfarce, de se tornarem personagens) faz com que o Halloween seja um fenómeno de popularidade transversal onde até os kiwis e os queijos se mascaram. Para além da paixão pela fantasia há o “bichinho” do consumismo e, cá para nós, o Halloween não é muito mais do que uma oportunidade que as marcas e o comércio têm para promoção e venda dos seus produtos e serviços. Há Kit-Kat de abóbora, donuts de abóbora vestidos de fantasmas, churros de abóbora, pipocas de caril (cor-de-abóbora) e batatas fritas de batata doce com sabor a abóbora, bebidas quentes e frias em copos temáticos, bolos e bolachas decorados, velas, peluches, stickers para as agendas e para o corpo, bandeirinhas e postais a desejar “Happy Halloween”, enfim, há tudo de abóbora e da cor dela!
Diz-se que os maiores impulsionadores do Halloween no Japão foram a Tokyo Disneyland, que tem desde outubro de 1997 a Halloween Parade, e a Universal Studios em Osaka. Também as escolas internacionais, onde o principal idioma é o inglês, fazem brincadeiras, festas e ensinam por esta altura vocabulário em torno do tema, terão sido uma influência.
Em 2014 pude apavorar-me na Universal Studios com o desfile de zombies e este ano, acabada de chegar do mundo da Disney “Where All Your Dreams Come True”, pude presenciar a origem desta febre e tentar percebê-la melhor.
Em Nagoya, ao longo do mês, há feiras e eventos alusivos ao Halloween e todos têm oportunidade de se trajar a preceito mas no dia 31 de outubro basta sairmos à rua para assistirmos ao verdadeiro espectáculo das máscaras e nos divertirmos à séria só a vê-los passar. A maioria das pessoas está meticulosamente caracterizada fazendo-se quase passar por actores de um filme de terror. Há também Wallys, Brancas de Neve, Super Mário Karts, Minions e muitas polícias e enfermeiras com sangue a escorrer pela cara, pernas esfoladas e meias rasgadas. Quase sempre andam mascarados aos pares ou em grupo vestidos de igual. As melhores amigas combinam antecipadamente a indumentária e não deixam nenhum pormenor ao acaso, nem a cor das lentes de contacto e tamanho das pestanas.
Apesar da aparência ser assustadora a atitude é bem tranquila. No fundo, os japoneses adoram isto só mesmo pelo imaginário e pela emoção dos preparativos.
Embora quase tudo à minha volta dê gargalhadas fantasmagóricas eu ainda resisto à tentação de me mascarar de Conde Drácula e comovo-me alegremente com o desfile dos personagens da Disney onde a única abóbora é a carruagem da Cinderela.
VISTO DE FORA
• Nas notícias por aqui… Em agosto o Imperador Akihito, de 82 anos, mostrou desejo de abdicar das suas funções tendo em conta preocupações de saúde e capacidade para continuar a exercê-las. A lei imperial moderna do Japão não permite abdicação. Esta semana houve uma primeira reunião, organizada pelo Governo, com um painel de especialistas para elaborar um relatório de estudos e entrevistas sobre a constituição, monarquia e história de forma a ir de encontro à vontade do Imperador.
• Sabia que por cá… Os táxis pertencem a diferentes grupos empresariais. Os taxistas japoneses são maioritariamente reformados. Fardados, usam quase sempre luvas brancas e chapéu. Os carros estão extremamente limpos e cuidados, os bancos e encostos de cabeça são forrados num tecido rendilhado branco imaculado, as portas abrem e fecham automaticamente e os taxistas são de uma descrição e amabilidade como se de chauffeurs se tratassem. A preocupação dos taxistas consiste em prestar um serviço de qualidade ao cliente de forma a que este se sinta confortável, seguro e satisfeito.
Em paralelo, por cá operam também aplicações como a Uber, Line Táxi, Japan Táxi e Táxi Fare Calculation. Todos têm o seu espaço.
• Um número surpreendente: 6 852 é o número de ilhas que constituem o território japonês.