Ultrapassaram-se todos os prazos, escreveram-se rios de tinta sobre as várias teses da acusação e as pontas soltas, os alegados crimes em causa, os supostos intervenientes num esquema de corrupção, branqueamento de capitais e fraude fiscal: finalmente, 1056 dias depois de José Sócrates ter sido detido para interrogatório em novembro de 2014, é divulgado o despacho de acusação que lhe imputa 31 crimes, três dos quais de grave corrupção passiva. 28 arguidos foram acusados, entre os quais Ricardo Salgado, Zeinal Bava e Henrique Granadeiro. Toda a trama está plasmada em mais de 4 000 páginas de um despacho de acusação preparado com detalhe, que envolveu uma investigação com cerca de duas centenas de buscas, onde foram inquiridas mais de 200 testemunhas e recolhidos dados bancários sobre cerca de 500 contas.
O caso parece saído de argumento de uma série blockbuster: na tese da acusação, a mais importante figura do governo esteve de conluio criminoso com a mais importante figura do poder económico nacional, num todo-poderoso acordo de vilões que envolvia favores e entregas de milhões passadas debaixo da mesa. Seguir-se-ão vários anos de julgamento e uma longa batalha judicial até que Sócrates e os outros arguidos sejam condenados ou ilibados. Uma coisa é certa: a Justiça tardou mas funcionou, provando que ninguém, nem mesmo aqueles que se consideravam Donos Disto Tudo, estão acima da lei. E isso, parecendo pouco, é extraordinário.
Para a VISÃO, que tem acompanhado este tema com a atenção que merece, os timings foram difíceis: o despacho foi conhecido já depois de impressa a revista e de iniciado o processo de expedição pelo correio para os nossos assinantes. No entanto, pela importância do momento para a democracia portuguesa, decidimos voltar a meter as rotativas a andar e imprimir mais um caderno especial de 16 páginas, com todos os detalhes sobre o processo, os arguidos e os crimes por que são acusados, o rasto do dinheiro e os bastidores da investigação. O caderno está encartado na edição que estará amanhã nas bancas, e hoje à noite disponível gratuitamente para os assinantes na Loja Impresa. Os assinantes receberão também naturalmente este dossiê especial impresso na próxima semana. Tudo para que possa formar uma opinião esclarecida sobre o caso mais importante de sempre da Justiça e da política portuguesas.
O lado desconhecido de Aristides de Sousa Mendes
Na capa desta edição memorável, que está amanhã nas bancas, trazemos um olhar diferente e intimista sobre um herói nacional. De Aristides de Sousa Mendes conhecemos os feitos extraordinários e as vidas que salvou, desobedecendo a Salazar, como cônsul de Bordéus durante o Holocausto. O que lhe propomos é conhecer o homem atrás do mito. A fé na “milagrosa” irmã Lúcia, o caso extraconjugal em França, de que nasceu uma menina, ou a ligação umbilical ao irmão gémeo, César, também diplomata, o serão com Einstein são histórias que J. Plácido Júnior conta com base no testemunho do neto Moncada de Sousa Mendes, que lança agora um livro sobre o avô.
Os caminhos sinuosos da Catalunha
Um tema da semana é, claro, o processo independentista da Catalunha. Vale a pena ler com atenção a entrevista a Gabriel Magalhães, professor de língua e cultura espanhola na Universidade da Beira Interior, que passou boa parte da sua vida no País Basco, na Galiza e na Extremadura. “É arrepiante verificar que na Europa do século XXI ainda se jogue ao póquer com o destino dos povos. Esta crítica tanto vale para o lado ‘catalanista’ como para o ‘espanholista’”, afirma.
Perigoso mundo dos esteroides
Sabia que Portugal se tornou exportador de anabolizantes? Há laboratórios clandestinos montados em vãos de escada e atletas amadores a tomarem doses cem vezes superiores à permitida. Os riscos para a saúde são graves – impotência, tumores, lesões cardiovasculares – e autópsias já provaram o seu consumo entre três atletas com mortes súbitas em Portugal. Até onde vale a pena ir para ter músculos de super-homem, é a questão que se impõe depois d eler esta investigação de Silvia Caneco.
República Popular de… Xi
Há 40 anos que ninguém acumulava tanta autoridade e devoção na China. E após a “guerra dos tronos”, dos próximos dias, em Pequim, Xi Jinping prepara-se para alargar ainda mais o seu poder e influência. Rui Tavares Guedes explica o que está em jogo.
‘Monsanto Papers’
Quando a União Europeia está prestes a decidir se proíbe o glifosato, surgem os Monsanto Papers – documentos que revelam promiscuidades entre a gigante de biotecnologia Monsanto e os organismos que declararam o seu pesticida seguro. Por outro lado, a agência da ONU que o considerou “provavelmente cancerígeno” admitiu ter ignorado dados que podiam ter alterado essa classificação. Afinal, em quem podemos confiar, pergunta o autor da peça, Luís Ribeiro.
Um Van Gogh pintado 62 mil vezes
Um novo recorde foi atingido em torno da obra do artista holandês: Loving Vincent, o seu mais recente retrato cinematográfico, é o primeiro filme do mundo inteiramente pintado a óleo. Contamos tudo sobre o filme que mistura arte e história incrível de um dos mais famosos pintores do mundo.
Bichos como nós
Para fazer o tema de capa da VISÃO Se7e desta semana, a Inês Belo (em Lisboa) e a Florbela Alves (no Porto) andaram uns quantos dias no meio dos cães e dos gatos. Divertiram-se imenso, descobriram sítios fantásticos e, depois de sacudidos os pelos, escreveram um roteiro com os novos serviços para animais de estimação que, entre outros, inclui uma creche, um restaurante com menus especiais, uma empresa que organiza festas de aniversário e um ateliê de tempos livres como este. Veja o vídeo e surpreenda-se.
Por hoje é tudo, procure-nos nas bancas, e nós estamos de volta para a semana com mais notícias frescas sobre a edição que sai à quinta-feira. No entretanto, já sabe que nos encontra sempre aqui. Atrevo-me a dizer que, nestes tempos, mais do que nunca, é preciso ter visão…