Depois de, na semana passada, termos constatado que devemos desconfiar da capacidade do Estado para poder evitar um nível terceiro-mundista de mortos num incêndio florestal, eis que, esta semana, a VISÃO se confronta com nova situação chocante (descontadas as devidas proporções). Se é dos que confia na fiabilidade dos produtos biológicos, esqueça. Se pensa que são mais saudáveis, confirme. E se os compra apenas com base na etiqueta, reconsidere. Sem querermos colocar tudo no mesmo saco – neste caso, o do supermercado… – nem fazer o justo pagar pelo pecador, relatamos apenas factos nus e crus. Nestas coisas, não há nada como dar a palavra ao Luís Ribeiro, autor deste dossiê jornalístico marcante: “Numa das análises que a VISÃO requisitou ao Labiagro, um laboratório acreditado de controlo de qualidade e segurança alimentar, uma amostra de duas couves supostamente biológicas tinha vestígios de glifosato. Na verdade, mais do que simples vestígios – apresentava níveis 12 vezes acima do máximo permitido por lei para couves de produção convencional. Ou seja, 12 vezes o limite de segurança. As couves com 1,2 mg de glifosato não estavam sozinhas. Dos 113 produtos analisados pelo laboratório, 21 continham químicos de síntese – 17 com pesticidas que não constam da lista de produtos permitidos e quatro com butóxido de piperonilo, um coadjuvante também artificial, patenteado nos anos 40, tóxico, usado nos champôs antipiolhos, considerado ‘possivelmente cancerígeno‘ pela Agência de Proteção Ambiental dos EUA.”
Retomemos a nossa conversa: isto significa que, números redondos, um em cada cinco produtos biológicos são uma fraude. Vale a pena ler para crer e, já agora – ia dizer “para abrir o apetite”, mas contive-me… –, pode verificar aqui as principais conclusões.
Para onde vão os donativos?
Provavelmente, o leitor é um dos milhares de portugueses que contribuíram para a onda de solidariedade que se propagou pelo País, muito mais rápida do que o próprio incêndio, cujos danos queremos, todos, ajudar a reparar. Mas já se interrogou se a sua ajuda chegará mesmo ao destino? E como chegará? Quem a vai gerir e que efeitos pode produzir? Longe de querer desmotivar o nosso espírito generoso, antes pelo contrário, para que fiquemos mais descansados, a Clara Teixeira e a Sílvia Caneco seguiram o rasto da ajuda e, para sermos inteiramente francos, não deixaram de detetar alguns riscos e problemas. Talvez por isso, saiba que a proliferação (e dispersão) das campanhas levou o Governo a centralizar as ofertas através da criação de um fundo que irá reunir o dinheiro angariado pela sociedade civil, sem se substituir à ajuda prestada pelas instituições públicas. O fundo será gerido pelo Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social (MTSSS), os municípios de Pedrógão Grande, Castanheira de Pera e Figueiró dos Vinhos e instituições particulares de solidariedade social locais. Várias organizações pressionaram o Governo no sentido da criação do fundo para a ajuda ser mais eficazmente distribuída, mas nenhuma entidade é obrigada a entregar a gestão dos seus donativos ao Estado. E veja aqui o que, realmente, cobrem os seguros.
Não deixar o assunto cair no esquecimento também é uma forma de ajuda. O extenso dossiê que voltamos a dedicar à tragédia inclui um completo perfil da mulher de quem se fala. É que, com as chamas extintas, ainda há quem esteja debaixo de fogo. Neste caso, o Governo e, concretamente, a titular da pasta da Administração Interna, Constança Urbano de Sousa. A Inês Rapazote traça um retrato humano e político da ministra que saltou para a ribalta e pode aqui ir já verificando alguns dados essenciais.
A matéria fica completa com um artigo sobre os desafios que se colocam ao apoio psicológico às vítimas, assunto muito badalado, depois das declarações desta semana de Pedro Passos Coelho, em Pedrógão. A nossa jornalista Clara Soares, também ela psicóloga clínica, explica o que está em causa.
Um Uber para Montemor
Gostaria de destacar dois outros assuntos com amplo desenvolvimento na edição desta semana. O primeiro trata de Economia: Travis Kalanick, fundador da Uber, foi afastado da presidência da empresa, na sequência de uma série de comportamentos duvidosos. O caso veio levantar a questão: o que é (ou não) aceitável num CEO? A Alexandra Correia explica. O segundo faz-nos lembrar o tema com que abrimos esta newsletter, mas, aqui, só tratamos de exemplos positivos: numa reportagem no País real – terreno onde a VISÃO sempre se moveu muito bem – descobrimos como, embora Montemor-o-Novo pudesse descansar à sombra de uma oliveira, se transformou, pelo contrário, num concelho vibrante a nível cultural e na vanguarda da agricultura diferenciada. Uma boa reportagem, pela positiva, da Luísa Oliveira.
A sombra de Hermínio Loureiro
Já na semana passada o nosso jornalista de investigação Miguel Carvalho tinha ido mais longe do que a concorrência no tratamento do importante assunto levantado pelo processo judicial que envolve o ex-governante e ex-autarca do PSD, e vice-presidente da Federação Portuguesa de Futebol, Hermínio Loureiro, e um outro ex-parlamentar do PSD, João Sá. Esta semana, voltamos à carga: de deputado do PSD a arguido no caso Ajuste Secreto, ainda é cedo para falar da queda de João Sá. O próximo contrato pode vir da Câmara do Porto e render quase 65 milhões de euros. “Como ele chegou aqui sem darmos por isso?” O Miguel Carvalho pergunta e responde.
Discos & sardinhas
Os 80 anos da rádio pública em Portugal foram pretexto para a edição de Cento e Onze Discos Portugueses. Folheámos o livro e seguimos as pistas de seis icónicas capas que marcaram a música portuguesa. Segredos por revelar… E que Pedro Henrique Miranda desvenda.
Na VISÃO Se7e, como é habitual, encontrará dezenas de sugestões para ocupar os seus tempos livres, entre restaurantes, espetáculos, lojas e hotéis. No tema de capa desta edição, escolhemos nove pratos de peixe e carne para grelhar e assar. E, como não podia deixar de ser, nos restaurantes de Matosinhos, puxámos a brasa à nossa sardinha.
Opinião da boa
Esta semana, os “colunistas de turno” da VISÃO estão inspirados. Da diretora Mafalda Anjos, cujo editorial trata dos abusos a que o utilizador online está sujeito, por parte dos grandes interesses comerciais, às crónicas da deputada convidada Rita Rato, do decano jornalista José Carlos de Vasconcelos, do músico Miguel Araújo e do viajante Miguel Cadilhe. Já Ricardo Araújo Pereira, a propósito dos suicídios de Pedrógão que afinal não o foram, mostra-se particularmente confuso: “É uma ocorrência (…) intrincada, na medida em que a não-notícia foi veiculada por uma não-fonte. Confesso que não sei o que não-pensar de tudo isto.”
Leia, leia, que vai ficar a não-perceber.