Guerreiros, manhosos, letais. Se há seleções com o ADN sequenciado, o Uruguai é uma delas. Não é de agora, vem de longe. Há quatro anos, em pleno Mundial do Brasil, Diego Forlán assumiu-o com todas as letras: “O Uruguai é a Itália da América do Sul. Já há há muitos anos que jogamos da mesma forma, defender e contra-atacar. Se nos dão espaço, somos mortíferos.” Neste sábado, pelas 19h, nos oitavos de final do Campeonato do Mundo de futebol, Portugal não terá o retirado Forlán pela frente, mas Cavani e Suárez, igualmente temidos, assumem as honras de perigos à solta, apoiados numa equipa que, por mais que tente adocicar o seu jogo, jamais abdica de um estilo combativo, tão bem personificado no jogador que mais vezes vestiu a camisola da seleção, Maxi Pereira.
Bem conhecido dos portugueses, o lateral direito do FC Porto que fez carreira no Benfica é agora suplente na equipa nacional, mas traduz na perfeição o espírito que a retrata, de antes quebrar que torcer. Ainda em abril passado, após um choque de cabeças com o sportinguista Doumbia, Maxi ficou estendido no relvado, a sagrar abundantemente. Quando se pensava que teria de ser substituído, poucos minutos depois já estava de volta à luta, com a cabeça envolta numa ligadura, como se nada se tivesse passado. É uma espécie de condição genética que perdura, pelo menos, desde os tempos do lendário capitão Obdulio Varela, que em 1950 comandou os temerários uruguaios até à vitória no Campeonato do Mundo, em pleno Estádio Maracanã, sobre o favorito Brasil. “O bonito não ganha jogos. Para ganhar é preciso garra e luta, jogar para ganhar e querer ganhar”, afirmou o homem que nunca perdeu um jogo nos dois Mundiais que disputou.
Esta determinação está bem presente no legado do atual selecionador Óscar Tabaréz, há 12 anos no cargo. Com ele, o Uruguai não voltou a ser campeão do mundo, como na edição inaugural de 1930, disputada em casa e por convite, e duas décadas depois, no Brasil, mas, em 2010, na África do Sul, o pequeno país sul-americano voltou a disputar uma meia-final, o que já não acontecia desde 1970. Há quatro anos, no Brasil, também passou a fase de grupos, saindo de prova nos oitavos (perante a Colômbia), onde volta agora a estar, depois de três vitórias na fase inicial (Arábia Saudita, Egito e Rússia), sem qualquer golo sofrido.
Construído à volta dos defesas centrais Godín e Giménez, a dupla do Atlético de Madrid, o bloco defensivo agrega toda a equipa num esforço coletivo para fechar os caminhos da baliza. Uma vez que Portugal, com Fernando Santos ao leme, também privilegia um certo calculismo, é de esperar um jogo de paciência, muito fechado, pelo menos enquanto não surgir o primeiro golo. “É preciso trabalhar muito, correr muito, lutar muito”, avisa o selecionador português. Pois é: quem é que não conhece o Maxi Pereira?