Uruguai 1930 – Estreia só por convite
O Campeonato do Mundo de futebol surgiu devido ao sonho de Jules Rimet, presidente da FIFA (1921-1954), em criar uma competição mundial a nível de seleções. Depois de já ter sido responsável pelo aparecimento da liga francesa, este advogado foi um visionário que, aproveitando o êxito do futebol nos Jogos Olímpicos, convenceu o seu Comité Executivo a organizar o primeiro Mundial.
A tarefa não foi fácil e a ausência de uma fase de qualificação levou a FIFA a convidar os participantes.
A maioria das seleções europeias recusou participar devido à travessia do Atlântico de barco e porque os seus jogadores, por não serem profissionais, teriam de abandonar os seus locais de trabalho durante várias semanas. Assim, apenas quatro seleções europeias reservaram uma presença no Uruguai, com as vagas a pertencerem à França, Bélgica, Roménia e Jugoslávia.
O Uruguai partiu como principal favorito e tinha vários trunfos do seu lado: jogava em casa, tinha vencido as duas últimas edições dos Jogos Olímpicos e não contava com adversários como Inglaterra, Hungria ou Itália. O Brasil, apesar da inegável qualidade, apresentou-se muito desfalcado e não era visto como um dos principais candidatos.
Uruguai e Argentina marcaram presença na final realizada no novo Estádio Centenário, onde 90 mil espectadores avivaram a rivalidade entre as duas seleções sul-americanas. Apesar da boa réplica dos visitantes, a superioridade uruguaia confirmou-se na vitória por 4-2 e a conquista do primeiro título mundial.
E Portugal
O primeiro campeonato do Mundo de futebol realizou-se com seleções convidadas pela FIFA para o evento disputado na América do Sul. A «jovem» equipa portuguesa, que se estreara frente à Espanha nove anos antes, ficou fora de um evento no qual só participaram quatro nações europeias.
Melhor marcador: Stábile (Argentina) 8 golos
Total de golos: 70
Média de golos/jogo: 3,9
Número de espectadores: 649 mil
Itália 1934 – A glória de… Mussolini
Quatro anos após a recusa de várias selecções europeias em viajar até à América do Sul, o campeão Uruguai retribuiu na mesma moeda e não defendeu o título em Itália, situação única na história da competição.
Com a organização entregue à Itália, o ditador Benito Mussolini viu no Mundial uma excelente oportunidade de propaganda política e nada melhor que uma vitória para mostrar o sucesso do seu regime fascista. Mussolini permitiu a entrada de jogadores estrangeiros na squadra azzurra desde que tivessem ascendência italiana e, dessa forma, o selecionador Vitorio Pozzo passou a contar com quatro argentinos e um brasileiro entre as suas opções.
O percurso da equipa transalpina até à final ficou marcado pela preciosa ajuda dos árbitros na vitória sobre a Espanha nos quartos-de-final. Depois de um empate (1-1) num encontro em que os italianos foram (muito) beneficiados, o trabalho do árbitro suíço Rene Mercet no jogo de repetição foi de tal forma «caseiro» que a Federação helvética ordenou a sua expulsão da arbitragem.
Nas meias-finais, a Itália eliminou a Wunderteam, a poderosa seleção austríaca, que já tinha afastado a França e a Hungria, e restava-lhe a Checoslováquia como derradeiro adversário. Os checos não se intimidaram com o ambiente provocado pelos 75 mil espectadores presentes em Roma e silenciaram o estádio quando Puc colocou a seleção de Leste em vantagem, aos 76 minutos. Mas Orsi empatou e Schiavio deu a vitória à Itália, já no prolongamento, para gáudio de Mussolini, na tribuna de honra.
E Portugal
A seleção nacional enfrentou a Espanha na primeira qualificação para um Mundial. A inexperiência da equipa liderada por Ribeiro dos Reis, que realizara apenas cinco encontros nos últimos três anos, tornava a deslocação a Madrid complicada. O que se confirmou: a seleção lusa sofreu uma pesada derrota (9-0). Mesmo assim, encarou a partida de Lisboa confiante, pois as regras ditavam que uma vitória chegava para levar a decisão para um novo jogo. Dois golos de Langara, autor de cinco no primeiro desafio, deram nova vitória a Espanha, agora por 2-1.
Melhor marcador: Nejedlý (Checoslováquia) 5 golos
Total de golos: 70
Média de golos/jogo: 4,12
Número de espectadores: 413 mil
França 1938 – Itália volta a vencer
A FIFA, pela primeira vez na história dos Mundiais, concedeu entradas diretas e os «premiados» foram a Itália, detentora do título, a França, país organizador, Brasil e Cuba, devido ao reduzido número de participantes do continente americano, e as Índias Orientais Holandeses (atualmente Indonésia), que marcaram a estreia de países asiáticos.
Mas ainda não foi na terceira edição do Mundial que se reuniram os melhores. A Espanha, em plena Guerra Civil, foi uma das ausências mais notadas, a par de Inglaterra, que teimosamente continuava a não querer participar na competição, a par da Áustria, Argentina e Uruguai.
O equilíbrio foi a nota dominante dos oitavos-de-final, fase na qual apenas três equipas não precisaram de recorrer ao prolongamento ou a um jogo de repetição para ultrapassar os seus adversários.
A França foi eliminada nos “quartos” frente à Itália (1-3) e tornou-se na primeira seleção anfitriã a não vencer a prova. Seguiu-se o Brasil, que participava pela primeira vez com os melhores jogadores, mas não conseguiu afastar a formação transalpina e regressou a casa derrotado por 2-1. No outro encontro das meias-finais, a Hungria goleou a Suécia (5-1) e prometia dificultar a revalidação do título aos italianos.
Na final, disputada sob um ambiente adverso, a formação azzurra mostrou a sua capacidade tática e derrotou a sua congénere magiar por 4-2. O conjunto de Vi.orio Pozzo, que também ganhara os Jogos Olímpicos de 1936, somava o «bis» e provava a sua hegemonia no futebol mundial.
E Portugal
No caminho para o Mundial de França, que a FIFA escolheu como anfitriã para homenagear Jules Rimet, criador da competição, quebrando assim a alternância entre o continente europeu e a América, o otimismo reinava entre os portugueses.
Nos três encontros que realizou antes da fase de qualificação, o conjunto de Cândido de Oliveira venceu dois (diante da Hungria e Espanha) e empatou na Alemanha.
Mas a terceira não foi de vez e Portugal falhou o Mundial ao perder com a Suíça (1-2), num jogo realizado em Milão.
Jogo de atribuição do terceiro lugar Brasil-Suécia 4-2
Melhor marcador: Leónidas (Brasil) 7 golos
Total de golos: 84
Média de golos/jogo: 4,67
Número de espectadores: 392 mil
Brasil 1950 – Uruguai surpreende Maracanã
A Segunda Guerra Mundial, que eclodiu poucos meses após a conclusão do Mundial de França, provocou a interrupção da prova, que só regressou 12 anos depois, com a organização entregue ao Brasil, único país que se candidatou a receber o evento.
Pela primeira vez disputado com o nome de Jules Rimet, o troféu voltou a contar com muitas ausências por motivos alheios ao futebol, como as «Alemanhas», a Argentina, a Áustria e a Escócia. Para compensar, a Inglaterra estreava-se em Mundiais, o que abrilhantou a prova disputada por 13 seleções.
O formato da competição foi alterado e a divisão por grupos substituiu o sistema por eliminatórias.
A Espanha surpreendeu a Inglaterra que perdera escandalosamente frente aos Estados Unidos (0-1) no seu grupo e juntou-se a Brasil, Suécia e Uruguai na derradeira fase, decidida por pontos.
O Brasil esmagou a Suécia e a Espanha na poule final, por 7-1 e 6-1, respetivamente, e só os uruguaios poderiam travar a evidente superioridade da formação «canarinha». No último jogo, 174 mil pessoas encheram o mítico Estádio do Maracanã, num encontro em que o empate bastava aos anfitriões para vencer o Mundial.
O trio ofensivo brasileiro, composto por Zizinho, Ademir e Jair, tinha pela frente um Uruguai motivado, apesar da teórica superioridade do rival e do ambiente que se vivia à volta do encontro. Friaça colocou o «escrete» em vantagem, mas o Uruguai fez história com os golos de Schiaffino e Ghiggia, e ficou responsável pela derrota mais dolorosa do futebol brasileiro.
E Portugal
A Espanha voltou a ser o adversário de Portugal no caminho para o Mundial, desta vez a realizar no Brasil. O primeiro encontro, disputado em Madrid, voltou a saldar-se numa pesada derrota, por 5-1. Em Lisboa, a seleção de Salvador do Carmo não conseguiu melhor que uma igualdade a dois golos, que deixou novamente os lusitanos arredados da principal competição do futebol internacional.
Melhor marcador: Ademir (Brasil) 9 golos
Total de golos: 88
Média de golos/jogo: 4,00
Número de espectadores: 1,080 milhões
Suíça 1954 – Frieza alemã trava magia húngara
O Mundial da Suíça arrancou com a Hungria como principal favorita. Os «mágicos magiares», vencedores dos Jogos Olímpicos de 1952, chegaram a Zurique invictos há 27 jogos e formavam aquela que muitos consideram a primeira grande equipa do futebol moderno.
Depois de golear a Coreia (9-0) e a Alemanha (8-3) durante a fase de grupos, a Hungria impressionava nos relvados helvéticos e prosseguiu confiante para os quartos-de-final. O Brasil foi o adversário e saiu derrotado do confronto com os magiares por 4-2. Nos outros encontros, a Alemanha afastou a Jugoslávia, o Uruguai, detentor do troféu, eliminou a Inglaterra, e a Áustria venceu a Suíça por 7-5, no jogo com mais golos na história da prova.
Nas meias-finais, a Alemanha goleou a Suíça (6-1), enquanto a Hungria venceu o bicampeão Uruguai (4-2) e infligiu a primeira derrota aos sul-americanos em Mundiais.
No dia da final, a derrota que o conjunto magiar impôs à Alemanha na primeira fase estava ainda presente na memória de todos. Contudo, a formação germânica tinha jogado sem alguns jogadores influentes, estrategicamente poupados pelo visionário Sepp Herberger, e Ferenc Puskas, a principal estrela húngara, disputou a final fisicamente debilitado.
A Hungria já vencia por 2-0 aos oito minutos, com golos de Puskas e Czibor, e parecia totalmente afastada a hipótese de uma surpresa como a que ocorrera no Brasil quatro anos antes. Mas os golos de Morlock e Rahn (dois) inverteram o resultado a favor dos alemães e a surpresa repetiu-se.
E Portugal
Para marcar presença no Mundial helvético, a seleção nacional tinha de eliminar a poderosa Áustria, uma das potências do futebol mundial da época. A começar, uma vez mais, na condição de visitante, Portugal foi copiosamente derrotado em Viena (9-1) e não foi além de um empate caseiro sem golos.
Prova da força do adversário português foi o honroso terceiro posto que a Áustria conseguiu no Mundial, perdendo apenas nas meias-finais com a Alemanha, que venceria o torneio.
Jogo para o Terceiro lugar
Áustria-Uruguai 3-1 (100.º jogo da história do Mundial)
Melhor marcador: Kocsis (Hungria) 11 golos
Total de golos: 140 Média de golos/jogo: 5,38
Número de espectadores: 770,5 mil espectadores
Suécia 1958 – Pelé mostra-se ao Mundo
Finalmente o Brasil conseguiu aliar a sua indiscutível superioridade técnica a um futebol objetivo e maravilhou o Mundo. Com um sistema assente no 4-2-4, a seleção brasileira chegou ao primeiro título e consagrou jogadores como Pelé, Garrincha e Vavá. Este Mundial ficou também marcado por ter sido o primeiro com transmissões televisivas para todo o globo.
Além do Brasil, o evento reuniu outras seleções de referência, como a campeã olímpica União Soviética, a Alemanha, a França e a anfitriã Suécia.
A formação «canarinha» estreou-se com uma vitória sobre a Áustria (3-0), mas o nulo verificado frente à Inglaterra o primeiro encontro sem golos na história dos Mundiais motivou o selecionador Vicente Feola a efetuar algumas alterações na equipa, entre as quais, a entrada dos jovens Garrincha e Pelé.
As mudanças notaram-se logo na última partida da fase de grupos, quando o Brasil venceu a União Soviética (2-0) com golos de Vavá, num encontro em que os dribles de Garrincha desconcertaram os adversários.
Nos «quartos», o Brasil afastou o País de Gales com um golo de Pelé, mas foi nas meias-finais que o «rei» começou a tornar-se lendário. Um hat-trick do miúdo do Santos contribuiu para a vitória sobre a França por 5-2, o mesmo resultado da final.
A Suécia foi incapaz de contrariar a supremacia dos brasileiros e viu a Taça Jules Rimet viajar para a América do Sul. Pelé, com apenas 17 anos, marcou seis golos na prova e tornou-se o mais jovem campeão mundial de sempre.
E Portugal
Na estreia do sistema de grupos na fase de qualificação para o Mundial, Portugal participa num grupo com Itália e Irlanda do Norte. Os britânicos arrancaram um empate em Lisboa (1-1) e derrotaram a formação de Tavares da Silva, em Belfast, por 3-0.
Adivinhava-se difícil a missão lusa depois dos embates iniciais, mas uma vitória na receção à Itália (3-0) devolveu a esperança. Só que uma derrota em Milão, pelo mesmo resultado, abriu caminho à Irlanda do Norte, que viajou até à Suécia.
Jogo para o Terceiro lugar
França-Alemanha 6-3
Melhor marcador: Fontaine (França) 13 golos
Total de golos: 126
Média de golos/jogo: 3,60
Número de espectadores: 772 mil espectadores
Chile 1962 – Garrincha ‘substitui’ Pelé
Apesar de confiantes, os brasileiros partiram para o Chile sem o técnico que os conduziu à primeira vitória, mas levavam Garrincha, o jogador que se revelou a principal estrela do torneio.
Vicente Feola deixou o cargo por motivos de saúde e muitos desconfiaram da capacidade do seu substituto, Aimoré Moreira, que apostou praticamente na mesma equipa mas preferia o sistema 4-3-3.
Logo no segundo jogo, no nulo frente à surpreendente Checoslováquia, Pelé contraiu uma lesão que o afastou da prova e foi substituído por Amarildo. O avançado do Botafogo ainda somou três golos no torneio, mas seria a magia de Garrincha a conduzir o Brasil à glória.
Este Mundial fica também marcado pela violência, com seis expulsões no campeonato, duas das quais na partida entre o Chile e a Itália, da fase de grupos, que seria recordada como a «batalha de Santiago».
Alguns dos principais adversários do Brasil regressaram a casa logo após a primeira fase: Uruguai, Itália, Argentina e Espanha, que se «reforçara» com o húngaro Ferenc Puskas. Como se não bastasse, nos quartos-de-final registaram–se novos desfechos inesperados, que abriram o caminho para a vitória de Garrincha e companhia.
Enquanto o Brasil cumpria ao vencer a Inglaterra (3-1), a União Soviética, que dois anos antes vencera o Europeu, foi afastada pelo Chile, enquanto a Jugoslávia derrotou a Alemanha e os checos bateram a Hungria.
Tal como no Mundial da Suécia, o Brasil afastou a seleção anfitriã (4-2) e venceu a Checoslováquia na final por 3-1, igualando o «bis» da Itália e do Uruguai em Mundiais.
E Portugal
O apuramento para o Mundial do Chile começou bem e os jogos em solo nacional saldaram-se numa goleada sobre Luxemburgo (6-0) e um empate frente à Inglaterra (1-1). Com tudo ainda por decidir, Portugal partiu para o Luxemburgo com Eusébio na comitiva, que se estreava com a camisola das quinas, mas foi vergonhosamente derrotado (4-2). No último jogo, em Wembley, o conjunto liderado pelo violino Fernando Peyroteo precisava de vencer a Inglaterra, mas não conseguiu o objetivo (2-0) e adiou a estreia em Mundiais.
Jogo para o Terceiro lugar
Chile-Jugoslávia, 1-0
Melhor marcador: Garrincha (Brasil) 4 golos
Total de golos: 89
Média de golos/jogo: 2,78
Número de espectadores: 883 mil
Inglaterra 1966 – ‘God save the Queen’
Portugal estreou-se em Mundiais apenas em 1966, com uma equipa composta principalmente por jogadores de Benfica e Sporting, que tinham conquistado importantes provas europeias no início da década.
Integrados no mesmo grupo que o campeão Brasil, os Magriços completaram a primeira fase com três vitórias noutros tantos encontros, sempre pela «chapa» três: 3-0 à Bulgária e 3-1 frente à Hungria e Brasil.
A Coreia do Norte causou uma das principais surpresas ao vencer a Itália (1-0) e foi o adversário de Portugal nos quartos-de-final, num dos mais épicos jogos da competição. Depois de estar a perder por 3-0, a seleção nacional teve forças para virar o resultado e venceu por 5-3, com Eusébio a apontar quatro golos que muito contribuíram para ser o melhor marcador do torneio com nove tentos.
Quis o destino que nas meias-finais Portugal se cruzasse com a poderosa seleção anfitriã no mítico Wembley, que tinha, entre outros excelentes jogadores, Bobby Charlton. A equipa de O.o Glória exibiu-se a um bom nível, mas os ingleses foram superiores e venceram por 2-1. Restou o terceiro lugar como consolação à brilhante campanha lusa, após vitória sobre a União Soviética (2-1).
A Inglaterra defrontou a Alemanha na final e os 90 minutos terminaram empatados (2-2). No prolongamento, Geoff Hurst, que alcançou o único hat-trick em finais, apontou um dos mais controversos golos dos Mundiais mais tarde confirmou-se que a bola não entrou e a Inglaterra venceu (4-2) o seu primeiro e único troféu.
A 1.ª vez de Portugal
Foi na oitava edição da prova que Portugal se estreou e logo com uma entrada no pódio, com o terceiro lugar a premiar uma excelente campanha.
Depois de vencer Hungria, Bulgária e Brasil, os jogadores de O.o Glória (selecionados por Luz Afonso) eliminaram a Coreia do Norte nos quartos-de-final (5-3), num encontro que ameaçou ser um pesadelo devido à vantagem de três golos dos asiáticos.
O sonho acabou nas meias-finais, quando a anfitriã Inglaterra derrotou Portugal.
A imagem de Eusébio, melhor marcador do torneio, a chorar, percorreu o Mundo.
Jogo para o Terceiro lugar
Portugal-União Soviética, 2-1
Melhor marcador: Eusébio (Portugal) 9 golos
Total de golos: 89
Média de golos/jogo: 2,78
Número de espectadores: 1,595 milhões
México 1970 – Brasil soma “tri” e encanta
Juntar numa seleção tantos craques como o Brasil conseguiu no México é uma proeza que demonstra a força do futebol de um país. Pelé, Tostão, Rivelino, Jairzinho e Gérson formavam o ataque implacável de uma equipa que a FIFA considerou «a seleção do século». Orientada por Mário Zagallo, que tinha vencido o «bis» enquanto jogador, a formação «canarinha» teve um registo brilhante na prova, na qual venceu três campeões mundiais Inglaterra, Uruguai e Itália e terminou com o impressionante registo de 23 golos marcados e apenas dois sofridos.
Apesar da altitude e do intenso calor, o Mundial do México presenciou momentos de rara beleza.
Um bom exemplo aconteceu no Brasil-Inglaterra (1-0), ainda da fase de grupos. Gordon Banks, o guarda-redes inglês, voou para desviar um cabeceamento de Pelé e ficou célebre por realizar a «defesa do século».
Nas meias-finais, a Itália, que se tinha qualificado com uma vitória por 1-0 e com dois empates a zero, encontrou a Alemanha e realizaram o «jogo do século». Por seu lado, os germânicos tinham vencido a Inglaterra na ronda anterior e vingaram a polémica derrota sofrida em Wembley.
Depois do empate a um golo, Itália e Alemanha protagonizaram um festival de ataque durante o prolongamento, com cinco golos em apenas 21 minutos, e a vitória a pertencer à squadra azzurra (4-3).
Na final provou-se que o futebol ofensivo dos brasileiros era claramente superior ao tradicional catenaccio italiano. O Brasil venceu por 4-1 e arrecadou o troféu Jules Rimet.
E Portugal
Poucos poderiam acreditar que Portugal falharia o apuramento para o Mundial do México, principalmente depois de começar a fase de qualificação com uma vitória caseira sobre a Roménia (3-0).
Mas o terceiro classificado do Inglaterra’66, agora orientado por José Maria Antunes, não venceu mais qualquer partida num grupo que incluía também Grécia e Suíça, somando três derrotas e dois empates.
Jogo para o terceiro lugar
RFA-Uruguai 1-0
Melhor marcador: Müller (RFA) 10 golos
Total de golos: 95
Média de golos/jogo: 2,97
Número de espectadores: 1,572 milhões
RFA 1974 – “Futebol total” traído por Muller
A Holanda apresentou neste Mundial um novo conceito de futebol que consistia num «carrossel» entre os jogadores, incumbidos de atacar e defender, alternando constantemente de posições.
Era o «futebol total», concebido por Rinus Michel, a surpreender o Mundo.
Devido ao crescente negócio em torno do futebol, a FIFA mudou o formato do campeonato, que passou a contar com novos grupos logo após a fase inicial, dos quais os primeiros classificados passariam à final.
A única surpresa foi a eliminação da Itália, que ficou atrás de Polónia e Argentina. Os polacos foram, aliás, uma das sensações da prova. Depois de vencer o seu grupo, a formação de Leste só perdeu frente à Alemanha, que venceu os três jogos da segunda fase e relegou a Polónia para o jogo de terceiro e quarto lugares, no qual Lato e companhia derrotaram o Brasil (1-0).
No outro grupo, a Holanda impôs a força do seu futebol perante Brasil, República Democrática Alemã e Argentina, e a equipa de Cruyff, Rep e Neeskens imitou a Alemanha ao contar os jogos da segunda fase por vitórias.
A final não podia começar melhor para a «laranja mecânica». Johan Cruyff «rompeu» o meio campo germânico e sofreu uma grande penalidade que Neeskens converteu logo no primeiro minuto.
Mas a Alemanha manteve a sua frieza e virou o resultado ainda na primeira parte, com golos de Breitner e Gerd Müller. A partir daí, a mannscha. limitou-se a controlar o jogo, sempre com Cruyff muito vigiado, e o troféu acabaria nas mãos do «capitão» Franz Beckenbauer.
E Portugal
Os triunfos iniciais sobre a frágil seleção cipriota abriam boas perspctivas ao apuramento de Portugal para o Mundial da Alemanha, mas os embates frente à Irlanda do Norte e à Bulgária, que marcaram a despedida de Eusébio após 41 internacionalizações, saldados com três empates e uma derrota, impossibilitaram a segunda participação lusa no torneio.
Jogo para o terceiro lugar
Polónia-Brasil 1-0
Melhor marcador: Lato (Polónia) 7 golos
Total de golos: 97
Média de golos/jogo: 2,55
Número de espectadores: 1,852 milhões
Argentina 1978 – E Deus é argentino!
A Argentina parou para respirar a euforia: na sua estreia como organizadora do Mundial, a seleção do país do tango conseguiu voltar a fazer da Holanda, considerada a melhor equipa do Mundo, a finalista derrotada.
O país das Pampas vivia sob uma ditadura militar quando um movimento de protesto contra a realização do campeonato na Argentina eclodiu na Europa, contudo incapaz de demover João Havelange, o presidente da FIFA.
Embalados pela loucura que tomou conta dos argentinos, a equipa de César Luís Meno.i começou com dois triunfos por 2-1, sobre Hungria e França, e uma derrota pela diferença mínima frente a Itália.
Sem o mesmo brilho do Mundial anterior, muito por culpa da ausência de Cruyff, que foi a voz do protesto contra a violação dos direitos humanos e não viajou até à Argentina, a Holanda qualificou–se com o seu segundo posto, atrás do Peru.
Na segunda fase de grupos, os holandeses superaram Itália, Alemanha e Áustria, enquanto a Argentina viu a sua tarefa mais complicada por ter a companhia do Brasil.
Os rivais sul-americanos chegaram à última ronda em igualdade pontual e, sem que nada o justificasse, a Argentina jogou depois do Brasil e ficou a saber o número de golos que precisava para terminar no primeiro lugar e atingir a final. Precisava de quatro, mas marcou seis e concretizou o objetivo.
Quatro anos depois a Holanda voltava a encontrar os anfitriões na final. Depois do 1-1, os argentinos chegaram ao 3-1 no prolongamento e sagravam-se campeões do Mundo pela primeira vez.
E Portugal
Só o futebol atlético que caracterizou a Polónia nas décadas de 1970 e 1980 evitou a presença de Portugal na Argentina. Comandada por José Maria Pedroto, a formação lusa somou a única derrota na fase de qualificação no jogo inaugural, na receção aos polacos (0-2), que contavam com Grzegorz Lato nas suas fileiras.
Apesar das quatro vitórias diante da Dinamarca e de Chipre, Portugal empatou (1-1) no Leste europeu, no único encontro que a Polónia não venceu, e ficou fora do Mundial.
Jogo para o terceiro lugar
Brasil-Itália, 2-1
Melhor marcador: Kempes (Argentina) 6 golos
Total de golos: 103
Média de golos/jogo: 2,68
Número de espectadores: 1,658 milhões
Espanha 1982 – Itália chega ao “tri”
No Mundial que a FIFA alargou a 24 seleções devido à pressão das confederações asiática e africana, a Itália afastou o Brasil, favorito à conquista do título, e venceu a prova com mérito.
Depois de um começo dececionante, com três empates nos jogos da primeira fase, a Itália qualificou-se para um grupo que incluía Brasil e Argentina. A seleção brasileira reunia um excelente grupo de jogadores, entre os quais Falcão, Sócrates e Zico, e chegou sem dificuldades a esta fase, com três vitórias iniciais.
Já a Argentina apurou-se no segundo lugar do grupo, atrás da Bélgica, e apesar de estar longe da força que evidenciou quatro anos antes, quando chegou ao primeiro título, mostrava um génio ao Mundo: Diego Maradona.
O Brasil e a Itália venceram a Argentina e deixaram a decisão do grupo para o encontro que disputaram entre si. Os brasileiros exibiam um futebol espetacular, mas o contra-ataque italiano e o instinto de Paulo Rossi, autor de um hat-trick, foram determinantes na vitória azzurra, por 3-2.
A Polónia foi a vítima que se seguiu no percurso dos italianos, enquanto na outra meia-final a Alemanha tornou-se a primeira seleção a vencer no desempate por penalties ao afastar a França.
A Alemanha estava a realizar um Mundial discreto mas, apesar de ter sido uma das desilusões da primeira fase, a par da Itália, já tinha afastado seleções como Inglaterra e Espanha.
A formação de Enzo Bearzot, motivada pelos últimos resultados, venceu a Alemanha na final por 3-1 e sagrou-se tricampeã mundial.
E Portugal
Com o alargamento do Mundial, a FIFA decide qualificar os dois primeiros classificados de cada grupo da fase de apuramento e, num grupo no qual figuravam Escócia, Irlanda do Norte, Suécia e Israel, esperava-se que Portugal estivesse presente em Espanha.
Mas problemas entre os jogadores e o selecionador Juca, que retirou a braçadeira de «capitão» a João Alves devido a declarações do Luvas Pretas, e, principalmente, as derrotas com a Suécia, deixaram novamente a seleção nacional fora do Mundial.
Jogo para o terceiro lugar: Polónia-França 3-2
Melhor marcador: Paolo Rossi (Itália) 6 golos
Total de golos: 146
Média de golos/jogo: 2,81
Número de espectadores: 2,105 milhões
México 1986 – Maradona toca o céu
Vinte anos após a estreia, Portugal voltava ao Mundial. A prestação da seleção nacional esteve longe de corresponder às expectativas e a eliminação surgiu logo na primeira fase.
Mas este seria o Mundial de Maradona.
Nem mesmo Pelé foi tão decisivo na conquista do primeiro título brasileiro como Maradona o foi no México. Carlos Bilardo, o selecionador argentino, montou um esquema que protegia o futebol de “el pibe”, que dispunha de liberdade para exibir toda a sua magia.
Numa prova que viu novamente o seu formato alterado, agora com seis grupos iniciais seguidos de eliminatórias, Portugal encontrou Inglaterra Marrocos e Polónia.
Mas a campanha nacional ficaria tristemente marcada pelo “caso Saltillo”. Jogadores e federação entraram em conflito e, apesar da vitória sobre Inglaterra (1-0), Portugal averbou derrotas nas restantes partida e regressou a casa.
Nos quartos-de-final, a equipa das Pampas defrontou a Inglaterra. Mais que a rivalidade de um jogo, em causa estava também a recente guerra das Malvinas (1982), que opôs os dois países.
A Argentina venceu (2-1) com dois golos inesquecíveis de Maradona. E se o primeiro foi irregular (a famosa “mão de Deus”), o segundo foi uma obra de arte. Maradona percorreu o meio-campo inglês com a bola colada ao pé esquerdo, passou seis adversários e apontou aquele que a FIFA considerou o “golo do século”.
A Alemanha foi o derradeiro adversário. Mesmo a perder por 2-0, os alemães chegaram ao empate, mas Burruchaga fechou o resultado a favor da Argentina.
A 2.ª vez de Portugal
Portugal regressou à principal competição futebolística vinte anos depois de se estrear em Inglaterra (Carlos Manuel marcou um golo memorável e decisivo na Alemanha, no último jogo da fase de qualificação), mas cedo se despediria do certame mexicano.
O conflito entre jogadores e federação, conhecido pelo «caso Saltillo», que motivou a intervenção do Presidente da República Mário Soares, condenou a participação lusa no Mundial ao fracasso.
Ainda assim, a equipa do Magriço José Torres venceu a Inglaterra (1-0), mas os desaires diante Polónia e Marrocos terminaram com a aventura mexicana.
Jogo para o terceiro lugar: França-Bélgica, 4-2
Melhor marcador: Lineker (Inglaterra) 6 golos
Total de golos: 132
Média de golos/jogo: 2,54
Número de espectadores: 2,385 milhões
Itália 1990 – Alemanha foi a menos má
O Mundial de 1990 fica na história como um dos mais pobres em termos de espetáculo. “Amarradas” a exigentes sistemas defensivos, as principais seleções só exibiram um bom nível a espaços, dececionando os adeptos da competição.
Prova da mediocridade a que se assistiu em Itália foi a falta de golos, e é sem surpresa que o recorde de menos golos marcados em média por jogo pertença ao campeonato do Mundo transalpino: apenas 2,1 golos por encontro, contrastando com a média inigualável da prova na Suíça em 1954 (5,4).
A Argentina, detentora do título, partiu como favorita, mas contava com a concorrência da anfitriã Itália, da Alemanha, que se sagrara vice-campeã nas duas últimas edições, do eterno candidato Brasil, e da Holanda, campeã europeia em 1988.
Os alvi-celestes começaram o Mundial a perder com os Camarões e conseguiram a qualificação apesar do terceiro lugar. Só a partir dos oitavos-de-final, quando eliminaram o Brasil (1-0), é que a confiança voltou a reinar entre os argentinos.
Com a “estrela” de Maradona longe de brilhar como acontecera no México, a Argentina prosseguiu o seu caminho até à final com vitórias sobre Jugoslávia e Itália, sempre no desempate por penalties.
À sua espera no Olímpico de Roma estava a poderosa Alemanha, ávida por vingar a derrota do México. A formação germânica, orientada por Franz Beckenbauer, deixara pelo caminho Holanda, Checoslováquia e Inglaterra, e foi com um único golo de Andreas Brehme, também de penalty, que venceu o seu terceiro Mundial e igualou Brasil e Itália em títulos.
E Portugal
Inserido no mesmo grupo que Bélgica, Checoslováquia, Suíça e Luxemburgo, a seleção nacional deitou tudo a perder nos encontros frente aos checoslovacos e ficaria fora do Mundial transalpino. Com Artur Jorge a substituir Juca no comando técnico, já durante a fase de qualificação, Portugal esteve perto de conseguir o apuramento, mas uma derrota e um empate frente à Checoslováquia não permitiram mais que um frustrante terceiro lugar.
Jogo para o terceiro lugar: Itália-Inglaterra 2-1
Melhor marcador: Schillaci (Itália), 6 golos
Total de golos: 113
Média de golos/jogo: 2,31
Número de espectadores: 2,461 milhões
EUA 1994 – O “tetra” brasileiro
A FIFA arriscou ao atribuir o Mundial aos Estados Unidos, país mais conhecido pela paixão por outras modalidades. Contudo a aposta revelou-se um sucesso, com os estádios repletos e o registo da média mais alta de adeptos.
Numa prova que contou com ausências como França, Inglaterra e Dinamarca, que vencera o Europeu de 1992, a FIFA implementou o sistema de três pontos por vitória para tentar contrariar o rigor defensivo que caracterizou o Itália’90.
A seleção da casa foi uma agradável surpresa ao qualificar-se para os oitavos-de-final, só que a sorte foi madrasta e ditou que o adversário fosse o Brasil, que eliminou os anfitriões no dia da independência americana.
Um Mundial que também ficou marcado pela despedida de Maradona. “El pibe” jogou na goleada inicial frente à Grécia (4-0), na qual marcou um dos melhores golos do torneio, e diante a Nigéria, mas depois acusou positivo num controlo anti-doping.
Sem Maradona, a Argentina, que continuava a dispor de um lote de excelentes jogadores, foi eliminada nos “oitavos” pela Roménia, comandada por Gheorghe Hagi.
Até à final, que voltou a juntar Brasil e Itália, a formação “canarinha” afastou da competição Holanda e Suécia, enquanto a squadra azzurra, de Roberto Baggio, eliminou Nigéria, Espanha e Bulgária, sempre pela margem mínima.
No dia da final, quase 100 mil pessoas presenciaram um encontro sem grande entusiasmo, cuja decisão teria de passar pela marcação de penalties. Il Codino, o mais virtuoso jogador italiano na prova, rematou por cima e ofereceu o “tetra” ao Brasil.
E Portugal
A Itália, que terminou na liderança do grupo e infligiu duas derrotas à seleção nacional, foi a principal responsável pelo não apuramento da seleção de Carlos Queirós para o Mundial.
Com a «geração de ouro», vencedora de dois Mundiais de júniores, a começar a despontar na seleção principal, casos de Figo, João V. Pinto, Vítor Baía e Rui Costa, Portugal somou menos um ponto que a Suíça e não carimbou o passaporte para os Estados Unidos.
Jogo para o terceiro lugar: Suécia-Bulgária 4-0
Melhor marcador: Stoichkov (Bulgária) e Salenko (Rússia) 6 golos
Total de golos: 141
Média de golos/jogo: 2,71
Número de espectadores: 3,516 milhões
França 1998 – França no topo do Mundo
Tal como sucedera em 1984, quando os bleus venceram o Europeu que organizaram, a França voltou a aproveitar o factor casa para chegar ao título. Com Zidane a confirmar a sua genialidade, os franceses atingiram o topo do Mundo pela primeira vez. A FIFA voltou a alargar o Mundial, agora composto por 32 equipas divididas por oito grupos. Na primeira fase não se registaram grandes surpresas, à excpção da Espanha, superada por Nigéria e Paraguai, e da desilusão da envelhecida seleção búlgara, que terminara em quarto nos Estados Unidos.
A França e a Argentina foram as únicas seleções que venceram todos os jogos da primeira fase e perfilavam-se como fortes candidatos, tal como o inevitável Brasil, a Itália e a Holanda.
A França afastou o Paraguai nos “oitavos” com um “golo de ouro”, na primeira vez que se decidiu uma partida através desta regra. Faltavam sete minutos para o final do prolongamento quando Laurent Blanc superou Chilavert e apurou os “galos”.
Rumo à final, a França encontrou ainda a Itália, que afastou nos penalties, e a Croácia, que venceu por 2-1, com golos do defesa Lilian Thuram, que nunca marcara pela seleção.
O Brasil goleou o Chile nos “oitavos”, por 4-1, e, mesmo sem o brilho de outrora, chegou à final depois de eliminar Dinamarca (3-2) e Holanda, nos penalties. Com Ronaldo a jogar limitado, depois de ter sofrido convulsões antes do encontro, o Brasil foi presa fácil para os franceses, que venceram por 3-0 e conquistaram a competição criada pelo compatriota Jules Rimet.
E Portugal
O mau arranque para o Mundial de França, com um empate e uma derrota, foi um duro golpe nas aspirações portuguesas.
Seguiram-se duas vitórias, resfriadas com dois empates, mas os triunfos sobre Albânia e Arménia deixaram tudo em aberto para a deslocação à Alemanha, no último jogo da fase de qualificação: uma vitória dava a qualificação..
Com Portugal a vencer por 1-0 e com um pé em França, o árbitro francês Marc Bata expulsou Rui Costa, por entender que o médio tardava a sua substituição, e o conjunto de Artur Jorge consentiu o empate, que o afastou da prova.
Jogo para o terceiro lugar: Croácia-Holanda 2-1
Melhor marcador: Suker (Croácia), 6 golos
Total de golos: 171
Média de golos/jogo: 2,67
Número de espectadores: 2,775 milhões
Coreia do Sul/Japão 2002 – O “renascimento” de Ronaldo
Na primeira vez que a organização do Mundial coube a dois países, repetindo-se a experiência do Europeu que dois anos antes tivera lugar na Bélgica e na Holanda, a FIFA escolheu duas nações do estreante continente asiático: Coreia do Sul e Japão.
Foi o torneio que revelou mais surpresas até à data. Os teoricamente favoritos iam sendo afastados e sobraram Brasil e Alemanha para provar a resistência das grandes potências do futebol.
Logo no jogo inaugural, a França, detentora do título, foi surpreendida pelo Senegal, a revelação da prova. Abatidos pelo desaire, os franceses foram afastados sem marcar golos e o melhor que conseguiram foi um nulo com o Uruguai.
Quem também falhou nesta fase foi Portugal, que voltou ao Mundial 16 anos depois. A seleção lusa apresentava excelentes jogadores, mas a “geração de ouro” perdeu frente a Estados Unidos e Coreia do Sul e despediu-se da prova. Ficou a goleada à Polónia (4-0) como registo do potencial da equipa.
A Itália, que já sofrera para passar no seu grupo, foi afastada nos “oitavos” pela Coreia, que voltou a surpreender ao eliminar a Espanha na ronda seguinte, embora tenha beneficiado de vários erros de arbitragem nestes encontros.
As meias-finais juntaram as surpresas da prova e dois antigos campeões, com o Brasil a afastar a Turquia e a Alemanha a derrotar os anfitriões, ambos por 1-0.
Ronaldo, que nos últimos três anos poucas vezes jogara devido a uma lesão no joelho, voltou a mostrar o seu talento e apontou os dois golos com que a equipa de Scolari derrotou a Alemanha e venceu o “penta”.
A 3.ª vez de Portugal
O terceiro lugar no Europeu de 2000 e a qualidade dos jogadores que viajaram até ao Oriente prometiam uma fase final de sucesso para a equipa das quinas. Pura ilusão: o que aconteceu foi mais um fracasso.
Portugal estreou-se com uma derrota inesperada e implacável frente aos Estados Unidos (3-2), mas a goleada imposta à Polónia (4-0) adiou a decisão do apuramento para o último jogo. A Coreia do Sul derrotou Portugal, num jogo em que João Pinto agrediu o árbitro (Beto também foi expulso), e relegou a equipa lusa para o grupo das desilusões da prova.
Jogo para o terceiro lugar: Coreia do Sul-Turquia, 2-3
Melhor marcador: Stoichkov (Bulgária) e Salenko (Rússia) 6 golos
Melhor marcador: Ronaldo (Brasil) 8 golos
Total de golos: 161
Média de golos/jogo: 2,51
Número de espectadores: 2,704 milhões
Alemanha 2006 – Itália faz jus à fama
No regresso à Europa, a Alemanha recebeu pela segunda vez a fase final, 32 anos depois de ter conquistado o troféu na qualidade de anfitriã. Desta feita, porém, cairia aos pés da Itália, nas meias-finais, graças a dois golos de rajada nos últimos minutos do prolongamento, primeiro pelo lateral Fabio Grosso e depois por Alessandro del Piero.
Foi com alguma surpresa que os italianos chegaram à final e acabaram por conquistar o quarto título da sua história, no desempate por penáltis, frente à França, mas a velha squadra azzurra limitou-se a confirmar a fama de equipa astuta e pragmática para fazer a festa. É o célebre jogo em que Materazzi insulta Zidane e o francês responde com uma cabeçada no peito do italiano, qual touro enraivecido.
Campeão em título e vencedor da Taça das Confederações disputada no ano anterior, o Brasil não confirmou o estatuto de principal favorito, ao sucumbir logo nos quartos de final, perante os franceses (0-1).
Das quatro estreantes africanas, Togo, Angola, Costa do Marfim e Gana, apenas esta última seleção superou a fase de grupos, tendo sido afastada pelos brasileiros nos oitavos.
E Portugal
Na segunda fase final com Luiz Felipe Scolari no comando técnico, após o Euro 2004, a Seleção portuguesa chegou ao jogo para o terceiro lugar, perdido para a equipa da casa (3-1). Nas meias-finais, tinha sido a França a travar a caminhada de Portugal, com um golo solitário de Zidane, na conversão de um penálti. Na despedida de Figo dos grandes palcos internacionais, a Equipa das Quinas tinha eliminado a Holanda (1-0, golo de Maniche) e a Inglaterra (3-1 nos penáltis, com Ricardo a fechar a baliza) nas rondas anteriores.
Jogo para o terceiro lugar: Alemanha-Portugal (3-1)
Melhor marcador: Miroslav Klose (Alemanha) 5 golos
Total de golos: 147
Média de golos/jogo: 2,3
Número de espectadores: 3,359 milhões
África do Sul 2010 – O fim da longa espera, em modo tiki-taka
Ao ritmo de Xavi e Iniesta, dois mestres do famoso estilo tiki-taka que fez do Barcelona de Guardiola uma das equipas mais brilhantes de sempre (no mínimo), a Espanha quebrou, enfim, o enguiço, sagrando-se pela primeira vez campeã mundial. De 1-0 em 1-0, a começar nos oitavos de final diante de Portugal e a terminar na final perante uma super Holanda (com Sneijder e Robben endiabrados), já no prolongamento, os espanhóis juntaram o Mundial ao Europeu conquistado dois anos antes, num reconhecimento mais do que merecido para uma geração de alta qualidade.
Na primeira fase final organizada no continente africano, a anfitriã ficou-se pela primeira fase, mas as grandes desilusões foram a França e a campeã Itália, que foram para casa ao fim dos três jogos da primeira fase, sem qualquer triunfo na bagagem. A Argentina, de Lionel Messi, ainda chegou aos quartos de final, mas o tombo também foi grande, com a goleada sofrida frente à Alemanha (4-0).
E Portugal
Depois de uma primeira fase mal conseguida, em que os 7-0 à frágil Coreia do Norte não foram suficientes para esconder a debilidade ofensiva exibida com o Brasil e a Costa do Marfim (0-0 em ambos os jogos), foi sem surpresa que Portugal acabou eliminado pela Espanha. Um golo de David Villa bastou para sentenciar o destino dos comandados de Carlos Queiroz (o único sofrido em toda a prova), que nunca chegaram sequer a ameaçar a passagem dos espanhóis à ronda seguinte.
Jogo para o terceiro lugar: Alemanha-Uruguai (3-2)
Melhor marcador: Muller (Alemanha), Villa (Espanha), Sneijder (Holanda) e Forlán (Uruguai) 5 golos
Total de golos: 145
Média de golos/jogo: 2,27
Número de espectadores: 3,178 milhões
Brasil 2014 – O trauma dos 7-1 que pôs uma nação a chorar
Um golo atrás do outro, quase parecia matraquilhos. O sonho do Brasil ruiu em poucos minutos, na meia-final perante a Alemanha, insaciável no ataque à baliza de Júlio César. Ao intervalo, já os alemães venciam por 5-0 e mais poderiam ter sido. Dos 23 aos 29 minutos, marcaram por quatro vezes. Acabou com um 7-1 traumatizante, que deixou jogadores e fãs brasileiros a chorar. Um choque que até aos germânicos causou algum desconforto, tal a humilhação imposta à equipa da casa, o todo-poderoso Brasil.
Na final com a Argentina, mais uma festa estragada na América do Sul: um golo de Mario Gotze, no prolongamento, desbloqueou o quarto título para a Alemanha e manteve Messi um passo atrás de Maradona, na hierarquia de ídolos argentinos do desporto-rei.
Costa Rica e Colômbia, resistentes até aos quartos de final, foram duas boas surpresas da competição, ao passo que Inglaterra, Itália e Espanha saíram de cena logo na fase de grupos.
E Portugal
Outra das vítimas inesperadas da primeira fase, a Seleção Nacional entrou mal – goleada pela Alemanha (4-0) -, continuou sem fulgor – empate com os Estados Unidos da América, já nos descontos (2-2) – e reagiu tarde e a más horas frente ao Gana – o triunfo por 2-1, muito sofrido, não chegou para superar a diferença de golos em relação aos EUA, que só perdeu por 1-0 com a Alemanha. Como em 1986 e em 2002, Portugal voltava a casa sem chegar às eliminatórias, agora sob a batuta de Paulo Bento.
Jogo para o terceiro lugar: Holanda-Brasil (3-0)
Melhor marcador: James Rodríguez (Colômbia) 6 golos
Total de golos: 171
Média de golos/jogo: 2,67
Número de espectadores: 3, 429 milhões