No âmbito da iniciativa Ler Faz Bem, em que a VISÃO oferece um livro por mês, desafiámos os leitores a enviarem os seus comentários à obra “A Quinta dos Animais”, de George Orwell, a primeira desta coleção.
Os melhores três comentários, eleitos pela direção da VISÃO e pela direção de marketing, ganham um conjunto de dois livros de colecionador: “Alice no País das Maravilhas”, anotado por Rui Reininho e ilustrado por João M.P. Lemos e “O Principezinho” anotado por José Luís Peixoto e ilustrado por Hugo Makarov.
COMENTÁRIOS VENCEDORES
Delfim Ferreira
“Que jamais se apague em nós o espírito de conquista e sacrifício personificado em Clover. Este serve as sociedades evoluídas no alcance de um bem estar geral, quando os Napoleões desta vida o utilizam de forma justa.”
José Silva
“Fábula. Nome que se propaga no ar e logo sonhamos com um mundo de fantasia onde os animais são reis. Surgem como um alerta moral aos leitores sobre determinada situação ou caso, ainda assim, surgindo sempre com um sabor de fantasia. Ora, Fantasia é substância que não se encontra na fábula de Orwell.
Um livro tão pequeno, mas tão cheio, é raro de se encontrar nas prateleiras, e a escrita de Orwell, por vezes tão fria, mas firme de realidade, arrebate-nos para a pocilga em que a sociedade vive, metamorfoseada num cosmos pequeno como é a Quinta do Infantado, perdão, dos Animais; erro meu, é mesmo do Infantado.
Diz-se que o livro é uma metáfora perfeita para a sociedade política, empresarial e de tantos outros vectores. Diria que não é uma metáfora, mas antes um retrato fidedigno da sociedade humana: que desde tempos imemoriais de organização em sociedade tem como palco a Quinta do Mundo.”
Pedro Silva
OUTROS COMENTÁRIOS
“Quem julga que as fábulas servem apenas para ensinar a moral às crianças nunca teve o privilégio de se adentrar nesta obra. Se a democracia foi principiada na Antiga Grécia, que melhor género literário para criticar regimes políticos que infelizmente permanecem actuais!?”
João Barradas
“Muito atual no tempo controverso que vivemos. Leitura muito profícua e recentradora de valores. Obrigada Visão pela sugestão de releitura e da sua oportunidade.”
Margarida Barroso
“A meu ver, em “A Quinta dos Animais” George Orwell faz uma alegoria semi-perfeita da corrupção moral e de costumes a que o poder instituído parece vetado. Vejamos, reconhecer um sistema falível, leia-se identificar uma situação concreta em que há uma desigualdade vigente, é só a primeira parte do problema. Vem a insurreição e o estabelecimento de uma nova ordem que se propõe a colmatar as falhas da anterior. Ora, n”A Quinta”, depostos os Homens, criou-se um vazio de poder seguido da adopção de um novo modelo organizativo, a princípio democrático e equitativo. É aqui importante relembrar que depois de uma vida sob a alçada humana, os animais partem de uma situação em que abundam ideais liberais mas não há uma estrutura organizativa definida. Deste modo, os porcos acabam por assumir o poder por serem manifestamente mais capazes impondo, primeiro por manipulação da opinião pública seguido de uso de intimidação/força, a sua vontade. O convívio entre porcos e Homens que encerra o livro cimenta a corrupção moral a que o poder instituído está suscetível. Este pseudo-fatalismo não é inevitável, vejo-o como um aviso para um cenário cuja probabilidade é sobejamente maior quando não há um esforço concertado adequado para assegurar transparência nas partes envolvidas.”
Diogo Silva
“Antes de mais, devo parabenizar pela tradução, só pelo título já valeu a pena! Qual “Triunfo dos Porcos” qual quê, todos os títulos são iguais, mas alguns mais do que outros. Não dizendo que outras traduções sejam incorretas, nem dizendo que o título elucidar sobre o que é a obra é algo negativo, mas se a nossa bela língua nos permite uma tradução literal e o mais fidedigna possível do grande George Orwell, então que o façamos.
Este livro é uma leitura incrível e um óptimo começo deste projecto. Uma belíssima sátira alegórica à nossa sociedade que, infelizmente, cada vez mais se comporta como se não fôssemos todos iguais.
Desde pequena que vejo a política como algo negativo – não que tenha mudado muito de perspectiva até agora -, algo que sempre gera discussões, desacordos, guerras, falcatruas, etc. etc. e sempre me foi difícil compreender o que leva as pessoas a agirem dessa forma, a quererem tanto Poder, tanto Dinheiro; a seguir, cegamente, alguém e/ou algo, só porque sim, só porque, aparentemente, embelezar palavras, criar esquemas, mentir, é mais do que suficiente para cegar alguém.
Desde sempre que tentei ter o melhor espírito crítico possível, tentei pensar por mim e tento sempre que quem me rodeia pense por si, principalmente se estiver a discordar de mim – caso contrário, qual seria a piada da vida?
Este livro fez-me sentir que caminho no percurso correcto, fez-me abrir ainda mais os olhos para o que me rodeia, fez-me compreender melhor o mundo em que vivemos, o que fazemos dele e o que podemos fazer por ele.
Curioso como, feliz ou infelizmente, a literatura se torna intemporal. Mudam-se os tempos, mas por vezes, as vontades não se mudam.”
Natacha Oliveira
“O livro “Quinta dos Animais” é fácil de entender, não usa palavras difíceis, mesmo as pessoas mais leigas a nível de política conseguem entender que ali há uma analogia a um regime totalitário e populista, os porcos prometem tudo e no final não acontece nada, isso ainda hoje em dia pode ser visto nas democracias, há demasiado populismo nos discursos dos políticos.
Ou seja, esta obra de George Orwell é intemporal!”
Bruno Dias
“Um livro pequeno mas sumarento, em que George Orwell através de meras metáforas nos põem a olhar, directamente, os olhos abismais do egoísmo humano.”
Bernardo Bandeira
“A história de todas as revoluções socialistas que conquistaram o pão mas não souberam fazer poesia e acabaram arrumadas no caixote do lixo da história.”
Nuno Lopes
“Há livros, e livros, e livros… E depois há os livros deste senhor.
A Quinta dos Animais podia ser mais uma fábula para crianças, não tivesse ela uma forte mensagem política e satírica associada e uma genialidade típica daquele que, numa época caracterizada pela opressão, nunca se contentou apenas em seguir o rebanho.
George Orwell é conhecido pela sua engenhosa obra crítica, mais nomeadamente pela sua obra distópica, “1984” que, assim como este livro, não foge ao tema do totalitarismo e da relação opressor-oprimido.
Num paralelismo evidente à sociedade atual, Orwell escreve sobre uma quinta em revolução contra os humanos que a gerem. Após conseguirem a tão aclamada “liberdade”, os animais, democraticamente, decidem uma série de premissas guias para viverem numa sociedade onde “os animais são todos iguais”.
No entanto, e porque tudo na vida vem sempre com um “mas” associado, os porcos vão-se introduzindo gradualmente como seres superiores e, como têm mais conhecimentos e cultura que os restantes, ninguém opina nem bate o pé. Até que…
A premissa passa então a ser “Todos os animais são iguais, mas alguns são mais iguais do que outros.”
Alguma parecença com a realidade é pura coincidência, meus caros.
Como universitária com imensas dificuldades em encontrar colegas com gosto pela leitura, agradeço a iniciativa da Visão em incentivar e cultivar o povo português com clássicos literários totalmente gratuitos.”
Beatriz Afonso
“Um dos melhores livros que já li, que nos deixa incrédulos a cada página que passa. Daqueles que nos deixa vazios quando acabam. É incrível o quanto uma história sobre animais se pode reflectir na nossa sociedade.
Revoltamo-nos e achamos sempre que melhores dias estão para vir. Mas as pessoas querem sempre o mesmo – mais do que o que têm, independentemente de quem prejudicam para o conseguir. Quem tem poder, mais poder quer, e manipula-nos ao ponto de nos fazer acreditar que são as nossas escolhas que definem as nossas vidas e que somos livres de as fazer. Quando de livres não temos nada. Achamos sempre controlamos os nossos princípios e ideais, mas só pensamos naquilo que nos deixam saber e que nos fazem acreditar.”
Mariana Júlio
“A fábula A quinta dos animais, ou O triunfo dos porcos, como aparece, também, traduzida em português, é uma metáfora política muito bem urdida.
Apesar de ter sido publicado em 1945, o livro é de uma atualidade admirável: os animais de uma quinta revoltam-se contra a tirania do seu dono, mas rapidamente o idealismo e a democracia dão lugar à mentira e a uma nova forma de ditadura.
Mordaz e cheio de perspicácia, George Orwell faz o leitor olhar para o mundo atual e ver o que nele se instalou, para ficar: manipulação, corrupção, sede de poder, ganância pessoal sobreposta ao interesse comum, enriquecimento rápido da minoria em contraste com empobrecimento alarmante da maioria.
E é a este nível que chegam os novos “governantes” da quinta, os porcos. Para eles deixa de haver limites e as mentiras em que envolvem os outros animais passam a ser a sua verdade.
Lendo este pequeno grande livro, o leitor revê o passado e vê o presente ocupados com loucos que têm ascendido ao poder e causado destruição. Então, imagina um futuro negro porque a história é cíclica e repete-se.
A quinta dos animais é o livro onde a ficção toca a realidade nua e crua.”
Ana Paula Oliveira
“Uma majestosa parábola, na qual os porcos (alguns políticos), manipulam as ovelhas (opinião pública), com a ajuda dos cães (polícia e justiça), para que todos os animais (povo) sejam escravizados e sirvam os seus interesses particulares.”
Sandra do Carmo Tavares Lopes Pereira
“O livro “ A Quinta dos Animais”, relata – nos um modelo do comunismo Estalinista, que se retrata num utopia total, perante toda a humanidade, afetando principalmente todos os que acreditavam na mesma, ficando no fim sem saber distinguir o bem do mal.
Na minha opinião, a cada capítulo que ia lendo deste livro, sentia uma sensação de curiosidade e conseguia imaginar a quinta, os animais, a caçadeira, a crânio do porco Major, a bandeira da Rebelião existente na quinta, os “ humanos, entre outros, trazendo – me uma sensação maravilhosa de como a história estava a decorre.
Porém no decorrer da mesma, fui percebendo de que todos os princípios “acordados” iam sendo “destruídos ” à medida que os interesses, dos porcos, principalmente de Napoleão, com a ajuda de Tagarela, pois os todos os animais trabalhavam sem parar e quem ficava com os lucros era quem mandava.
Em suma, tenho a dizer que este livro retrata na perfeição o regime comunista, pois evidenciam uma utopia total, em que só os poderosos ficam a ganhar e o “ resto” que fique sem nada. Mas este regime, ainda se aplica infelizmente, na nossa atualidade e sociedade, pois são os poderosos que ainda ficam com “ tudo” e os “pobres” dizendo assim, não ficam com nada.”
João Pedro Costa
“Uma história aparentemente pequena e que se leria num trago, mas não. São dez capítulos com muito conteúdo, e centrados na Quinta dos Animais. Tudo começa numa noite, em que os animais da quinta se reúnem liderados pelo porco mais velho, e na qual decidem organizar-se e expulsar os humanos da quinta. Assim, terminam a opressão em que viviam, e a partir daí continua a história em redor do seu dia a dia, mostrando animais motivados e cheios de força, que nunca desistem facilmente e lutam. Prova disso é pelo meio ainda terem de enfrentar os humanos a tentar reconquistar a quinta, mas só conseguindo causar ferimentos e destruição do moinho que os animais reconstruem. Tudo isto pretende levar-nos a refletir sobre a nossa condição, mostrando, por exemplo, que devemos ser simples, e a importância de valores como a igualdade. Em suma, uma obra com muitas metáforas e personificações, que nos consegue envolver na sua leitura, e ler só faz bem!”
Francisco Pais
“A Quinta dos Animais começa, devido às personagens e ao mundo em que se passa, por gerar estranheza ao leitor. No entanto, devido a estes mesmos fatores, acaba também por tornar a ação bastante interessante, especialmente quando se repara em toda a simbologia que rodeia o mundo, as personagens e as suas ações.
Ao seguir a revolta dos animais que os leva a ficar com a quinta antes liderada por um humano e a conquista desses animais por uma vida utópica, é bastante interessante reparar na forma subtil, mas rápida, com que a manipulação vai sendo feita.
O livro mostra-nos como as pessoas são capazes de manipular aqueles à sua volta e que, se as pessoas não forem cuidadosas e atentas podem ser facilmente manipuladas. Ao mesmo tempo, mostra ao leitor a necessidade de realmente acreditarmos em algo e não naquilo que as pessoas que nos rodeiam nos dizem ser a verdade.
George Orwell foi capaz de criar uma crítica política forte quando pouca gente tinha coragem de o fazer, fazendo de A Quinta dos Animais um livro ainda mais fantástico e que toda a gente deveria ler pelo menos uma vez na vida.”