Constituem um par inesperado, o Concerto para violino e orquestra, de Johannes Brahms, e o primeiro, de Béla Bartók, para aquele instrumento. Lado a lado, prevalece a evidência de um par bem-sucedido, à semelhança, aliás, dos protagonistas desta abordagem, a violinista holandesa Janine Jansen e o maestro Antonio Pappano.
Perto de 30 anos separam as duas obras. O Concerto de Brahms, estreado por Joseph Joachin, em 1879, pertence ao universo dos grandes concertos para violino do romantismo, completando um arco temporal que vai de Beethoven, a Mendelssohn e Tchaikovsky.
O Concerto para violino de Bartók foi concluído entre 1907 e 1908, mas apenas revelado meio século mais tarde, no final da década de 1950, sob a designação de 1.º Concerto, por anteceder o que até aí era conhecido como único Concerto para violino do compositor húngaro, datado da segunda metade dos anos de 1930. Dedicado à violinista Stefi Geyer, o 1.º Concerto foi estreado apenas após a morte do compositor (1945) e da intérprete (1956), e publicado pouco depois da primeira audição, em 1959.
Este álbum, o primeiro a reunir as duas obras, em sequência, e a indagar-lhes as afinidades, resulta de duas gravações ao vivo, a primeira, para Brahms, com a Orquestra da Academia Nacional de Santa Cecília, de Roma, e a seguinte, para Bartók, com a Sinfónica de Londres, ambas dirigidas por Pappano.
Para a solista, os dois concertos constituem “um par natural”, embora provenham de diferentes épocas, com distintas expressões. No entanto, a sequência deste disco – e essa será uma das suas vantagens – sustenta os argumentos da violinista, não só a inspiração húngara, de que os materiais de base se socorrem, mas também a combinação dos ambientes mais intimistas, patentes em diversas passagens, com o poder orquestral, explorado pelos dois compositores.
Janine Jansen oferece duas interpretações muito fortes, intensas, precisas, atentas ao pormenor, reveladoras da profunda beleza das obras. Toma o Concerto de Brahms como se fosse seu – está, aliás, entre as obras que marcaram os anos iniciais da sua carreira –, e é particularmente bem-sucedida, em particular no Adágio ou no lirismo redentor da conclusão.
No Concerto de Bartók, é impossível resistir à reflexão imposta, desde logo, pelo solo inicial, a que a orquestra se junta, pouco a pouco. Com os seus “revolucionários” dois andamentos – Andante sostenuto e Allegro giocoso –, opção menos evidente na época, o concerto é já a expressão de um novo tempo, de uma nova era. Mas é também uma canção de amor – a canção de um amor não correspondido, vivido pelo próprio Bartók – e nada na sua essência é alheio a Brahms, ou a alguém na humanidade