Uma realizadora de sucesso de televisão, assinando séries como E Depois do Adeus, Conta-me Como Foi e Terapia, apresenta a sua primeira longa metragem. Jogo de Damas, um filme no feminino, com trama semelhante a Os Amigos de Alex, que conta com Ana Nave, Ana Padrão, Fátima Belo, Maria João Luís e Rita Blanco. Estreia-se a 28.
JL: Porque resolveu fazer um filme de mulheres?
PS: Teve a ver com a vontade que tinha de trabalhar com estas atrizes. Depois é o universo com o qual me identifico. Sobretudo com as mulheres desta idade, em que as mudanças se tornam difíceis
Há algum intenção feminista?
Desde logo pelo simples facto de estarem cinco mulheres presentes. Mais do que uma bandeira no seu conteúdo, está no ato, que revela uma preocupação com a condição feminina.
O filme terá como referência Os Amigos de Alex?
Obviamente que sabia da sinopse de Os Amigos de Alex, há alguma identificação, mas também com outras coisas. O filme foi-se criando. Começa por ser um jogo. Convidei atrizes para trazerem as personagens e estipulei pontos de enredo, sempre tendo a perda de uma amiga comum como fundo. A ideia é que sobre essa ferida que é a morte todos os temas possam ser revitalizados.
Como foi trabalhado o guião com as atrizes?
Elas foram convidadas a participar através de uma pergunta: se querem jogar comigo? Depois elas tinham que trazer as suas personagens. Decidimos fazer um retiro numa casa, que acabou por ser o cenário do filme, em que durante alguns dias debatemos todas as questões. Cada uma recebeu uma carta da amiga que morreu. Fui eu que a escrevi. Havia aqui uma linha entre a realidade e a ficção com que queria jogar. A carta colocava-as numa zona emocional que me interessava, para aquelas 12 horas, entre as seis da tarde e as seis da manhã, em que tudo acontece.
Mas como isso foi trabalhado com a Filipa Leal?
Mais tarde fiz uma estrutura de um guião, muito próximo daquilo que se desenhou lá. Escrevi alguns diálogos, mas depois senti necessidade de dar corpo àquele objeto. Precisava de alguém que trouxesse poesia ao filme. Achei que Filipa era a pessoa certa. Ela levou todo o material que tínhamos até ali.
E a banda sonora?
É original. O tema forte chama-se Chuva, de David Rossi. O piano tornou-se um elemento importante. Também tem uma composição de Paulo Sousa, chamada Melodia Mais do Que Imperfeita, em que há uma nota torta, de onde nasce uma melodia que volta a acabar numa nota torta. Gostei do equilíbrio desta queda transformada num passo de dança. Depois disso, decidi pôr o Amanhã é sempre longe demais, dos Rádio Macau, que está ligado ao que elas dizem.
Como foi a produção?
Este é um filme totalmente independente, que eu tinha urgência em fazer. Foi feito com o meu dinheiro e com o apoio da minha produtora e da Câmara de Alcácer. Todos técnicos e atrizes foram pagos. E foi feito nas minhas férias.
Poderá ser um ponto de partida para outros filmes?
A vontade que eu tenho é contar histórias. Se for no cinema, melhor, mas sou apaixonada pelas séries que fiz. A nível cinematográfico estou a trabalhar num guião com a Filipa Leal, e interessa-me trabalhar num filme que tenha um pé no sonho, com um pouco mais de loucura. Estamos a escrever a meias.
Entretanto, continua a gravar a série Terapia…
Sim, tal como o filme, é um trabalho intimista. Mais do que a história em si, é uma viagem à vida das pessoas. Gravamos um episódio por dia, e temos atores que são autênticos super-heróis.