Depois de terem sido entregues 37 519 assinaturas na embaixada do México em Lisboa, Yecenia Armenta, presa há três anos por um crime que assevera não ter cometido, recebeu a visita de uma delegação da Amnistia Internacional (AI) e enviou uma mensagem: “Receber todas estas cartas, que diziam que eu não estava sozinha, fez-me sentir muito bem. É emocionante pensar que estas pessoas querem saber dos direitos das outras pessoas – e não me conhecem”, disse Yecenia, condenada no México com base numa “confissão” extraída sob tortura brutal: esteve suspensa pelos tornozelos de pernas para o ar, e foi sufocada, espancada e violada.
Quem também partilhou um agradecimento com a comunidade foi Costas, um grego homossexual, e o seu companheiro, espancados com violência por duas vezes, em Atenas, devido à sua orientação sexual. “Obrigado por me terem trazido luz no meio da escuridão”, disse depois de na embaixada grega em Lisboa terem dado entrada 54 656 assinaturas a pedirem às autoridades para investigarem o caso.
O apelo em nome do jornalista e ativista Rafael Marques, “condenado injustamente” por ter escrito um livro em que expõe alegadas violações de Direitos Humanos em Angola, reuniu 38 853 assinaturas, entregues por uma delegação da Amnistia Portugal na embaixada do país em Lisboa.
No Burkina Faso, o Ministro da Justiça do país disse que se sentiu compelido a atuar após “receber cartas de pessoas de todo o mundo”. Foram 41 522 a assinarem só em Portugal o apelo para que as jovens deixem de ser obrigadas a casar demasiado cedo.
Estas 172 550 assinaturas recolhidas só em Portugal fazem parte de um bolo mundial maior que ultrapassou os três milhões de apelos – mais concretamente foram 3 714 141 que a Maratona de Cartas conseguiu reunir. Quando o movimento começou, há 14 anos, na Polónia, Witek Hebanowski estava longe de imaginar que iria conseguir mobilizar milhões de pessoas. Em 2001, o coordenador de um grupo local da AI estava à frente de um festival e foi abordado por uma jovem chamada Joana que lhe falou sobre o que organizara num país africano: em 24 horas, as pessoas escreveram cartas de protesto para os seus governos. Desde então, a Maratona de Cartas tem sido replicada um pouco por todo o mundo. Para Ana Monteiro, coordenadora de campanhas da Amnistia Portugal não há dúvida de que “somos cada vez mais os que não ficam indiferentes perante as injustiças do mundo. E somos cada vez mais os que acreditam – e sabem – que uma assinatura pode ajudar a mudar a vida de alguém.”