Abdul Hannan, 50 anos, é condutor de riquexó no Bangladesh. Pedala todos os dias das cinco da manhã às nove da noite. Por dia, leva para casa o equivalente a um euro, dinheiro essencial para garantir a educação dos cinco filhos.
Abdul Hannan é um dos heróis com quem o jornalista Luís Pedro Nunes e o fotojornalista Alfredo Cunha se cruzaram durante as nove reportagens que deram origem ao livro Toda a Esperança do Mundo (ed. Porto Editora), que celebra os 30 anos da Assistência Médica Internacional (AMI).
Os jornalistas abdicaram dos direitos de autor e €2 do preço de capa (€39,90) revertem para a AMI. A 12 de dezembro haverá, ainda, um leilão a favor da fundação no Espaço Mira, Porto. As fotografias (ali em exposição), uma câmara fotográfica utilizada por Alfredo Cunha e objetos trazidos dos vários locais de reportagem, de areia da praia do Haiti, a pedacinhos do velho palácio de um nababo do Bangladesh, estarão disponíveis para licitação.
Níger, Guiné-Bissau, Iraque e Nepal são alguns dos locais de atuação da AMI por onde passou a dupla de repórteres mas, apesar dos cenários dramáticos, Luís Pedro Nunes esclarece: “Não é um livro de catástrofes, tragédias, nem de estetização da pobreza, pelo contrário. É um livro que nos aproxima da possibilidade de sermos o outro. Alerta-nos para algo extraordinário que é a banalidade da existência de heróis no quotidiano”.
A dupla de repórteres juntou-se, pela primeira vez, em 1991, na Roménia: “Temos a capacidade de nos perdoarmos um ao outro porque isto é pesado, mas estamos sempre muito focados no trabalho”.
Abdul Hannan, o herói do quotidiano do Bangladesh, já beneficiou diretamente da publicação do livro. Um português, que se mantém no anonimato, decidiu contribuir para a educação dos seus cinco filhos depois de ter lido a reportagem. Ainda há esperança no mundo.