Crescimento sustentável – devia ser este o mote para o desenvolvimento de qualquer setor. Diz o ditado que quanto mais se sobe, maior é a queda, e eu sou crente na sabedoria popular. Todos recordamos a crise recente que o setor imobiliário atravessou, e ninguém, nem mesmo os profissionais do setor, adivinhou uma recuperação tão abrupta.
Num abrir e fechar de olhos, saímos de uma crise com o mercado imobiliário absolutamente estagnado, para uma euforia incentivada pelo investimento estrangeiro, que contaminou o mercado interno e que resultou num aumento considerável do número de transações imobiliárias.
Como homem do mercado, claro que considero o aumento do número de vendas um indicador muito positivo. O que não considero tão positivo é a falta de cautela com que se atua neste setor, o que me leva a pensar que houve muita gente que não aprendeu nada com a crise que passou. Alertei muitas vezes que, apesar das dinâmicas positivas, é necessário tratar o imobiliário com pinças, por acreditar que é preferível ganhar menos, mas estar muito tempo a assistir a um crescimento sustentado, do que ganhar tudo de uma vez. Porém, a ganância parece ser uma característica portuguesa, e não são muitos os que optam por ter uma visão estratégica a longo prazo.
Só que esta falta de visão contamina o mercado e gera populismos muito negativos para o setor, que parece ser sempre visto como o “parente” pobre da economia, apesar de ser um dos que, ao lado do turismo, mais contribuíram para a sua dinamização.
No entanto, o imobiliário nacional continua a sobreviver à famigerada bolha que, de vez em quando, lá vem anunciada na Imprensa. Para que tal acontecesse, seria necessário que estivessem reunidas determinadas condições – e não estão. O que há, e isso é inegável, é um gigante desequilíbrio entre a oferta e a procura, sobretudo nas principais cidades do País, o que gera pequenas “bolhinhas”, perfeitamente identificadas nas cidades de Lisboa e do Porto, acentuadas por este desfasamento.
Neste momento, acontece o fenómeno de haver clientes, nacionais e estrangeiros, para todo o tipo de mercado, mas não temos casas para lhes vender, ou as que temos estão a preços muito acima do que seria o desejável, refletindo as leis da oferta e da procura. Por isso, o mercado também tem feito um esforço no sentido da descentralização do investimento imobiliário para fora das grandes cidades, sobretudo para zonas de reduzida densidade populacional, onde existem muito boas oportunidades e onde a dinamização que o investimento trará promoverá novas dinâmicas económicas em regiões que por tal anseiam.
Apesar deste incentivo, não podemos obrigar as pessoas a viver onde não querem e, sobretudo, a deslocarem-se para longe dos seus empregos, daí ser necessário conseguir introduzir no mercado uma oferta adequada às necessidades da população, o que só acontecerá com construção nova, em zonas onde haja procura comprovada, dirigida para as classes média e média baixa, a preços que estas possam pagar.
Em Portugal, parece haver poucos com esta visão e prefere-se lucrar mais a construir para um segmento de luxo. Claro que este segmento também tem procura, mas não é deste que o setor precisa para sobreviver e se manter estável. A ganância de querer ganhar tudo de uma vez faz com que possa haver no mercado um efeito perverso.
É que a ausência de habitação, que se verifica pelas dificuldades, quer no arrendamento quer no mercado de compra e venda, gera sentimentos de revolta justificados, que acabam por criar populismos negativos que, por sua vez, poderão culminar em soluções pouco abonatórias para a sanidade do mercado imobiliário.