Tenho-me pronunciado publicamente por diversas vezes sobre a minha apologia ao regresso à construção nova. Sei que esta é uma opinião pouco unânime e que gera surpresa junto de algumas pessoas que me apontam como um “defensor do betão”, alegando que há muitas casas vazias a precisar de ser ocupadas, e que há muitos imóveis a precisar de ser reabilitados e que devem ser priorizados em detrimento da construção nova.
Os argumentos não são, de todo, errados. Na verdade, há casas vazias por ocupar, sim, mas não adianta acreditar que estas resolverão os problemas habitacionais que existem, uma vez que se encontram em sítios onde não há procura. Ninguém pode obrigar ninguém a viver num sítio onde não quer estar. É utópico pensar que são estes ativos que equilibrarão a procura e a oferta. Que bom que era que assim fosse e que a generalidade dos jovens e famílias portugueses preferissem dirigir-se para zonas de menor densidade populacional, onde existem casas, sim, mas não existem dinâmicas económicas que lhes permitam viver e trabalhar.
Já no que toca à reabilitação, é verdade que ainda há muito por fazer um pouco por todo o País, mas também é verdade que a reabilitação é, regra geral, muito mais cara do que a construção nova, o que fará com que estas casas, depois de reabilitadas, sejam colocadas no mercado a preços que não são aqueles que a generalidade dos portugueses pode pagar.
Quando digo que é preciso construção nova, não apelo a que se comece a construir desalmadamente, como se fez há uns anos, ficando o mercado com excesso de stock imobiliário em zonas periféricas onde ninguém queria viver.
Não é disso que falamos. Hoje em dia, as dinâmicas da procura e da oferta são trabalhadas de forma profissional, permitindo perceber quais as necessidades que se apresentam no mercado. Hoje, sabemos que o grosso da procura é da classe média/média baixa, que vê o mercado completamente esvaziado de casas que correspondam às suas necessidades e possibilidades.
É para estes jovens e famílias que tem que se construir, e isso não está a acontecer.
Apesar de os números indicarem que o setor da construção está a acompanhar o aumento da procura (de acordo com o Instituto Nacional de Estatística, em 2018 a construção de fogos aumentou 42% face ao ano anterior), esta informação é traiçoeira, pois quem atua no mercado sabe, como eu sei, que a grande maioria desta construção é dirigida para um segmento mais alto ou de luxo.
Não tem sido fácil conseguir persuadir construtoras ou promotoras a apostar neste segmento, quando há um outro mais tentador e com maiores rentabilidades. Mas, está-se assim a descurar aquele que é o grosso do mercado e se o problema não for atacado neste segmento, garantidamente que o panorama do setor mudará muito e não será benéfico para ninguém.
Não significa que o segmento alto também não precise de ser estimulado e alimentado, bem pelo contrário, até porque há, também, procura e clientes para este tipo de ativos. Mas não é esta oferta que virá resolver os problemas habitacionais que se sentem na classe média.
A construção nova que é necessária é para dar resposta à enorme carência habitacional, até para aliviar os preços que estão a ser praticados, promovendo o crescimento sustentável do mercado, sem loucuras que possam comprometer o bom momento que se vive.