Comprar casa no centro de Lisboa a preços mais controlados não é tarefa fácil nos dias de hoje, mas uma nova tendência está a surgir no mercado para ir ao encontro desta necessidade. Antigos armazéns e garagens estão a ser reconvertidos em modernos lofts, que primam pela amplitude de espaços.
Na consultora Home Tailors, a procura destes imóveis tem vindo a aumentar, estando concentrada em zonas como o Beato, Alcântara e Marvila – onde há muitos armazéns devolutos para reconverter – e também em Arroios e à volta do Campo dos Mártires da Pátria, aqui mais direcionada para garagens com potencial para habitação. “Na última década já se começou a sentir o aumento da procura destes espaços, mas com maior força e evidência nos últimos três anos. Claro que nem todos são passíveis de ser convertidos em habitação. E quem compra tem de conhecer os procedimentos necessários a seguir junto da câmara municipal”, explica à VISÃO David Carapinha, CEO da Home Tailors.
A mediadora tem neste momento 60 imóveis deste tipo, entre produtos já intervencionados e armazéns que ainda estão por reabilitar. “O comprador-tipo destes espaços ainda em bruto são arquitetos investidores ou empresas que se dedicam à reabilitação. Mas não basta comprar e reabilitar – além das estruturas, tem de se garantir questões como a ventilação, a luz, a segurança das estruturas…”, aponta ainda o responsável.
O preço a que se consegue ainda comprar estes armazéns pode cair até 40% em relação ao produto tradicional e é por isso o principal motor desta dinâmica em crescendo, realça Ema Cerveira, consultora de negócios na Home Tailors.
Ainda nesta fase, os principais clientes são “arquitetos nacionais e internacionais ou pessoas que representam investidores estrangeiros”, um mercado muito disputado, ainda que os portugueses levem vantagem – “os estrangeiros têm dificuldade em compreender os processos burocráticos nacionais”, acrescenta Ema Cerveira.
A vida em comunidade
Pé-direito elevado, open space e uma utilização eficiente dos pontos de luz são algumas das características dos lofts, popularizados no mercado imobiliário dos Estados Unidos da América. “São espaços que podem funcionar como multiusos, onde se habita, se trabalha, se faz um showroom ou um escritório. Um local que tanto pode ser um open space como pode ser transformado em T3, porque tem módulos que se abrem e fecham e são espaços criativos que se adaptam a cada tipo de família”, exemplifica David Carapinha.
A procura, quando o imóvel está concluído, tem vindo a diversificar-se, mas o perfil do comprador é ainda possível de ser traçado: “Temos muitos norte-americanos e brasileiros, essencialmente. E a proporção é de cerca de 80% estrangeiros e 20% nacionais. O conceito é mais familiar em países como o Brasil ou os EUA. Por cá há ainda alguma confusão no conceito e muitos confundem com o T0 ou um estúdio”, diz o CEO da Home Tailors.
Como curiosidade, Ema Cerveira salienta: “Muitos têm um gosto enorme pela arte contemporânea e veem nestes espaços a possibilidade de dar mais destaque às suas peças.”
A zona ribeirinha é aquela que mais procura tem neste momento junto desta consultora, com grande destaque para Marvila. É precisamente neste bairro que está a nascer o Prateato, projeto do promotor imobiliário FFA Real Estate, de origem libanesa (mas que engloba uma série de investidores mundiais). Serão 49 lofts instalados numa área de 7 mil metros quadrados, num investimento de 16 milhões de euros.
O projeto de arquitetura está a cargo de Bruna Serralheiro, CEO da Tek Studio. “Temos seis tipologias de lofts – Green, Hybrid, Terraces, Villas, Life e Classic –, alguns com jardins privativos e amplos terraços para promover o contacto direto com os espaços verdes que se fundem com o interior da habitação através das janelas de pé-direito total”, explica.
Pista de jogging, lavandaria self-service, energia solar, horta comunitária e espaço coworking são apenas algumas das particularidades pensadas para o novo empreendimento, que pretende promover a interação entre moradores e retomar o conceito de “comunidade”. A obra vai arrancar no próximo mês de maio.