Como “estrangeiro”, sempre olhei para a história de Portugal como uma história de glória. Com o cenário que vivemos atualmente, muitas vezes não nos lembramos de que nós, portugueses, fomos os reis da inovação, sobretudo quando no século XVI navegámos por mares desconhecidos à procura do “novo”.
Acreditámos, construímos, procurámos e encontrámos o caminho marítimo para a Índia, descobrimos o Brasil, e tantas outras conquistas territoriais que alcançámos. Éramos conhecidos pela insaciedade na luta pelo saber. Para que tudo fosse alcançado, mais do que coragem, foi preciso uma enorme mobilização, um grande planeamento estratégico e conhecimento teórico e prático de ponta. Construímos ferramentas das mais modernas da altura. Inovámos. E isso colocou-nos na linha da frente. Portugal era muito maior do que o país. E se a ambição pelo conhecimento e por desenvolver inovações tecnológicas nos levou até à liderança, como é que não conseguimos segurar a nossa posição nas tabelas da economia avançada? A razão é simples. Não soubemos sustentar tudo aquilo que alcançámos.
E, se no que consta a navegação, Portugal ficou pelo caminho, em terra surgiram outras inovações. A Brisa criou um sistema pioneiro – Via Verde – que permite pagar portagens sem parar, abastecer combustível e utilizar parques de estacionamento sem perder tempo com pagamentos. Também ao nível da saúde, foi desenvolvida em Portugal a primeira aplicação móvel do mundo para auxiliar pessoas que sofrem de daltonismo. No sector da banca, inventámos o multibanco (único no mundo) e que tantas vantagens trouxe ao quotidiano. Ao nível das telecomunicações, a conhecida TMN (conhecida para alguns porque para a maioria dos jovens só já ouviu falar na MEO) criou os primeiros cartões pré-pagos do mundo e criou ainda o Mimo, um telemóvel “pronto a falar”. Mas, depois de tanto mérito e feitos tão importantes, porque não está Portugal na linha da frente nos sectores da saúde, banca, automóvel, telecomunicações e outras tecnologias? E a resposta repete-se. Não soubemos sustentar tudo aquilo que alcançámos.
Temos mão-de-obra qualificada. Temos investigadores de muita qualidade. Temos excelentes infraestruturas. Temos um clima de invejar. Temos oportunidades. Estão aqui reunidas todas as condições para estarmos no top mundial. Não é impossível. Já estivemos. Mas é preciso sustentar. Sustentar o esforço. Sustentar o trabalho. Só chegaremos mais longe quando percebermos que é necessário sustentar as inovações. Podemos inovar e criar algo com muito impacto. Mas, se não o sustentarmos, ficará no “dustbin de história”.
Conhecem a história de um canadiano que começou com um pequeno clipe vermelho e um sonho? O seu objetivo era, através de trocas na internet, conseguir substituir o clipe por uma casa. Em catorze negociações, um ano depois de ter começado esta jornada, o jovem conseguiu alcançar o objectivo. Mas será isto uma inovação? Uma ideia nova, que foi implementada e funcionou! Mas, e se eu tentar essa ideia agora? Resultará? Infelizmente, penso que as possibilidades são poucas. A simples razão é que esta ideia inovadora não é sustentável. E aqui está um dos princípios que muitas empresas aprendem a grande custo – que para a inovação funcionar, tem de ser sustentável. Durante algum tempo, um dicionário internacional utilizou a minha definição de inovação, uma definição baseada em duas vertentes: criar valor e sustentá-lo. Quando temos esta visão de inovação (de criação e da sua sustentação), a forma de criar e agir muda. Perde-se a obsessão de criar apenas algo novo e tem-se logo à partida a preocupação de o sustentar. Mas chegará isso para alcançar a liderança? Ou seremos apenas grandes inovadores? Todos podemos inovar. Mas só alcançamos um lugar no topo das tabelas da economia avançada se a inovação, para além da inovação ser sustentável, a soubermos sustentar.