Está em marcha a criação de um novo terceiro maior construtor automóvel mundial, com o coração na Europa: a Fiat Chrysler Automobiles (FCA) apresentou esta segunda-feira uma proposta de fusão à Renault.
A solução passa pela criação de uma empresa cotada na Holanda, detida em partes iguais pelas marcas de origem italiana e francesa. Se tiver sucesso, o negócio vai dar origem a um gigante capaz de vender 8,7 milhões de veículos por ano, garantindo um leque “amplo e complementar” de produtos, desde o “luxo até ao mainstream,” refere a FCA no comunicado em que detalha a proposta.
A possibilidade de colaboração entre as duas empresas tem vindo a ser discutida entre as respetivas administrações em reuniões secretas, segundo o Les Echos, e estima-se que, a acontecer, gere poupanças de €5 mil milhões para ambas, nomeadamente num contexto em que o forte investimento exigido para a transição para os veículos elétricos e de condução autónoma beneficia do efeito de escala.
O acordo poderá demorar mais de um ano a ser concluído, disse o CEO da FCA, Mike Manley, numa carta enviada esta segunda-feira aos trabalhadores. Os acionistas da FCA serão compensados com um dividendo de €2,5 mil milhões para fazer face à diferença de capitalização bolsista em relação à Renault.
O governo francês (que detém 15% da Renault) diz-se, para já, favorável a um entendimento, segundo a porta-voz Sibeth Ndiaye. Mas segundo a Reuters, que cita um responsável do governo gaulês, estará atento ao impacto no emprego e na capacidade industrial associada, bem como à preservação da aliança com a japonesa Nissan. O executivo italiano também espera ter uma posição na futura empresa, para equilibrar posições com Paris.
Embora o foco do acordo esteja sobre a Renault e a Fiat Chrysler, a proposta da FCA prevê que a marca nipónica, parceira histórica da empresa francesa, tenha um representante na administração da nova companhia. E também contabiliza o impacto das sinergias obtidas com esta fusão nas contas dos parceiros Nissan e Mitsubishi: €1 000 milhões por ano. “(…) A FCA espera – como parte de uma empresa combinada com o Grupo Renault – trabalhar com as empresas parceiras da Alliance de forma a criar valor para todos os seus membros,” lê-se no comunicado.
O documento refere ainda que as sinergias esperadas com a combinação de negócios não preveem o encerramento de fábricas, mas antes maior eficiência no investimento. A Reuters refere, no entanto, a maior parte das fábricas da FCA na Europa opera abaixo de 50% da sua capacidade.
No ano passado, segundo dados da ACAP, as marcas do grupo FCA (Fiat, Alfa Romeo, Jeep e Maserati) venderam em Portugal quase 16.500 veículos. As do grupo Renault (Renault, Dacia e Alpine) registaram mais do dobro deste valor, cerca de 37.700 no total.
Em reação à proposta da FCA, que a administração da Renault já prometeu analisar, as ações da Fiat Chrysler disparam 10,65%, enquanto as da Renault ganham mais de 15%.