Os últimos trimestres tiraram algum ar ao otimismo sobre a evolução da economia portuguesa. As mais recentes previsões do Banco de Portugal são a última manifestação disso mesmo. O BdP espera agora um crescimento de apenas 2,1% este ano, 0,2 pontos percentuais abaixo do valor estimado em outubro.
“Projeta-se que o produto interno bruto (PIB) cresça 2,1% em 2018, 1,8% em 2019, 1,7% em 2020 e 1,6% em 2021”, pode ler-se no Boletim Económico de dezembro, publicado esta manhã. “Os valores para o horizonte 2018-19 implicam um crescimento ligeiramente inferior do PIB em 2018 e 2019 face às estimativas divulgadas nos Boletins Económicos de junho e outubro, essencialmente devido a uma revisão em baixa do crescimento das exportações, que reflete a revisão das hipóteses relativas à evolução da procura externa e a incorporação da informação mais recente.”
Recorde-se que a previsão do governo também é 2,3%, enquanto instituições como FMI e a Comissão Europeia apontam para 2,2%. Caso se confirme um crescimento mais débil, isso pode ter também consequências para o ajustamento das contas públicas. Mário Centeno comprometeu-se com um défice de 0,3% do PIB.
No médio prazo, estas previsões pintam um quadro que já conhecíamos: a economia nacional deverá perder gás nos próximos anos, afastando-se dos 2% e ficando progressivamente mais perto de 1%, que foi a média de crescimento observada nos oito anos antes da crise financeira.
O que está por trás desta desaceleração? “O abrandamento do PIB no horizonte 2018-21 reflete, em larga medida, um contributo progressivamente menor das exportações em termos líquidos de conteúdos importados. O contributo da procura interna líquida de conteúdos importados para o crescimento do PIB também se deverá reduzir ligeiramente ao longo do horizonte de projeção”, pode ler-se no boletim económico.
Ainda assim, o Banco de Portugal refere que “o enquadramento externo da economia portuguesa deverá permanecer relativamente favorável”, com o comércio internacional a crescer em linha com a atividade económica.
No que diz respeito ao emprego, o BdP espera a taxa de desemprego continue a cair, mas a um ritmo mais moderado. Em 2021, ela deverá fixar-se em 5,3%, espera o banco.
Riscos e desafios
Até previsões um pouco mais pessimistas incorporaram algum risco. Neste caso, a sua origem está essencialmente no “enquadramento externo”, podendo penalizar a atividade económica. Internamente, o investimento empresarial e as exportações continuarão a ganhar destaque, o que é consistente “com um perfil de crescimento mais sustentável da economia portuguesa”.
Embora alguns dos principais desafios que Portugal tem para enfrentar sejam comuns ao resto da Zona Euro, existem constrangimentos específicos da nossa economia. “Apesar dos progressos dos últimos anos ao nível do funcionamento dos mercados e da redução do endividamento dos diversos setores da economia, estes fatores deverão continuar a condicionar a evolução do investimento e da produtividade”, refere o BdP. “O processo de redireccionamento dos recursos para setores mais expostos à concorrência internacional, por natureza mais permeáveis à inovação, deverá prosseguir, potenciando efeitos de composição favoráveis à evolução da produtividade total dos fatores.”
Por último, o envelhecimento da população portuguesa exige uma preocupação acrescida com o capital humano, de forma a preservar o dinamismo económico no futuro.