Portugal é um pais tradicionalmente dominado por old money. Imperam os grupos económicos (muitos que nasceram já grandes sob a alçada do estado) e os apelidos familiares. Lá fora também era assim, há 10 anos atrás. Hoje, é difícil encontrar empresas não tecnológicas na lista das maiores cotadas do mundo. Também a lista dos mais ricos do mundo é cada vez mais composta de self-made men vindos da àrea da tecnologia. Olhando para as maiores empresas cotadas em Portugal, dominam os recursos naturais e o retalho. Tecnológicas, principalmente com sangue novo, são pouco mais que miragens. A lista dos mais ricos em Portugal espelha esta realidade e é dominada pelas famílias.
Mas será que continuará a ser assim? Sopram ventos de mudança que começaram há alguns anos atrás. Muito se escreveu já sobre o universo das startups em Portugal e não faltam as vozes críticas que vêem nesta “bolha” pouco mais que miúdos a brincar às empresas. A realidade é que, de facto, a grande maioria das startups não serão bem sucedidas (é assim aqui e lá fora), mas começa agora a ver-se os frutos dessa onda de empreendedorismo.
A Farfetch entrou na NYSE a bolsa a valer algo como 7 mil milhões de Euros. Se fosse cotada na Euronext Lisboa estaria no top do nosso mercado bolsista. A Outsystems, avaliada em cerca de mil milhões de Euros, teria entrada directa no nosso PSI20. De referir também que José Neves, antes ausente de qualquer lista de milionários em Portugal, tem este ano entrada directa para o top 10 dos mais ricos no nosso país, fruto dos 15% que detêm na Farfetch. Também Paulo Rosado, um dos fundadores da Outsystems, entra este ano na lista dos mais ricos.
Para além destas, também a Talkdesk e a Feedzai têm hoje avaliações, embora não públicas, bem acima do limite mínimo para entrada no PSI20, e outras como a Unbabel, Codacy, Uniplaces ou Seedrs, se fossem empresas cotadas, estariam na metade superior das empresas mais valiosas da bolsa Portuguesa. Mas ainda mais relevante é a velocidade a que a avaliação destas empresas aumenta, fruto dos elevados níveis de crescimento que têm.
Seria obviamente fácil dizer que está tudo louco, porque afinal de contas estas empresas são pouco mais que manobras de marketing para inglês ver, pejadas de chico espertice e com poucas ou nenhumas hipóteses de realmente darem dinheiro a sério e criarem valor.
Não me vou debruçar sobre os números da maior parte destas empresas porque não são públicos, mas podemos rapidamente dar uma vista de olhos no prospecto da Farfetch. Teve em 2017 cerca de $385 milhões em receita com uma margem bruta acima dos 53%. Também é verdade que apresentou um resultado negativo superior a $100 milhões, mas não é menos verdade que se não tivesse como objectivo um crescimento anual da receita consistentemente bem acima dos 50%, os custos seriam drasticamente mais baixos.
Quantos miúdos a brincar às startups estarão na lista dos mais ricos em Portugal daqui a 5 anos?