Há um país na Ásia limitado por uma grande cordilheira, sem acesso ao mar, geograficamente “entalado” entre dois gigantes da economia mundial, que não explora nenhum minério, tem menos de 1 milhão de habitantes e é uma das mais pequenas economias do mundo. Que hipótese de desenvolvimento tem ele? Que estratégia deverá seguir? Que futuro pode ter?
Esse país chama-se Butão e tive o verdadeiro privilégio de o visitar. Para além das paisagens naturais e da forte herança e presença budista, que excedem expectativas, tenho que destacar o surpreendente modelo de desenvolvimento, nomeadamente no setor do turismo, que o país tem.
A julgar pelas estatísticas e se tivesse sido em 2017, eu teria sido um dos pouco mais de 70.000 turistas que teria visitado o país nesse ano, depois de em 1974 se ter aberto ao exterior, e ter recebido pouco mais de 200 pessoas.
O turismo é nesta altura a 2ª maior fonte de receita de um país cuja abertura ao exterior é evidente, com um cuidado extremo na forma como o faz, elegendo a sustentabilidade como regra de ouro da sua atuação. Como o fazem? Apesar de existirem mais de 75 agências licenciadas, qualquer cidadão estrangeiro (excepto da Índia) que queira visitar o país tem que comprar e pagar um “pacote” pré definido, tem que ter um visto, e só pode voar para o destino final no Butão na companhia aérea do país.
Curiosamente e absolutamente determinante: o preço diário, com tudo incluído, é fixo e decidido centralmente pelo Governo tendo sido recentemente aumentado e, apesar do pagamento ser único à agência, o valor é redistribuído pelos diferentes agentes. O Butão faz uma selecção natural do segmento de turistas que visitam o país, tal como gere o número de turistas que em simultâneo estão presentes no território. Outro dado interessante é estar estabelecido constitucionalmente que 70% do território terá que permanecer florestado. Acresce ainda, e segundo me contou o dono da agência através da qual contratei a viagem, que estão a ser construídos “corredores ecológicos” que estão a servir de refugio aos tigres de Bengala, provenientes da Índia, para território butanês.
Parece-me óbvio que, sendo uma economia pequena e ainda imatura, o Butão adoptou princípios estratégicos sólidos, quer na sua execução prática, quer numa perspetiva de médio e longo prazo. Perante os seus dois vizinhos gigantes (India e China) e a aparente falta de poder negocial que a situação confere, seria previsível a adopção de um turismo de massas, mas o Butão fugiu dessa tentação, avaliando com impressionante clareza a forte concorrência do Vietnam, Tailândia e Indonésia, colocando em prática uma estratégia para o turismo baseada na diferenciação e baseada no equilíbrio ambiental nas suas diferentes vertentes.
O Butão terá descoberto a solução para um problema aparentemente quase insolúvel, acrescentando a esta um bem conseguido esforço de comunicação e marketing alicerçado em mensagens-chave simples e que qualquer “ocidental moderno” compra com facilidade: o Butão não mede o seu Produto Nacional Bruto, mas sim o seu Índice Nacional de Felicidade, aparece referenciado como um país cujas emissões de CO2 são negativas e é catalogado como o “país mais feliz do mundo”.
Felicidade que senti por ter tido esta experiência e por, de forma muito resumida, a poder partilhar com os leitores.