A sincronização de crescimento entre as principais economias globais, suportadas pela generosidade dos bancos centrais – e no caso dos EUA por um dólar fraco e pelo plano fiscal de Donald Trump -, justifica ter mais risco nas apostas de investimento. A convicção é de Miguel Luzárraga, diretor executivo de vendas da J.P. Morgan Asset Management Iberia, que exemplifica com o investimento em ativos como ações e obrigações high yield (com maior risco e, potencialmente, maior remuneração).
Para o responsável, que esta terça-feira apresentou em Lisboa o relatório Guide to The Markets relativo ao primeiro trimestre de 2018, apesar de dados relativamente fracos no início do ano para os indicadores avançados da atividade económica nos EUA e Zona Euro -, a estimativa da gestora de ativos aponta para um crescimento da economia global acima dos 3%, o que é “ainda um crescimento saudável e acima do dos últimos anos.”
No caso da Europa – onde se estima um crescimento entre 1,2% e 1,5% para a Zona Euro – as nuvens negras parecem já ter ficado para trás. Não só o apoio ao euro é cada vez mais forte em países como Itália, França, Espanha ou Alemanha, como se mantém, até setembro, o programa de compra de ativos ou “quantitative easing”, que tem ajudado a sustentar a recuperação da economia.
“Com a situação tão saudável que a Europa está a experimentar, não faz sentido ter taxas de juro [de depósitos] tão negativas,” considera Luzárraga, referindo-se às taxas de depósito que atualmente estão em -0,4%. No calendário da gestora de ativos espera-se que os juros na Zona Euro voltem a subir a partir do princípio de 2019, mas a um ritmo mais lento do que nos EUA.
Nesta que é a maior economia mundial, as condições económicas estão a ser beneficiadas também pelo contributo da reforma fiscal de Donald Trump, que cria uma “bonança económica no curto prazo”. Com os atuais níveis de desemprego e crescimento – apesar de um arranque de ano dececionante para o consumo, responsável por 70% do PIB – ainda há espaço para não sofrer uma recessão nos EUA, prognostica.
Há no entanto avisos no horizonte. A “guerra comercial” entre os Estados Unidos e a China, com a imposição de tarifas aduaneiras à importação de alguns produtos, pode vir a afetar algum crescimento. Mas “não será uma guerra total,” antecipa aquele especialista.
E se o protecionismo poderá resultar em algum crescimento adicional para os EUA – estimulando a produção interna -, também deve beneficiar os países emergentes, que podem aproveitar o ambiente de confronto entre as duas maiores economias globais para conquistar quota de mercado, defende. Além disso, a estabilização dos preços das matérias-primas e o ciclo de debilidade do dólar deverá criar condições para estabilidade da inflação e do crescimento destes países.
Nas ações, as estimativas atuais do J.P. Morgan Asset Management apontam para que os lucros das constituintes do mais transversal índice de ações norte-americano, o S&P500, cresçam este ano entre 17% e 18%, arrastados pela reforma fiscal e pelo dólar mais fraco. A acontecer, seria o valor mais elevado desde 2010. No europeu MSCI Europe antecipa uma subida de 8% dos lucros, com o efeito BCE a contribuir positivamente.
Miguel Luzárraga dá nota ainda da elevada liquidez das empresas, que melhora a sua capacidade de pagar dívida, mas também de recompra de ações. E apesar da volatilidade do início do ano, espera que 2018 venha a ser um bom ano para os mercados: “Temos de estar preparados para episódios de volatilidade, temos de olhar para o longo prazo. Nos últimos 38 anos, 30 terminaram positivos,” afirma.
O JP Morgan Asset Management geria, no final do ano passado, ativos avaliados em 1,7 biliões de dólares (cerca de 1,4 biliões de euros à cotação atual).