A atual queda dos preços do petróleo, com efeitos nebulosos para a economia angolana, poderá vir a introduzir, em 2015, um novo paradigma nas relações económicas entre Angola e Portugal, pondo fim ao espaço de emoções.
Tudo começou, aliás, a esfriar ainda em 2012, quando o Estado angolano decidiu virar as costas a novos investimentos em Portugal.
E ao longo de 2014, em Angola, esse distanciamento acentuou-se de tal modo que, no domínio da construção civil e obras públicas, nenhuma empreiteira portuguesa de nomeada ganhou um só grande concurso público…
Em presença das dificuldades de tesouraria que Angola já está a viver, as importações portuguesas, que representavam em finais do ano passado 2,6 mil milhões de euros, deverão, em 2015, sofrer também uma significativa redução.
Uma fonte do Conselho de Ministros revelou à EXAME que “Angola não pode continuar a ser o centro de acolhimento de produtos portugueses como água mineral, sumos, refrigerantes ou cervejas”, que devem passar a ser uma prioridade na cadeia de produção nacional.
As autoridades angolanas não escondem, nesta ótica, o seu desejo de ver revertido o desequilíbrio existente entre aquilo que os portugueses trazem para Angola e o que levam para Portugal…
“O agravamento das taxas aduaneiras como forma de incentivar a produção nacional e a adoção de medidas de política monetária e cambial por via de uma eventual desvalorização do kuanza vão também desencorajar o recurso à importação desses produtos”, disse à EXAME o engenheiro Galvão Branco, especialista em gestão empresarial.
Mas não é só neste domínio que, no próximo ano, as portas em Angola poderão vir a ficar cada vez menos abertas para a economia portuguesa.
Com a retração imposta à contratação pública de novas obras, estima-se que em 2015 muitas empreiteiras portuguesas com projetos ancorados em recursos do Estado venham a ser também fortemente penalizadas.
Para alguns analistas, no quadro desta nova estratégia das autoridades de Luanda, as PME angolanas e as empresas da China e do Brasil, suficientemente respaldadas pelas convenções financeiras estabelecidas com estes dois países, poderão vir a dispor de maior espaço de intervenção na economia angolana.
Mas essa inflexão na política angolana em relação a Lisboa não fica por aqui. Depois da redução da presença portuguesa no BESA, alguns observadores preveem ainda que em 2015 venha a acentuar-se igualmente a perda de influência lusa no setor financeiro em Angola.
O gradual distanciamento de Luanda em relação à Portugal poderá, no entanto, não derivar apenas de problemas conjunturais.
Essa atitude é defendida por algumas franjas do poder político em Angola como sendo também uma resposta “ao menor respeito” que certos círculos portugueses vêm manifestando em relação ao investimento feito em Portugal por algumas figuras de proa do regime e por empresários locais.
“Angola tenderá a ter um modelo de relação com Portugal semelhante àquele que o Brasil mantém com Portugal…”, disse à EXAME um banqueiro angolano.
Este artigo é parte integrante da edição de janeiro da revista EXAME