Já foi alguma vez a Nova Iorque? Em afirmativo, recorda a sensação de frio no estômago ao aterrar na Grande Maçã? Aquele frenesim ao atravessar a ponte que nos leva a Manhattan, o insaciável desejo de palmilhar ruas e avenidas, de entrar nos edifícios mais emblemáticos, de subir ao Empire Sate Building, de passear em Central Park, de fazer a High Line e de visitar o terraço do Standart, aproveitando todos os minutos da grande aventura?
Ora bem, com o sexo oral é a mesma coisa. Ou, como se diz em terras do Tio Sam, that’s the spirit, porque tal prática é, antes de mais, decorrente de um determinado estado de espírito. Se é para fingir que faz, então mais vale assumir o desinteresse do que espalhar-se ao comprido num ato falhado. No sexo, tudo o que é executado, ou é com prazer e pelo prazer, ou então é certo e sabido que não vai correr – nem escorrer – bem. E isto aplica-se a ambas as partes de uma relação, seja qual for o género ou a orientação sexual.
Eu sei que há mulheres e homens que não são fãs da modalidade, mas para estes casos lembro que a primeira vez que se prova azeitonas quase ninguém gosta. Só depois, quando se ganha o gosto, e então aí é um a-ver-se-te-avias. O mesmo acontece com picante, ostras, iguarias exóticas e até champanhe. O gosto educa-se e o paladar também.
Longe de se tratar de uma ciência exata, acredito que a combinação de talento, técnica e devoção podem conjugar-se numa alquimia notável. E se o talento não tem culpa nem mérito pois nasce com cada um, já a técnica é uma competência que se adquire, resultado da observação, da prática e de humildade. Quem tem boca vai a Roma, por isso, em caso de desconhecimento ou de dúvida, pergunte ao seu parceiro de ringue como é que ele gosta mais. E se ele responder gosto de todas as maneiras, isso quer dizer que é um homem e que está a dizer a verdade. O mesmo deve fazer o elemento masculino: indagar, ir experimentando aqui e ali, desta ou daquela maneira. Seja criativo, avance sem medo, de mãos dadas com a ousadia e a imaginação e acredito que, das duas uma; ou ela fica feliz, ou ela fica muito feliz.
Seja ousada, malandra, desinibida, estique a corda, avance pelo arame sem receio, porque ele não a vai deixar cair. Mergulhe sem medo e vá o fundo da questão. Comece com calma, como quem aprende a andar de bicicleta sem rodinhas, o oposto do motor de um Ferrrari que chega aos 100 km à hora em menos de sete segundos. Lembre-se que o tempo não respeita o que é feito sem ele, portanto demore-se, nada de pressas nem de atropelos. Devagar se vai ao longe e, às vezes, quanto mais devagar, mais longe. Seja atenciosa, meiga, use a língua e as mãos, os olhos e a respiração, use a imaginação e pense que aquele momento irrepetível poderá ficar para sempre na memória do seu amor, qual campanha da Kodak do tempo das fotos impressas em papel, para mais tarde recordar. Uma coisa é certa, um homem é sempre mais feliz e anda sempre mais bem-disposto com uma pregadeira na lapela do que sem ela.
Acompanhe o meu raciocínio: o seu marido/namorado/companheiro/caso/ ou o que for sai cedo de casa, trabalha como um louco, corre contra o tempo, salta de reunião em reunião, muitas vezes sem tempo para almoçar, atura um chefe prepotente e colegas idiotas, todos sabemos que ninguém tem uma vida fácil. No final do dia, mete-se no carro ou no metro e vai finalmente para casa, a caminho do sossego do lar, sonhando com o descanso do guerreiro. Merece ou não ser bem tratado?
Seria útil às mulheres perceberem que dar prazer, desde que não seja sob nenhuma forma de coação, não é sinónimo de submissão, pelo contrário, pode mesmo tornar-se numa forma de poder. E que a prática do sexo oral nada tem de abjeto. Vale mais encarnar a Gueixa Ocidental em casa e ser professora de matemática no secundário do que armar-se em Setôra doméstica. No ringue mandam os dois e as aulas são só de química. Avançada, de preferência.
O prazer é assim mesmo, para dar sem vender, para partilhar sem ninguém saber, para usufruir até cair para o lado, se for caso disso. Não se acanhe, arrisque e petisque, dê tudo por tudo e vença todas a barreiras até cortar a meta e colocar o seu par no Nirvana a flutuar. Saber dar é uma virtude e não se esqueça que o erotismo atrai, mas a virtude agarra. Dar tudo até ao fim, sem medo, com a confiança e a certeza dos grandes heróis.
Dos fracos não reza a história, cantemos alto nossa vitória.