O primeiro-ministro reagiu às insinuações de Rui Rio, que sugeriu que António Costa pode ter sido “conivente” com a operação de encobrimento dos assaltantes dos paióis nacionais de Tancos. Numa declaração aos jornalistas, depois de uma ação de campanha, em Lisboa, o líder socialista Costa partiu para o contra-ataque: “Ainda há dois dia ouvi – todos os portugueses ouviram – o doutor Rui Rio dizer que tinha como princípio fundamental não fazer julgamentos na praça pública”. Depois, Rio deixou a sugestão no ar, e Costa declarou: “Eu não mudo de princípios fundamentais de dois em dois dias.”
Numa declaração em que não houve margem para perguntas, António Costa disse que o líder do PSD “atingiu a dignidade desta campanha eleitoral” ao aproveitar o despacho de acusação do Ministério Público, no caso do assalto aos Paióis Nacionais de Tancos para sugerir que, das duas, uma: ou Costa sabia da operação ou “temos um Governo em que os ministros não informam o primeiro-ministro de tudo aquilo que é importante do seu ministério” e, por isso, falta-lhe “autoridade” para chefiar um Executivo. Em qualquer dos casos, as hipóteses são “muito más”, declarou Rio, em conferência de imprensa, neste quinto dia de campanha.
Costa nem queria tomar posição sobre o caso (pelo menos, ainda não). Mas, no final de um encontro com responsáveis de startups, em que falou sobre inovação, e depois de reunir informalmente um pequeno grupo de responsáveis políticos da sua confiança que assistiam ao evento – Duarte Cordeiro (membro da direção de campanha), Francisco André (chefe de gabinete de Costa), Mariana Vieira da Silva (do núcleo político mais restrito do primeiro-ministro), entre outros –, o líder socialista decidiu deixar dois recados ao seu principal adversário político.
“Primeiro, não é aos 58 anos que lhe reconheço autoridade para fazer julgamentos morais sobre a minha atitude política”, arrancou Costa; “segundo, ainda há dois dia ouvi – todos os portugueses ouviram – o doutor Rui Rio dizer que tinha como princípio fundamental não fazer julgamentos na praça pública”. A tomada de posição viria logo a seguir: “Eu não mudo de princípios fundamentais de dois em dois dias.”
O primeiro-ministro ainda voltou a recuperar a ideia de que à justiça e à política deve ficar reservado o que a cada um dos campos cabe, sem misturas. Mas ainda havia outra mensagem para o social-democrata. “Temo que tenha desiludido muitos que entendiam o doutor Rui Rio como uma pessoa de princípios que não mudam de dois em dois dias.”
A Procuradoria-geral da República deu conta, esta quinta-feira, de que tinha concluído o despacho de acusação no processo em que se investigou o assalto aos Paióis Nacionais de Tancos e a operação de recuperação das armas furtadas. Entre os 23 acusados consta o nome de José Azeredo Lopes, ex-ministro da Defesa de António Costa. Mas nada – como o eventual conhecimento dos contornos da operação – é imputado ao primeiro-ministro ou a qualquer outro membro do Governo. Ainda assim, Rio deu o passo em frente e arrastou o chefe de Governo para o caso, ao considerar “pouco crível” que Costa não soubesse do plano montado pela Polícia Judiciária Militar para recuperar as armas e aceder à exigência de um dos assaltantes de que não seria incriminado, caso colaborasse com a investigação paralela.
Costa lembra agora que Rio “tinha a estrita obrigação de saber” que o primeiro-ministro respondeu “por escrito a todas as questões que a comissão parlamentar de inquérito tinha a fazer sobre este caso”, e onde se conclui que nada havia a apontar a Costa. Além disso, acrescenta, o líder do PSD “devia também saber que, ao longo deste dois anos”, o Ministério Público não lhe colocou “qualquer questão e que, se tivesse alguma dúvida” sobre o seu comportamento, “tê-lo-ia feito”.
O secretário-geral do PS garante não se ter sentido atingido pelas declarações de Rio. Mas acusa os efeitos da tomada de posição de Rui Rio. “Infelizmente, atingiu a dignidade desta campanha eleitoral”.