Através da técnica CRISPR-Cas9, o “corta e cola” genético que permite fazer alterações específicas e precisas ao ADN de organismos vivos, um grupo de cientistas do Imperial College London conseguiu eliminar uma população de mosquitos transmissores de malária.
O alvo foi o gene que determina o género da espécie Anopheles gambiae, e, depois de oito gerações de mosquitos, os investigadores concluíram que 100% da população tinha sido afetada: As fêmeas com duas cópias do gene modificado mostraram-se incapazes da reprodução e também não desenvolveram a probóscide que a espécie usa para picar os humanos.
“Este avanço mostra que a genética dirigida pode funcionar, proporcionando esperança na luta contra uma doença que atormenta a humanidade há séculos”, comenta o professor italiano de parasitologia molecular, Andrea Crisanti, autor do estudo, publicado na semana passada na Nature Biotechnology.
Ao contrário do que tinha acontecido em experiências anteiores, desta vez, os mosquitos não desenvolveram resistência à mutação introduzida.
O próximo passo será agora testar a mesma tecnologia num ambiente que simule o tropical, o natural para esta espécie. Testes na natureza só dentro de “pelo menos de cinco a dez anos”, lê-se no comunicado.
A malária afetou mais de 200 milhões de pessoas e matou quase 450 mil em todo o mundo em 2016, mas a notícia do sucesso da experiência do Imperial College está a encontrar alguma resistência na comunidade científica.
“Há riscos ecológicos de manipular e remover populações naturais, como destruir redes alimentares e mudar o comportamento de doenças, bem como os riscos sociais de perturbar a agricultura e permitir novas armas”, considera Jim Thomson, do ETC Group, uma ONG que monitoriza o efeito das novas tecnologias.
Catherine Hill, professora de Entomologia da Universidade norte-americana de Purdue, ouvida pela CNN, também se mostra cautelosa: “Estamos muito interessados em proteger a saúde humana, mas, ao mesmo tempo, em proteger o ambiente.”
Também Donald Yee, da Universidade de Southern Mississippi, antecipa “dores de crescimento e resultados inesperados”.
Os investigadores envolvidos no novo estudo sublinham que o seu alvo não é a totalidade dos mosquitos mas apenas a pequena fração que transmite doenças potencialmente fatais aos humanos.