Ter um discurso longo, no qual se utiliza o dobro das palavras necessárias e se demora muito tempo para encontrar os termos corretos pode ser um sinal prévio do desenvolvimento de demência e de Alzheimer. Esta descoberta mostra que, através da deteção de alterações discursivas, é possível prever se alguém está em risco de vir a sofrer destas doenças.
Num estudo que envolveu 46 adultos, uma equipa de investigadores do hospital Massachusetts General, em Boston, liderados por Janet Cohen Sherman, pediu aos participantes que completassem tarefas simples como, por exemplo, que construir uma frase com três palavras: fogão, água e panela.
Como resultado, os autores do estudo verificaram que, dos 46, 24 adultos, considerados saudáveis, conseguiram formar uma frase precisa, enquanto os restantes 22, que tinham um Défice Cognitivo Ligeiro (DCL) – uma condição médica que implica a perda de capacidades cognitivas numa proporção maior do que o esperado –, tiveram mais dificuldades.
“Uma diferença significativa que verificámos foi o comprimento médio do enunciado, isto é, quantas palavras foram usadas pelos participantes com DCL face às utilizadas pelos saudáveis, mais velhos”, disse Janet Cohen Sherman, durante uma apresentação no encontro anual da American Association for the Advancement of Science, em Boston.
Durante o teste, as pessoas com DCL tenderam a perder-se durante a formação da frase e tiveram mais dificuldade em lembrarem-se das três palavras e em interligá-las.
Para exemplificar, a diretora do Centro de Psicologia do Massachusetts General Hospital utilizou um caso de um estudo anterior, que comparava os discursos dos antigos presidentes dos EUA Ronald Reagan e George H. W. Bush. Enquanto o primeiro começou a dar sinais de um declínio cognitivo, evidenciado pelas repetições de palavras e frases, pela dificuldade em utilizar as palavras só uma vez e pela utilização de palavras mais simples, Geroge Bush não. Depois de deixar a presidência, Ronald Reagan foi diagnosticado com Alzheimer.
“Um dos maiores desafios que temos agora em termos de doença de Alzheimer é detetar alterações precoces, quando ainda são muito subtis, e distingui-las de mudanças que já sabemos que ocorrem com o envelhecimento natural”, acrescentou a investigadora. Nos próximos cinco anos, Sherman pretende desenvolver um método para detetar mudanças precoces que podem ser sinais da doença de Alzheimer.