Faça-se um exercício: uma família gasta nos seus banhos mensais um frasco grande de gel. Se deixar de o fazer agora, trocando-o por um simples sabonete embrulhado em papel, ao fim de um ano terão sido utilizadas menos doze embalagens de plástico só naquela casa. Se a esta família se juntarem mais 999 – e ainda só estamos perante 0,01% da população portuguesa –, a poupança será de 12 mil frascos em apenas 365 dias. Já é alguma coisa.
Uma sondagem recente do Eurobarómetro apurou que mais de 75% dos europeus estão preocupados com a degradação da Natureza e a sustentabilidade do planeta. São essas mesmas pessoas que não sabem muito bem o que fazer para acabar com essa preocupação, ajudando a melhorar o ambiente. É importante avisá-las de que não vale a pena tentar agir de empreitada – qualquer passo, por pequeno e isolado que seja, pode mesmo resultar num avanço na melhoria das condições.
Ângela Morgado, diretora da Associação Natureza Portugal, reconhece que qualquer mudança no sentido de um comportamento mais sustentável é fundamental, mas há duas que são mais urgentes. “Em primeiro lugar, refiro a poupança de água: estamos a usar recursos que já não temos.” E, depois, a transição para uma dieta mais sustentável, pois a forma como estamos a comer tem enorme impacto nas alterações climáticas e na degradação da Natureza. “Devemos deixar de comer tantas vezes carne, substituindo-a por mais vegetais.”
O momento de mudar é agora. E que tal começar já? Se ainda precisar de ajuda, depois de ler este texto, pode pensar num desafio ecológico e inscrever-se em wearedonation.com – a equipa vai assegurar-se de que o leva até ao fim.
Diga não ao plástico de uso único
Por ano, em Portugal, produzem-se quase 370 toneladas de plástico, uma média de 31 quilos por pessoa, valor que se situa acima da média europeia. Quarenta por cento desse valor deriva de embalagens e 22,5% de bens de uso doméstico e de consumo. Por isso, torna-se fácil diminuí-lo.
1. Rejeite palhinhas e outros descartáveis, como palhetas para mexer o café ou copos e garrafas de água. Opte por uma garrafa duradoura que vai enchendo nos bebedouros ou cafés.
2. Por instinto, diríamos que um saco de pano, reutilizável, é melhor do que um de plástico. No entanto, se nos focarmos apenas nos impactos ambientais da produção dos sacos, pode não ser assim. Um estudo dinamarquês concluiu que um saco de pano tem de ser reutilizado 7 100 vezes, para compensar. Mas, se a nossa preocupação é o plástico nos oceanos, o melhor será optar por sacos de pano e utilizá-los sempre, seja para transportar as compras, seja para pesar a fruta e os legumes.
3. Prefira a venda a granel, para evitar as embalagens. Hoje, esses locais são fáceis de descobrir, mas se tiver dúvidas, procure em agranel.pt.
4. Adira ao movimento Julho sem Plásticos, em plasticfreejuly.org.
Lá por ser de papel, não é para abusar
Nos EUA, cada habitante gasta uma média de 215 quilos de papel por ano. Algumas medidas, simples, podem diminuir esse gasto em todo o mundo.
5. Por princípio, não imprima nada. Se tiver mesmo de fazê-lo, use as duas faces da folha.
6. Quando não puder reutilizar mais o papel, coloque-o no ecoponto azul.
7. Não use copos de papel para o café – têm um forro de plástico quase invisível, o que significa que não podem ser reciclados.
8. Não embrulhe presentes ou então reutilize o mesmo papel em várias ocasiões. A maior parte do papel de embrulho, por conter plástico, películas metalizadas, fita-cola ou glitter, não pode ser reciclado.
O último, que apague a luz
Em casa ou no escritório, há gestos que parecem insignificantes, que podem fazer a diferença nos nossos gastos energéticos totais.
9. Não deixe nenhum eletrodoméstico com a luz vermelha acesa. Segundo se lê no livro 12 Pequenos Gestos para Salvar o Planeta, “até um televisor com eficiência energética, que fique em stand-by o ano inteiro, consome tanto de eletricidade quanto uma lâmpada que fique acesa um dia e meio.”
10. Depois de carregar os seus aparelhos eletrónicos, tire a ficha da tomada; se assim não for, continuará a consumir eletricidade e recursos naturais usados para fabricar essa eletricidade.
Pense na água como um bem precioso
Como alerta Ângela Morgado, da Associação Natureza Portugal, o País está a ser afetado por escassez hídrica, que é um problema estrutural, bem diferente de uma seca, que vai e vem. A água é um bem escasso. E, apesar de 70% ser usada na agricultura, há que começar por fazer a diferença em casa.
11. Desligue bem a água enquanto escova os dentes. Uma torneira a correr representa um desperdício de seis litros por minuto.
12. Os banhos devem ser rápidos e, mesmo assim, sem a água ligada sempre que se ensaboa ou lava a cabeça.
13. Enquanto a água do banho aquece, ponha um balde debaixo da torneira. Depois, use-a para despejar a retrete ou regar as plantas.
14. Se não tiver um autoclismo de dupla descarga, use uma garrafa de litro e meio para ocupar espaço na cisterna, que assim puxará menos água.
Menos carne, se faz favor
A produção alimentar é responsável por cerca de 30% das emissões de gases com efeito de estufa. Especialmente, a criação de gado (incluindo a indústria de laticínios) porque emite metano.
15. Reduza a quantidade de carne que come, mudando para uma dieta mais verde, baseada em legumes.
16. Compre produtos locais, frescos e da época, de preferência no comércio tradicional.
17. Não leve mais do que precisa, nem cozinhe grandes quantidades, para travar o desperdício alimentar no final da cadeia.
18. Evite produtos processadose embalados.
A moda quer-se verde
Quando pensa em salvar o planeta nem se lembra de que a roupa que veste tem, invariavelmente, uma enorme pegada, pois não? No entanto, ela consome recursos para ser produzida, além de ser poluente no seu fabrico e sempre que a lavamos.
19. Escolha roupa sem fibras, como poliésteres. Quando é lavado, este tipo de peças larga microplásticos que acabam no mar e representam um enorme problema ambiental. Para evitá-lo, compre um saco para proteger a roupa sintética no momento da lavagem.
20. Encha bem o tambor da máquina, ponha a temperatura o mais baixo possível e não use máquina de secar.
21. Da próxima vez que for às compras, pergunte-se se precisa mesmo de mais uma peça lá em casa. Se a resposta for “sim”, espreite uma loja ou feira de roupa em segunda mão.
22. Reutilize a roupa que já não quer, transformando-a em outras peças, dando a quem mais precisa ou reciclando-a. Sabendo que o mundo deita fora quatro quintos de roupa todos os anos, não vai querer contribuir para essa montanha.
Mexa-se, o planeta também agradece
De acordo com a Agência Internacional de Energia, os meios de transporte são responsáveis por quase um quarto das emissões de gases com efeito de estufa, gerados pela queima de combustíveis fósseis.
23. Sempre que conseguir, pare o carro e faça o percurso a pé ou de bicicleta. Além de ajudar o planeta, faz-lhe bem à saúde.
24. Se o trajeto for longo para caminhar ou pedalar, então equacione os transportes públicos, mais eficazes porque utilizam menos energia por pessoa.
25. Se o carro for inevitável, pelo menos não ande a acelerar, ligue o ar condicionado apenas quando vai a maior velocidade, e retire a tralha que lá tem dentro para consumir menos combustível. Um veículo elétrico é a opção mais ecológica.
26. Da próxima vez que estiver à porta do elevador para se movimentar dentro de um prédio, opte pelas escadas. E, sempre que conseguir, convença mais alguém a ir consigo.
Faça menos lixo
A produção de lixo é um dos problemas mais graves. E reciclar não é a solução, mas o final de uma sucessão de erros que evitam a acumulação de resíduos.
27. Para que não entre em sua casa algo desnecessário, não aceite compulsivamente tudo aquilo que se lhe atravessa no caminho, mesmo que seja gratuito.
28. Pense no que realmente lhe faz falta, para reduzir o seu consumo. E não deite para o lixo o que acha que já não quer – doe a quem possa ser útil.
29. Dê uma vida mais longa a tudo o que não consegue recusar ou reduzir, optando por artigos com preocupações ambientais.
30. É importante saber reciclar, colocando os resíduos inevitáveis (e o mais espalmados possível) nos ecopontos corretos.
Pense no ambiente na hora da toillette
Hoje já é possível deixar o plástico e outros poluentes de fora da casa de banho. Alguns artigos até podem sair caros, mas a longo prazo verificará que são mais duráveis, os ingredientes de melhor qualidade e as pessoas que os produzem foram pagas de forma justa.
31. Deixe de usar champôs em frasco: de cada vez que eles acabam, é mais um resíduo plástico que se acumula no lixo lá de casa. Passe para a versão sólida, sem embalagem. E remate com amaciador, do mesmo tipo.
32. Os desodorizantes descartáveis também ficam à porta. Há muitas opções ecológicas, desde a pedra de alúmen a desodorizantes sem embalagem ou em tubos de cartão compostável.
33. Já é tempo de trocar as escovas de plástico pelas de bambu (algumas cerdas não se reciclam, mas o resto é biodegradável), as pastas tradicionais pelas sólidas e os cotonetes pelas suas versões ecológicas (algodão, bambu, madeira).
34. As mulheres gastam cerca de 17 mil produtos descartáveis durante o seu período fértil, mas podem passar a usar o copo menstrual em vez de tampões e os pensos reutilizáveis para substituir os de uso único.
Quando o lixo cabe num frasquinho
Este é o frasco no qual Ana Milhazes acumula todos os resíduos a que não consegue dar melhor fim. A sua vida minimalista tem como objetivo aproximar-se do “lixo zero”
Em 2016, Ana Milhazes, 34 anos, tornou-se embaixadora do movimento Lixo Zero Portugal, altura em que optou por ser mais minimalista, rejeitando o consumismo. Recusar, aliás, passou a ser o seu primeiro pensamento para evitar o gasto desnecessário de recursos. E agora passa a vida a dizer que não: não quer copo descartável, palhinha, guardanapo de papel, saco de plástico. “É preciso andar sempre com o botão ligado. No início é difícil sair do hábito, mas rapidamente se entra na rotina. Só exige maior planificação.”
Hoje, é com orgulho que ostenta o frasquinho de um quarto de litro, onde guarda todo o lixo que não conseguiu reciclar no último ano: lentes de contacto, etiquetas de roupa, autocolantes das malas, cerdas das escovas de dentes, pulseiras de festivais.
De resto, anda com um kit de talheres, guardanapo, pauzinhos, garrafa de água e palhinha de metal, compra quase tudo em segunda mão, não anda de avião, as contas são todas enviadas por email, faz os próprios detergentes com bicarbonato e vinagre, toma banhos rápidos e de água fria e ainda reaproveita algum desperdício para regar as plantas. O seu maior pecado ambiental, confessa, é conduzir, pois vive em Gaia e dá aulas de ioga no Porto. “Há alguns percursos em que ainda tenho de usar o carro, mas tento sempre rentabilizar essas deslocações.”
Uma vida cada vez mais verde
Aos poucos, Catarina tem vindo a deixar os bens supérfluos e os artigos descartáveis – postura que a desviou de vez da arquitetura para uma loja online de produtos sustentáveis
Sempre que o detergente da roupa acaba, Catarina Matos, 31 anos, vai a pé até à loja Green Beans, no Chiado, e por €6,5 enche um frasco de litro com o cheiroso líquido ecológico para meter na máquina. Este é apenas um dos muitos comportamentos que aproximam a dona da loja online Mind The Trash de uma vida mais verde. O seu dia a dia está cheio deles. Anda sempre com um guardanapo de pano na mala – aliás, foi por aqui que começou quando, há quatro anos, decidiu mudar de postura ambiental. Também carrega consigo uma garrafa de água, que vai enchendo por aí (nunca mais comprou uma de plástico, orgulha-se). E, claro, tem sacos de pano à mão para qualquer compra que faça.
Na sua casa de banho não entram plásticos: as escovas de dentes são de bambu e usa pasta em frasco de vidro, que depois reutiliza nos workshops que organiza. O champô é sólido, só se lava com sabonete e o desodorizante não tem embalagem. Já não usa tampões ou pensos higiénicos descartáveis, pois trocou-os pelo copo menstrual e a versão reutilizável dos pensos. “Nas últimas décadas, criaram-nos necessidades que não são reais, por isso há que deixar de ser tão consumista e reaproveitar tudo o que temos em casa. Considero que ainda existem muitos passos a dar, como deixar completamente de comer carne.”