A fama de Portugal ser um aluno exemplar, bem comportado, vem do tempo da adesão à CEE, em 1986. Na altura, a frase, do então presidente Jacques Delors, foi um grande elogio ao país pobre e recém-chegado à família europeia. Os portugueses interiorizaram o conceito e quando Pedro Passos Coelho (eleito primeiro-ministro em 2011, ano em que Portugal pede ajuda internacional para não entrar em bancarrota) sugere a emigração a quem não tem emprego, os portugueses acatam.
As taxas de emigração de portugueses voltaram a atingir níveis históricos. E como se não bastasse terem atingido os valores registados no final dos anos 60 do século XX (altura em que saíam de Portugal mais de 100 mil portugueses ao ano), para os responsáveis do último relatório do Observatório da Emigração, hoje tornado público, ainda há a perceção de que “é improvável, nos próximos anos, uma redução da emigração para os níveis anteriores à crise”.
Portugal, com os seus 2,3 milhões de emigrantes, pode ser apenas o 27º país de emigração do mundo (os recordistas são a Índia, com 15,6 milhões de emigrados, o México, com 12,3 milhões, e a Federação Russa, com 10,6 milhões). No entanto, o retângulo não deixa de ter um lugar de destaque, quando analisado em contexto europeu: se retirarmos Malta da equação (a ilha do Mediterrâneo tem pouco mais do que 400 mil habitantes, entrando na categoria à parte de países com menos de um milhão de habitantes), Portugal é “o país da União Europeia com mais emigrantes, em proporção da população residente”.
Para onde vão os portugueses? “Dos 23 países de destino para onde se dirigem mais emigrantes portugueses 14 são europeus. E entre os 10 principais só dois se localizam noutro continente, o africano: Angola e Moçambique.”
Desde a grande vaga de emigração das décadas de 60 e 70 que a França, com mais de meio milhão de portugueses (eram 606 897 em 2013), lidera a tabela de países do mundo com maior número de emigrados com nacionalidade lusa. É lá que se concentra a maior fatia de portugueses, fora de Portugal: ao todo, correspondem a 62% do número total de emigrantes, tal como a comunidade portuguesa é a maior, no grupo de imigrantes residentes em França. No entanto, na contabilidade anual, as saídas para aquele país do centro da Europa vinha diminuindo com o passar dos anos. Rui Pena Pires, responsável pelo relatório, não quer deixar em claro que “em 2015, saíram para França 18 mil portugueses” o que, olhando para os números, quer dizer que se deu uma inversão de tendência. As saídas para França voltaram a subir e aquele “voltou a ser um destino importante” para os portugueses que estão de saída.
A tendência pode ter mudado, mas ainda não o suficiente para regressar ao topo da tabela. Nos últimos ano, desde a crise do subprime, mais concretamente, “as saídas para Espanha diminuíram e as saídas para o Reino Unido aumentaram” realça Pena Pires. A partir de 2011, as ilhas britânicas têm-se mantido como principal destino da emigração portuguesa – e o recetor da maior fatia de qualificados. “um terço da emigração portuguesa para o Reino Unido tem pelo menos o ensino superior”.
Contas feitas, emigraram, para as ilhas de Sua Majestade, 32 mil portugueses, em 2015. Seguem-se, como principais destinos, a França (18 mil, em 2013), a Suíça (12 mil, em 2015) e a Alemanha (9 mil, em 2015). “Relevante”, para Pena Pires, “é que pelo segundo ano consecutivo, a emigração para Espanha está a subir”, o que indica que, passada a fase mais negra da crise (que afetou muito a área da construção) “pode voltar a crescer.”
Fora do velho continente, é para a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) que os portugueses olham, quando decidem deixar o País. Antes de todos os outros, e apesar da crise, emigram para Angola (7 mil, em 2015). Depois, escolhem Moçambique (4 mil, em 2013) e Brasil (mil em 2015).
Portugal continua a ser, portanto, um país de emigrantes. E de imigrantes, será? De acordo com o relatório não. Em contraste com os dados da emigração, Portugal “é um dos países com uma percentagem de imigrantes na população residente abaixo da média dos países da UE (8% se considerarmos os retornados nascidos na ex-colónias, menos de 6% sem estes)”. A conjugação destes dois fatores (alta emigração e baixa imigração), em termos acumulados, situa Portugal no conjunto dos países europeus de repulsão, onde se encontram também a Lituânia, Roménia, Bulgária e Polónia (que substituiu a Eslováquia que, de 2010 para cá, melhorou a sua posição relativa).