O CEO do Grupo Lena convocou esta sexta-feira uma conferência de imprensa relâmpago, num hotel de Lisboa, para desmentir “total e completamente” a manchete da edição do Correio da Manhã que horas antes chegara às bancas. “Nenhuma das declarações que na notícia me são atribuídas entre aspas é verdadeira”, disse Joaquim Paulo da Conceição. “Nunca as pensaria, quanto mais as afirmaria. Inventaram declarações que jamais proferi.”
A notícia do Correio da Manhã (CM) sustenta que o CEO do Grupo Lena, num depoimento que prestou, em fins de junho último, no DCIAP (Departamento Central de Investigação e Ação Penal), “abriu o livro”, com revelações bombásticas que constarão do volume 75 do processo da Operação Marquês. “O Grupo Lena desenvolveu contactos, através de Carlos Santos Silva, de forma a procurar obter o apoio do poder político”, diz o CM que Joaquim Paulo da Conceição afirmou ao procurador Rosário Teixeira, que conduz o processo em que o ex-primeiro-ministro José Sócrates é o principal arguido. O CEO do Lena terá depois ido bem mais longe, segundo o CM: confessou a Rosário Teixeira que “o apoio fazia-se através de José Sócrates e eram realizados pagamentos para este último”. Joaquim Paulo da Conceição terá até entregado ao procurador, de acordo com o jornal, “provas de comissões pagas ao ex-governante”.
São estas as afirmações que o CEO do Grupo Lena diz que o CM “inventou”, sem procurar o contraditório, que teria “estragado a manchete”. Na conferência de imprensa, considerou a notícia “absurda e caluniosa”, e a “invenção” das suas supostas declarações ao procurador Rosário Teixeira “um crime público que não pode ficar impune”.
Joaquim Paulo da Conceição também negou “categoricamente” o “favorecimento” do Grupo Lena durante os Governos de José Sócrates. “Não tivemos um tratamento diferente do que foi dado a muitas outras empresas, no âmbito da diplomacia económica.”
Garantiu que o grupo e ele próprio se sentem “completamente à vontade” perante o processo da Operação Marquês. E disse ainda acreditar na inocência de Joaquim Barroca, vice-presidente do Lena, e um dos 18 arguidos do caso. “Nunca estranhei os contactos entre Carlos Santos Silva e o nosso vice-presidente; eles têm uma amizade com mais de 30 anos”, acrescentou, a propósito.
Além de intentar “mais uma ação judicial” contra o CM, o grupo começou esta sexta-feira a “identificar todos os prejuízos causados” por notícias daquele jornal ao Lena. Joaquim Paulo da Conceição prometeu divulgar publicamente a verba que for apurada para “ressarcimento”. Mas estima-a em “milhões e milhões de euros”.
A conferência de imprensa foi também marcada por ‘gritos de alma’ do CEO da holding. “O julgamento e a condenação na praça pública têm tornado a vida do grupo num inferno”, desabafou. Agora, exclamou, é tempo de dizer “basta!”
Ainda assim, Joaquim Paulo da Conceição confessou, entre o sarcástico e o sério, que vai verificar se não há qualquer falha nos seus impostos do ano passado.
GRUPO ALEGA CONFUSÃO ENTRE SUSPEITAS E DECLARAÇÕES DO CEO
Um responsável da assessoria jurídica da comissão executiva do Grupo Lena garantiu à VISÃO que a notícia da polémica tem na base um erro do CM.
De acordo com essa fonte, o jornal fez a confusão de considerar como declarações de Joaquim Paulo da Conceição o elenco de imputações que o Ministério Público (MP) atribui ao Grupo Lena, e que serviram para enquadrar a inquirição do CEO da holding (na qualidade de testemunha e não enquanto arguido, como escreveu o CM).
Assegura a mesma fonte que o depoimento de Joaquim Paulo da Conceição apenas surge, na documentação do volume 75, após aquele relato de suspeitas do MP, as quais, diz, foram rebatidas, uma por uma, pelo CEO do Lena.
Contactado pela VISÃO, o jornalista Eduardo Dâmaso, um dos autores da controversa notícia, limitou-se a dizer que, na edição de amanhã, sábado, 17, o CM irá “esclarecer tudo”.