O nome técnico é “escabiose”, as autoridades gostam de lhe chamar “infestação por ácaros”, mas as campainhas de alarme só soam quando se ouve a expressão “sarna”.
Os pais com filhos nas escolas dos concelhos de Cascais e Oeiras estão alarmados com o surto que começou a dar que falar depois de afetar cerca de 30 alunos na escola Pereira Coutinho, em Cascais. Seguiu-se Alenquer, Oeiras e Parede, onde ainda esta semana os encarregados de educação reuniram com uma delegada de saúde pública. Ainda assim, os especialistas consideram a situação normal, e típica desta época do ano em climas temperados como o português.
Contactada pela VISÃO, a Administração Regional de Saúde (ARS) de Lisboa e Vale do Tejo confirmou que “nos últimos meses têm surgido vários casos em estabelecimentos escolares”, mas recusou divulgar o número de situações detetadas.
Embora a doença seja contagiosa, não tem qualquer perigo, uma vez que se manifesta como uma alergia de pele. Mas, seja pela associação histórica a pobreza, ou pela forma como se passa a doença, através dos dejetos dos ácaros, continua a ser ligada a falta de higiene. Nada mais errado, garantiu à VISÃO o médico de saúde pública Mário Jorge Santos. “Todos os anos acontece. São ácaros que resistem bem a água e sabão, por isso ser muito limpo não protege contra a doença. A sarna não escolhe meios sociais”.
A ARS esclareceu que “a escabiose é transmitida pelo contacto cutâneo directo prolongado com uma pessoa parasitada, contacto sexual ou pelo contacto da pele com as roupas de cama, toalhas, objectos pessoais de pessoas infestadas”.
Verdadeira é a fama da “sarna para se coçar”. Embora possa variar com a sensibilidade alérgica de cada um, a comichão e reação cutânea contra o ácaro (o parasita vive, alimenta-se e reproduz-se na nossa pele), os ovos e as fezes é a parte mais incomodativa da doença.
Mais do que tomar muitos banhos, alerta Mário Jorge Santos, importa apostar na intervenção sincronizada “em todas as casas e em simultâneo”, lavando roupas pessoais e de cama a 60 graus. Objetos que não possam ser lavados devem, como aconselha a ARS, “ser mantidos em sacos plásticos bem fechados durante 14 dias antes de usá-los novamente”.
Ao contrário do que alguns pais exigem, “não há qualquer benefício em fechar escolas”, advoga Mário Jorge Santos, para quem a transmissão é mais elevada em casa. “Se ficarem na escola controlamos melhor o surto”.
Depois do tratamento, à base de loções, a sensação de comichão pode prolongar-se por várias semanas. Mas essa é mesmo a pior das notícias que vem com a sarna.