Os utentes sem médico de família atribuído atingiam, em 28 de outubro passado, a cifra de 1 063 410 pessoas, segundo dados oficiais do Ministério da Saúde, apurou a VISÃO. Esse número representa 10,6% da população inscrita.
O Algarve é a região mais carenciada, com 23,5% da população sem médico de família. Logo a seguir vem Lisboa e Vale do Tejo, com 19,7 por cento. Mas as assimetrias fazem com que, em cada uma dessas regiões, haja Agrupamentos de Centros de Saúde (ACES) com défices especialmente preocupantes.
Por exemplo, diz Rui Nogueira, presidente da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar (APMGF), no ACES do Barlavento algarvio “há um terço da população inscrita sem médico de família, o que é gritante”. E nos ACES do Estuário do Tejo, Arrábida, Sintra e Amadora a situação é também de grande carência: cerca de um quarto da população inscrita não tem médico de família.
Em geral, estima Rui Nogueira, faltam cerca de 700 médicos de família no País, 500 dos quais na região de Lisboa e Vale do Tejo.
Boas notícias para 2016
Para variar, o próximo ano trará algumas soluções. A formação de novos médicos de família, por exemplo, tem evoluído de forma significativa. Em 2016, aliás, haverá um número recorde de médicos a terminar a especialidade de medicina familiar – mais de 400. E nos anos seguintes esses contingentes de novos médicos serão ainda maiores.
“A falta de médicos de família tende a estar resolvida nos próximos dois anos”, diz o presidente da APMGF, embora na região de Lisboa e Vale do Tejo alguns défices possam subsistir.
Por isso, Rui Nogueira defende que as entradas nas escolas médicas já deveriam ter começado a decrescer. “É uma irresponsabilidade política o que está a acontecer, com o exagerado ingresso de alunos nas faculdades”, afirma. “Não possuímos capacidade formativa para tantos alunos e o problema da falta de médicos está em vias de resolução com os que temos em formação.”
A APMGF já pediu uma audiência ao atual ministro da tutela, Adalberto Campos Fernandes, e o primeiro ponto da agenda da associação prender-se-á com a reativação da reforma dos cuidados primários, abruptamente interrompida pelo anterior Executivo, quanto à constituição e desenvolvimento de novas Unidades de Saúde Familiar (USF), que dão boa resposta à pretendida medicina de proximidade.