1| Madeira
Protegendo a fauna
Os madeirenses chamam-lhe lobo-marinho e encontraram-no, pela primeira vez, no século XV, na zona costeira a oeste do Funchal, hoje conhecida por Câmara de Lobos. Na altura, o número de animais era abundante, e o facto de serem alvo de caçadas, por causa da sua pele e do seu óleo, não causava estranheza a ninguém.
Séculos após século, caçada após caçada, e alguns incidentes com redes de arrasto depois, começaram a ser notórios os efeitos nefastos sobre a população de foca-monge-do-mediterrâneo (nome científico: Mocachuas monachus) que, nos anos 80, ficou reduzida a pouco mais de meia-dúzia de indivíduos.
Da Madeira, o pequeno grupo deslocalizou-se para as paragens mais calmas das Ilhas Desertas, a 22 milhas náuticas do Funchal, e por aí ficou até que foi criada, com o apoio de fundos europeus, uma estação de observação daquele mamífero em vias de extinção.
O projeto incluiu, além do ponto de monitorização, a contratação de vigilantes, a recuperação de animais doentes, a proibição do uso de redes e o apoio financeiro a pescadores que optassem por formas de pesca mais amigas da foca-monge.
Esta boa prática serviu de base para a elaboração do plano de ação para a comunidade atlântica da foca-monge e permitiu que, no ano 2014, houvesse já entre 35 e 40 lobos-marinhos na Reserva Natural das Ilhas Desertas.
Em 1998, noutra ilha – a do Corvo, nos Açores -, um grupo de habitantes decidiu criar a Reserva Voluntária do Caneiro dos Meros, na tentativa de proteger a fauna marítima local. Desde então, as contas mostram que houve um aumento significativo de meros e de outras espécies de peixe, além de ter havido um estreitamento das relações mergulhador/animal.
O que a economia local perdeu em atividades extrativas naquele local ganhou em centros de mergulho, passeios de barco e birdwatching.
2 | Portimão
Um parque bem escondido
O Algarve já estava na rota turística pelas suas praias exclusivas e pelo clima mediterrânico. Em 2012, entrou também para o roteiro dos exploradores submarinos que, nalguns casos, correm mundo à procura do mergulho perfeito.
No parque Ocean Revival, ao largo do Alvor (Portimão), a água nem sempre é límpida, um dos barcos acabou por partir-se durante a fase de instalação e há um acelerado processo de assoreamento em curso, mas as maravilhas submersas continuam a atrair mergulhadores e espécies marinhas.
Dinamizado pela empresa Subnauta, o recife artificial é composto por quatro navios afundados a uma profundidade entre os 15 e os 32 metros, a três milhas da costa. O último habitante daquelas profundezas é o antigo navio oceanográfico Almeida Carvalho – os outros são o navio patrulha Zambeze, a fragata Hermenegildo Capelo e a corveta Oliveira e Carmo.
Desde que abriu, em 2012, o Ocean Revival aceita visitantes, mas também tem colonos. Os primeiros são os mergulhadores, nacionais e estrangeiros, que descem ao fundo do mar, em aventuras de 30 ou 40 minutos, para observar os pormenores dos navios, das messes às casas das máquinas. Os segundos são as espécies marinhas que se foram aproximando dos barcos e aí criando raízes.
Entre as mais de 20 espécies já identificadas, num contributo importante para a biodiversidade da zona, há polvos, sargos, safios, bogas, choupas ou peixes-lua. Se a curiosidade apertar, o site oceanrevival.pt tem vídeos e fotografias que permitem antecipar esta possível aventura subaquática.
3 | Sudoeste
O futuro está nas ciclovias
Nos últimos 15 anos, e sobretudo desde que começaram a ser implementados os POOC (Planos de Ordenamento da Orla Costeira), Portugal tem feito grandes progressos na proteção da sua costa.
Barbicachos urbanísticos como o caso das três Torres de Ofir, mesmo em cima da praia, ou as casas abarracadas das ilhas-barreira, no Algarve, são hoje muito mais improváveis. À beira-mar, os empreendimentos de betão começam a ser substituídos por outras estruturas, menos rígidas, como os passadiços de madeira ou as ciclovias. Estes caminhos promovem a reconciliação das populações com as zonas ribeirinhas e, ao mesmo tempo, são um segredo de proteção da orla costeira que começa a estender-se pelo País.
O Polis do Litoral Sudoeste é um bom exemplo de uma operação de requalificação e valorização de zonas de risco, junto ao mar. E inclui um investimento em redes cicláveis superior a oito milhões de euros. Ao todo, serão 250 quilómetros de ecovias com vários pontos de apoio ao longo da costa e uma aplicação para tablets e smartphones. Algumas delas acompanham estradas existentes, pretendendo funcionar como alternativas viáveis de mobilidade sustentável. Outras ligarão as praias a pontos de interesse, situados um pouco mais no interior.
Em Tavira, Portimão, Faro, Gaia, Matosinhos, Porto, Figueira da Foz, Nazaré, Foz do Arelho, Cascais, Oeiras, Almada e muitas outras zonas ribeirinhas já há percursos cicláveis.
4 | Cascais
Oceano mais transparente
O sistema de georreferenciação e inventariação da biodiversidade marinha nacional, conhecido como M@rBis, vai na sua sexta edição e continua a mapear as profundezas do Oceano Atlântico, junto à costa portuguesa.
Este ano, o estudo recairá sobre o eixo Lisboa – Oeiras – Cascais e os mergulhadores, biólogos marinhos, professores, estudantes, especialistas em identificação de flora e fauna e profissionais da imagem terão como quartel-general o navio de treino de mar Creoula e o veleiro Blaus VII, da Escola Naval. A missão dura onze dias, entre 25 de maio e 5 de junho.
Além de todo o conhecimento científico que tem sido possível acumular nestas campanhas, também há um arquivo fotográfico único, que representa as várias facetas do fundo do mar português, da autoria do campeão brasileiro de fotografia subaquática Áthila Bertoncini. Áthila acompanha as missões da M@rbis desde 2012.
5| Arrábida
Tesouros das águas da serra
No prolongamento do Parque Natural da Arrábida, no sentido do mar, há um tesouro escondido que liga, por baixo de água, a praia da Figueirinha (em Setúbal) à praia da Foz (para lá do Cabo Espichel). São bancos de areia alternados com grandes rochas, recifes naturais, grutas submersas ou parcialmente submersas e mais de mil espécies de peixes e plantas.
O Parque Marinho Professor Luiz Saldanha tem 53 quilómetros quadrados de área e profundidade variável (chega a atingir os 100 metros) e desempenha um importante papel na proteção da zona em que o rio Sado se encontra com o Oceano Atlântico. A pesca é restrita, o que gerou muitos conflitos com a população piscatória local no final dos anos 90, mas permitiu que a vida subaquática se desenvolvesse com fausto.
Além dos tradicionais sargos, tainhas, fanecas, chocos e polvos, ainda é possível encontrar por ali golfinhos-roazes a passear com as suas crias – o habitat destes mamíferos é o Estuário do Sado e a zona costeira adjacente, onde se inclui o parque Luiz Saldanha.
Os roazes são abrangidos por um programa de proteção específico, o Projeto Delfim, que desde 1992 tenta combater a redução da população residente, nomeadamente através da monitorização e da sensibilização e educação ambiental.
6 | Aveiro
O clima e as praias
Um grupo de investigadores, coordenados por André Vizinho, do projeto Climate Change Impacts Adaptation and Modelling, está a estudar a costa de Ílhavo e Vagos com vista a minimizar o impacto das alterações climáticas nas praias daquela região e promover medidas de adaptação ao clima futuro.
A apresentação dos resultados do projeto BASE (Bottom Up Adaptation Strategies Towards a Sustainable Europe) está marcada só para 25 de junho, mas a VISÃO sabe que as propostas de intervenção naquela zona preveem quatro medidas: alimentação artificial de areias; reforço do cordão dunar; obras de proteção da rotura do cordão do Labrego; e quebra-mar submerso artificial.
Esta estratégia foi desenhada com a participação de autarquias, associações de moradores, surfistas, associações de defesa do ambiente, pescadores e outras instituições e agentes do território, e é dada como um exemplo a seguir nas zonas costeiras que querem ter uma visão de longo prazo para a adaptação às alterações climáticas.
Na prática, acontece em Aveiro o mesmo que noutras regiões do País. A linha da costa, muito dinâmica, vai recuando e avançando dependendo da quantidade de areia que chega dos rios ao mar. Com a construção de barragens em Portugal e em Espanha, muitos sedimentos ficam presos nas represas, causando a redução da linha da costa, acentuada também pela construção de zonas urbanas demasiado perto da praia.
E menos areia significa mais mar.
Refira-se ainda que os cenários mais conservadores descritos em relatórios recentes sobre alterações climáticas apontam para uma subida do nível médio do mar de 68 cm até 2100. É caso para se ir pensando em seguir o exemplo de Aveiro.
7 | Carcavelos
Salvem esta onda
A história não é nova, mas é digna de ser recordada como um bom exemplo de preservação da orla costeira portuguesa.
Em 2005, quando António Capucho era presidente da Câmara de Cascais e se preparava para levar a cabo o projeto de requalificação da praia de Carcavelos, a associação de surfistas SOS – Save Our Surf uniu-se para salvar uma onda. O autarca acabou por desistir da ideia de construir dois esporões curvos que iam combater a carência de areia na praia, mas que teriam como consequência a redução em 30% do tamanho da ondulação, diziam os desportistas, que ainda propuseram a criação de recifes artificiais para melhorar as ondas existentes.
O grupo SOS não morreu ali. Nove anos depois, em 2014, regressou à contestação contra o Plano de Pormenor do Espaço de Reestruturação Urbanística de Carcavelos Sul e contra a implantação de várias urbanizações com torres até sete andares nos espaços verdes junto à Marginal.
O vídeo Carcavelos, as praias também se abatem, do realizador Hélio Valentim, foi feito no âmbito da SOS para demonstrar os inconvenientes deste projeto urbanístico que, de acordo com a autarquia, pode representar 20 milhões de euros em contrapartidas. Apesar da pressão da associação, o plano ainda se mantém.
8 | Costa da Caparica
Plantando dunas
As dunas são a primeira barreira de proteção do litoral. São naturais e flexíveis, resistem à ação erosiva dos ventos e ondas e ainda dão guarida a distintas espécies animais e vegetais.
A pressão urbanística é uma das principais causas de destruição das dunas, e as praias de São João, na Costa da Caparica, são disso exemplo.
Nos últimos anos, entre invernos rigorosos e intervenções humanas, o areal da Caparica recuou 14 metros, de acordo com a Câmara de Almada, o que foi suficiente para soarem as campainhas de alarme. Assim nasceu o projeto ReDuna, destinado a recuperar e restaurar o sistema dunar entre a Cova do Vapor e o INATEL.
Iniciado em outubro de 2014 com apoios comunitários, o ReDuna implicou medidas aparentemente simples que já estão a dar resultados, como a construção de passadiços sobre-elevados, a plantação de espécies nativas e a instalação de paliçadas de vime. Em poucos meses, as dunas já cresceram 70 centímetros, nas contas da Câmara, que espera evolução idêntica até ao inverno.
9 | Vale do Lobo
Iniciativa privada, benefícios públicos
Não foi uma iniciativa totalmente privada, mas os donos do empreendimento Vale do Lobo, no Algarve, contribuíram financeiramente para resolver um problema que estava a tornar-se num pesadelo para os visitantes e, sobretudo, para os moradores. O areal entre a praia da Quarteira e a península do Ancão estava a recuar tão rapidamente (23 metros em dez anos) que já havia uma piscina e algumas vivendas em risco. As arribas são altas, mas a ação do mar é forte.
A alimentação artificial da praia foi a solução defendida pelas autoridades e cofinanciada pelos privados que eram parte interessada na resolução do problema.
10 | Esposende
Um dia as casas vêm abaixo
A lista de bons exemplos não podia deixar de fora as demolições na orla costeira. O ministro do Ambiente e do Ordenamento do Território, Jorge Moreira da Silva, anunciou que durante o ano de 2014 seria atingido o número de 835 instalações ilegais demolidas na costa e destinou uma verba de 16,6 milhões de euros para o projeto.
As casas a destruir foram identificadas ao longo de todo o litoral, com especial preponderância para as ilhas-barreira, no Algarve, mas foi em Esposende que tudo começou. As primeiras 27 habitações a desaparecer estavam edificadas na praia de S. Bartolomeu do Mar e muitas corriam risco de derrocada.
Nesta zona, está agora projetado um troço da ecovia que ligará Esposende a Caminha, além da reabilitação do cordão dunar e da requalificação da frente marítima.