Acima da boca de cena, encontram-se três caixas de luz que se vão acendendo ao longo do espetáculo – à vez ou em simultâneo. Nelas está escrito: “Rir”, “Emoção”, “Aplaudir”. E há um animador a entreter o público, enquanto a atuação em palco não começa, com anedotas secas e explicações sobre a mecânica do espetáculo. Depois de Fausto, uma sátira sobre as tricas e os malabarismos para conseguir produzir um espetáculo e de Dinh€iro, em que a série televisiva Dallas foi transposta para o contexto teatral, a Mala Voadora apresenta agora Mon€y, uma nova incursão sobre dinheiro e o cruzamento de formatos.
“A Deborah Pearson [dramaturga, produtora, artista, autora do texto de Mon€y] fez uma residência connosco e um dos primeiros textos que escreveu foi sobre as dificuldades em lidar com o dinheiro”, conta Jorge Andrade, da Mala Voadora. Deborah, que em 2014 apresentou na Culturgest a peça O Espetáculo do Futuro, propõe agora um desfasamento das lógicas narrativas em relação aos espaços em que são apresentadas. Mon€y simula um estúdio de gravação de uma sitcom, em que estão a ser gravados dois episódios da série, com público a assistir. Televisão e teatro diluem-se. “Eu vejo ali uma certa alienação pateta, eles ali a fazerem aquela sitcom. Todas aquelas piadas… É muito ridículo. Quem pensa um bocadinho sobre a vida é tido como o bobo da corte, o filósofo, e o que interessa são os emojis”, explica Jorge Andrade. “Acho que esta peça é sobre o que é isto de comunicarmos, de sairmos da caverna de Platão e vermos a realidade tal como ela é, aceitarmos que estamos aqui todos a jogar um jogo fictício. A proposta que a Deborah nos faz começa por ser a de pensarmos na não existência do dinheiro. Para a sitcom correr às mil maravilhas, ele nunca é mencionado.” Isso acontece no primeiro episódio. No segundo, quando é mencionado, passa a ser o cabo dos trabalhos.
Mon€y > Teatro Nacional D. Maria II > Pç. D. Pedro IV, Lisboa > T. 21 325 0800 > até 3 nov, qua e sáb 19h30, qui-sex 21h30, dom 16h30 > €11