Em 2006 foi o Cliente, agora é o Dealer. Em 2006 era apenas ator na peça de Bernard-Marie Koltès, Na Solidão dos Campos de Algodão, agora é também o encenador. Treze anos depois de o estrear na Culturgest sob a direção de Philip Boulay, Diogo Dória está de regresso a um texto de um dos seus autores de teatro preferidos e leva-o à cena na Casa de Teatro de Sintra até domingo, dia 20.
“Se anda cá por fora, a esta hora e neste lugar, é porque deseja alguma coisa que não tem, e essa coisa posso eu fornecê-la”, começa por dizer o Dealer. Esta história, passada entre um dealer e um cliente, é acerca de um negócio – que nunca se faz. O Cliente acaba por nunca explicitar o que deseja, o Dealer acaba por nunca revelar o que tem para vender, apesar de ambos falarem muito sobre as possibilidades. Trata-se de um diálogo feito de longos monólogos. “Ter interpretado os dois papéis deu-me mais consciência da enorme diferença entre eles. O Cliente era nitidamente o papel com que o autor se identificava”, refere Diogo Dória. “Têm uma construção, até na própria escrita, muito diferente. E eu achei interessante experimentar o outro lado e trabalhar com o André [Loubet].”
Na opinião de Dória, um dos desafios do texto é precisamente o facto de apresentar dois discursos muito diferentes: um mais poético, o do Cliente, e o outro mais clássico. Um segundo desafio é não ter ação. “As ações são interiores. Tudo se passa dentro da cabeça de um e de outro. Cada um é porta-voz de si próprio”, explica. “O texto é ambíguo a vários níveis. É talvez isso que aproxima Koltès de outros [grandes] autores contemporâneos, todos eles consideram que a clareza da narrativa não expressa o mundo onde vivemos. [São textos que] atingem o inominável.”
Na Solidão dos Campos de Algodão > Casa de Teatro de Sintra > R. Veiga da Cunha, 20, Sintra > T. 219 233 719 > Até 20 out, qui-sáb 21h30, dom 16h > €7,50