Há um momento mágico em que manipulador e objeto manipulado se tornam unos ao olhar do público. Ao longo de 30 anos do Festival Internacional de Marionetas do Porto (FIMP), esse efeito de encantamento repetiu-se múltiplas vezes, com recurso a inesgotáveis fórmulas técnicas, plásticas, estéticas e de interpretação. Dos mestres bonecreiros portugueses às propostas mais experimentais, assim se construirá o programa desta edição celebratória, com espetáculos que refletem algumas das grandes questões da atualidade. Há estreias absolutas, como A Paz de Aristófanes, do Teatro de Marionetas do Porto, a dar largas ao discurso pacifista do clássico grego, e nacionais, como Solace, em que a berlinense Uta Gebert, neste regresso ao festival, “explora a capacidade humana de sobreviver a catástrofes, guerras, exílio e traumas diários”.
Pela primeira vez no Porto, graças à persistência de Igor Gandra, diretor artístico do FIMP, está o Blind Summit Theatre, com The Table, cuja protagonista é uma rabugenta e igualmente sedutora marioneta de cabeça de cartão a contar a saga de Moisés e, ao mesmo tempo, a divagar sobre a sua condição. Desconcertante e com um humor muito particular é a performance da dupla belga Robbert&Frank Frank&Robbert, Don’t We Deserve Grand Human Projects That Give Us Meaning?, com uma imagética cuidada, entre o branco imaculado do palco e as cores primárias dos objetos e dos figurinos. Mais poética será a proposta da canadiana Magali Chouinard, Nomad Soul, inspirada nas espiritualidades indígenas do Quebeque, sobre a viagem interior de uma mulher. Quanto às estreias absolutas, refira-se ainda Alecrim vs Manjerona, do Jangada Teatro, a partir do clássico de António José da Silva e, para assinalar o trigésimo aniversário do FIMP, Happy Birthday 30+30, uma coprodução com o Balleteatro, também a celebrar, em 2019, 30 anos de existência. Uma festa que promete.