O desafio comporta os seus riscos: escolher um novo texto de um autor (também ele um monólogo mas agora no feminino) que deixou marca num dos maiores sucessos do Teatro Meridional, O Sr. Ibrahim e as Flores do Corão, interpretado de forma brilhante por Miguel Seabra a partir de 2012. Desta vez, o texto de Éric-Emmanuel Schmitt chama-se Kiki van Beethoven, é interpretado por Teresa Faria, com direção de Natália Luiza, e fala sobre uma mulher de 60 e tal anos que revisita a sua vida e os seus fantasmas, depois de encontrar uma máscara de Beethoven numa feira da ladra.
“É um autor de uma comunicação profundamente direta. As personagens têm vitalidade e um ponto de vista sobre as coisas. Schmitt invoca pessoas que nós conseguimos visualizar, construir, que são muito de carne e osso. É um autor que não tem medo de abordar as coisas que doem, histórias de vida muito complexas – e aborda-as tanto com leveza como com profundidade”, explica Natália Luiza. A linha é a da tragicomédia e no monólogo a personagem, Cristina, evoca três amigas que vivem com ela numa residência sénior. “Através da máscara, Cristina e as amigas acabam por regressar à capacidade que tinham, na sua infância, de escutar e de olhar para as coisas. Essas coisas convocavam o que não estava lá. Hoje vivemos de estímulos [tecnológicos], não somos capazes de imaginar nem de escutar. Este texto tem, também, que ver com a rapidez e o desassossego em que vivemos.”
A música de Beethoven, esse humanista que ensurdeceu e continuou a compor, desempenha aqui uma função terapêutica. “A música tem essa capacidade de nos conduzir aos nossos centros emocionais. Não há nada que vá mais direto ao cérebro do que a música”, acrescenta a encenadora. Podemos ouvir excertos de obras como Fidelio, Sonata Patética, Adagio Cantabile ou das Sinfonias 4, 5 e 9.
Kiki van Beethoven > Teatro Meridional > R. do Açúcar, 64, Lisboa > T. 91 999 1213 > 13 set-13 out > qua-sáb 21h30, dom 17h > €10