Não sabemos quão especial terá sido a experiência de Brian De Palma em Cannes, onde apresentou Mulher Fatal, para que, 17 anos depois, tenha imaginado e filmado um demolidor ataque terrorista naquele cenário. Mas sabemos que, para espanto de alguns, este Dominó não foi selecionado para nenhuma das categorias do festival francês… Não fosse o diabo tecê-las. De Palma gostaria de ser visto como um herdeiro de Hitchcock, mas nunca conseguiu sequer aproximar-se desse estatuto. Isso não quer dizer que os seus filmes não tenham pontos de interesse nem consigam produzir níveis razoáveis de adrenalina ou suspense…
Dominó destaca-se, sobretudo, pela forma algo rebuscada com que a intriga se cose. É um thriller focado no momento presente, que eventualmente ganharia ainda mais atualidade se tivesse chegado um ou dois anos antes. Decorre, em simultâneo, uma história pessoal de uma dupla de agentes da polícia de Copenhaga, determinada a vingar o assassinato de um parceiro por um alegado elemento do Estado Islâmico, e uma intriga global, de um agente da CIA disposto a tudo, com os métodos mais abusivos, para deter um dos mais perigosos elementos do grupo terrorista. As duas ações cruzam-se e quase se atropelam.
Ao mesmo tempo que quer dar um contexto de realidade forte, De Palma coloca os ingredientes de ação a um nível implausível, galgando os clichês dos filmes do género, como é flagrante na cena de perseguição pelo beiral do telhado logo no início do filme. Pontualmente, há alguns aspetos perspicazes. A cena de Cannes é especialmente bem conseguida na forma como nos faz crer que a terrorista se transforma numa espécie de boneca telecomandada pelo líder que lhe dá ordens, como num jogo de computador. De resto, chega a ser estranho como é que algo com um potencial tão forte e delicado, como um imaginado atentado no mais importante festival de cinema europeu, é tratado de forma tão displicente e secundária no argumento. O clímax dá-se numa praça de touros em Espanha, que, por algum estranho motivo, a produção não se deu sequer ao trabalho de encher. Ali, percebemos que a estratégia do grupo terrorista é tão tosca e primária quanto a dos polícias que o perseguem. O filme poderia recuperar o encanto dos filmes de série B… Só que se De Palma não é Hitchcock, também não é John Carpenter.
Apesar da cena passada em Cannes, nenhuma parte do filme foi rodada em França. Com produção dinamarquesa, Dominó foi filmado na Bélgica, na Holanda, em Itália, em Espanha e na Dinamarca.
Veja o trailer do filme:
Dominó, a Hora da Vingança > De Brian de Palma, com Nikolaj Coster-Waldau, Guy Pearce, Carice van Houten > 89 minutos